Como criar memórias afetivas (e por que isso importa)


Caroline D'Essen
por: Caroline D'Essen
Mãe de duas, escritora e mentora dedicada a ajudar pais e líderes a transformarem suas vidas com aventura, amor e propósito

— Mãe, o que é festa junina?

A pergunta da minha filha de 7 anos me pegou de surpresa. Eu, na idade dela, contava os dias para poder colocar meu vestido caipira, arrumar o cabelo em duas tranças e deixar que minha mãe imprimisse o lápis de olho nas minhas bochechas, criando sardinhas artificiais. Com o chapéu de palha na cabeça, eu já imaginava, a caminho da escola, as gincanas com direito a prenda, a fogueira que se acenderia no final do dia, enquanto eu comia um delicioso arroz doce.

As festas juninas, que fazem parte da tradição das famílias brasileiras de forma orgânica, não são um evento óbvio para minha filha, nascida e criada na Alemanha – e isso me fez pensar na importância das tradições familiares (foto: arquivo pessoal)

Enquanto eu descrevia o cenário acima para minha filha, ela me olhava com curiosidade. Nascida e criada na Alemanha, a obviedade da maravilha das festas juninas não era tão óbvia para ela. Isso me fez refletir sobre a importância das tradições e seu papel na vida familiar.

Afinal, o que são tradições?

Quando eu era criança, domingo era dia de colocar as bicicletas dentro do carro e seguir até o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Eu e meu pai. Era um momento nosso. Pedalávamos uma volta inteira ao redor do lago e, sem falhar, parávamos na lanchonete para pedir um sorvete de chocolate da marca Chicabom. Era o nosso ritual, infalível, todos os domingos de manhã. Até hoje, essa lembrança aquece meu coração e acredito que, de alguma maneira, me ensinou a valorizar atividades ao ar livre, seguidas de uma boa recompensa.

Essa se tornou uma de nossas pequenas tradições familiares. As tradições familiares fazem isso: criam laços, fortalecem a identidade familiar, oferecem segurança emocional para crianças e adultos e se tornam deliciosas lembranças. Elas ajudam nossos filhos a entender o que valorizamos, compreender suas raízes e a se sentirem parte de algo maior.

Uma tradição pode ser algo tão simples quanto compartilhar regularmente uma refeição em família, e ainda trazer inúmeros benefícios. Segundo uma pesquisa da Universidade de Harvard, crianças que jantam com a família têm uma alimentação mais saudável, menor risco de obesidade, melhores resultados escolares, maior bem-estar emocional e mais diálogo com os parentes.

Qual é a sua tradição familiar?

Olhando para a família que construí, vejo que já temos nossas tradições, que nasceram de forma orgânica. Uma delas é criar playlists do ano que estamos vivendo. Cada membro da família pode adicionar músicas que o marcaram em determinado momento daquele ano. No final do ano, escutamos juntos e vamos relembrando juntos o que aconteceu no decorrer do ano. Outra tradição é o café da manhã de domingo, que requer alguns pequenos rituais, como buscar o pão fresquinho na padaria, arrumar a mesa com direito a um pote de Nutella, preparar ovos feitos à moda do avô paterno e colocar a trilha sonora com músicas que nossos pais costumavam ouvir quando tínhamos a idade das nossas filhas.

Vejo que já temos nossas tradições, que nasceram de forma orgânica. Uma delas é criar playlists do ano que estamos vivendo (foto: reprodução / arquivo pessoal)

Enquanto refletia sobre isso, percebi que, além dessas tradições orgânicas, existem outras tradições que ainda quero criar proativamente. Elas estão ligadas a valores importantes para mim e meu marido como gratidão, memória, e multiculturalismo. Na minha lista estão: 

  • uma celebração especial em um dia determinado do ano para lembrarmos dos amigos e familiares que já não estão aqui; 
  • escolher com minhas filhas, antes de dormir, ao menos uma coisa boa que aconteceu durante o dia; 
  • criar jantares temáticos (em que todos cozinhamos juntos) uma vez a cada três meses.

Que tal você também criar a sua tradição familiar? O primeiro passo é identificar os valores e interesses importantes para a sua família, começando por práticas simples e repetidas com consistência, como um jantar semanal ou uma celebração especial. O importante é que todos participem da escolha e ajudem a manter essa prática viva — assim, a tradição ganha um significado maior e todos se sentem parte dela. E aí, você já tem algumas ideias?

  • Caroline D'Essen

    Nascida em São Paulo, Caroline d’Essen vive em Berlim. Com uma trajetória marcada pela inquietude e curiosidade, ela deixou o Brasil aos 25 anos para explorar o desconhecido em Moçambique, onde viveu e trabalhou como professora universitária de jornalismo. Morou também em diversos países, como Austrália, Dinamarca, Holanda, EUA, Inglaterra e Portugal. Com mais de 15 anos de experiência no terceiro setor, hoje é escritora e mentora dedicada a ajudar pais e líderes a transformarem suas vidas com aventura, amor e propósito. Mãe de duas filhas, equilibra a vida familiar com a paixão por viagens e conexões humanas.

Data da postagem: 16 de junho de 2025

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