Por que não vale a pena tanta cobrança!


Maria Carolina Signorelli
por: Maria Carolina Signorelli
Psicóloga de crianças e adolescentes

No mês em que se comemora o nosso dia, nada mais justo do que dedicar esta coluna à mulheres tão especiais, entre as quais eu me incluo com orgulho: as mães!

Nós sempre ouvimos que um filho muda tudo, mas não temos como saber antecipadamente quanto esta experiência irá, de fato, mudar a nossa realidade. Lembro que quando minha primeira filha nasceu, senti um impacto e tanto na minha vida! Ao mesmo tempo em que eu amava alucinadamente aquele bebezinho, tudo era tão estranho, tão novo, tão complexo! A sensação que eu tinha era a de ter sido acometida por um tsunami! Eu me sentia “chacoalhada” e já não sabia mais me definir como pessoa…  Em meio a tantos sentimentos ambivalentes, a culpa reinava absoluta! Porém, pouco a pouco, meus questionamentos foram se acalmando e enquanto eu revia minhas prioridades, fui capaz de me reencontrar… Tudo foi se acomodando e pude ir compreendendo que a gente aprende a ser mãe, “simplesmente” sendo mãe…

Sempre digo que a maternidade foi um divisor de águas na minha vida, até na profissão. Acionei um novo “radar” e passei a me interessar cada vez mais pelos desafios cotidianos vivenciados pelas mulheres contemporâneas. O que chama muito a minha atenção é o desejo de dar conta de tudo, mas uma sensação de estar sempre em falta. Arrisco dizer que não conheço nenhuma mãe que não tenha, em algum momento do seu dia, esbarrado na culpa. E quando o assunto é culpa, a danada não nos deixa em paz! É culpa por ser pouco presente na vida dos filhos, ou culpa por se dedicar exclusivamente a eles. Culpa por não acordar feliz e disposta para amamentar o filho faminto no meio da madrugada. Culpa porque o filho tem poucos amigos, culpa porque o filho tem tido problemas pedagógicos. Culpa por não ter tirado a chupeta do filho no “momento adequado” (será que ele existe?) e agora ter que levá-lo ao ortodontista. Enfim, a lista de culpas é interminável!

Neste mundo em que temos acesso a tantas informações, muitas vezes elas carecem de sentido. O resultado? Muita informação e pouca reflexão. Vejo diariamente, dentro e fora do meu consultório, mulheres cobrando-se uma performance de super-heroínas: desejam ser super-profissionais, super-mães, super-cozinheiras, super-donas-de-casa, super-esposas, super-atletas…   No meio de tantas idealizações, muitas delas não conseguem ser “apenas” elas mesmas. Idealizam até, a não-culpa, esquecendo-se de que não dá para escolher os próprios sentimentos da mesma maneira que se escolhe a cor do esmalte na manicure.

O problema não é sentir culpa, mas sim o que fazer com ela. Toda mãe precisa compreender que não dá para dar conta de tudo. E nem precisa! O mais importante é estar em paz com as próprias escolhas e fazer o que é possível. Muitas vezes, a academia vai ficar para segundo plano, o requeijão vai faltar na geladeira. Você nem sempre vai arranjar tempo para fazer aquelas lembrancinhas magníficas que tanto queria para a festinha do seu filho, mas vai acabar achando uma solução viável. Acho que o segredo está em tornar-se capaz de encontrar o jeito singular de lidar com todas estas demandas. E quando nos damos conta, percebemos que fizemos muito! Pena que nem sempre conseguimos valorizar isso.

Conheço mães que são felizes trabalhando no mundo corporativo e, apesar de esbarrarem na inevitável culpa, são muito presentes na vida dos filhos. Conheço também, mulheres que deixaram a vida profissional de lado para se dedicarem ao cuidado dos filhos e nem por isso se tornaram “mães neuróticas” e esposas submissas aos seus maridos.

Os filhos, à medida que vão crescendo, vão aprendendo a valorizar as mães pelas pessoas únicas que são.

Quando minha filha tinha 3 anos, recordo-me que um dia, eu estava pegando a bolsa para ir ao trabalho. Já de saída, eu me sentia culpada por não ficar com ela, num período livre que ela tinha na semana. Ela estava deitada no sofá, assistindo TV e me chamou. Na minha fantasia, ela iria pedir para eu ficar. Mas para a minha surpresa, ela me deu um beijo e disse: “Tchau, mamãe! Divirta-se no consultório!”. Fiquei emocionada ao perceber que ela compreendia o quanto meu trabalho era importante para mim. E o interessante é que eu nunca tive o hábito de ficar verbalizando isto para ela. Ela percebeu sozinha, sem que eu tivesse de justificar minhas “ausências”.

Um grande beijo,

 

Carol

 

carol.signorelli@uol.com.br

  • Maria Carolina Signorelli

    Psicóloga e mãe de Gabriela e Fernando. Ou vice-versa! Atende crianças e adolescentes no consultório e é expert em orientar os pais em seus dilemas

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