Férias escolares, família, trabalho e… caos?

A uma semana das férias escolares nos EUA onde moramos, eu confesso que, paralelamente à euforia de curtir o verão com as crianças, sinto bastante angústia. Serão quase três meses com três dos cinco filhos em casa o tempo todo. Esperando por atenção, passeios, entretenimento, atividades, energia. E eu não tenho nada disso sobrando atualmente. Nem grana para passeios caros, nem dias de férias no trabalho para tirar. Serão muitas e muitas semanas de jogo de cintura, criatividade, reuniões da biblioteca e calls da sorveteria enquanto tento (mais uma vez) conciliar filhos e carreira. 

Todo ano de junho a setembro, a história se repete. Chega a época com cheiro de protetor solar, casa cheia de barulho, bagunça e filhos pedindo “um snack” a cada 12 minutos.

O ritmo muda – e tudo muda com ele. Parte de mim ama não precisar sair correndo de manhã para não atrasar para a escola. Outra parte já sente falta da estrutura, do silêncio, do café sem interrupções. E, se você for como eu, tem uma parte ainda mais silenciosa aí dentro que sente um certo luto.

Não só pela perda dos blocos de trabalho profundo, mas por mais um ano letivo que passou. Mais um verão que chega e me lembra: eles não serão pequenos para sempre. Então, como equilibrar tudo isso – ambição, presença, sonhos e a rotina da família -, sem perder a cabeça no processo?

Eu acho que sei como. A gente constrói um novo ritmo. Um que respeita essa fase. Um que me inclui por inteiracomo mãe, como profissional, como mulher que não quer escolher entre um papel e outro.

As férias não são só uma troca de agenda, são uma recalibragem de identidade. Queremos estar presentes nos momentos espontâneos: os mergulhos, os passeios de bicicleta, as tardes preguiçosas. Mas também queremosmanter nossa conexão com o trabalho: nossos projetos, nossa voz, nosso ritmo.

Isso não é sobre culpa. É sobre desejo. Desejo de fazer os dois bem. De segurar os dois personagens com dignidade e alegria. 

Mas se você tentar manter o mesmo sistema que usava durante o ano letivo, vai acabar esgotada, frustrada ou desconectada (dos seus filhos e de você mesma). Então aqui vai um convite: reprograme. E monte seu “Sistema Operacional de Férias”.

• Recalibre seus blocos de foco. Esqueça os blocos de 3 horas. Use sprints de 60 minutos. Agrupe reuniões no mesmo dia para ter dias livres. Foque em 2 a 3 prioridades por semana, e só.

• Crie 2 rituais âncora no seu dia. Um com os filhos (ex: café da manhã juntos, leitura, caminhada). E um para encerrar o trabalho (ex: lista de amanhã, respiração, fechar abas, zera inbox). Ajuda emocionalmente a trocar de “chapéu” sem culpa.

• Defina metas de verão. Quais 2 ou 3 projetos realmente importam agora? Menos tarefas, mais clareza.

• Consolide energia, não só tarefas. Um dia para criar. Outro para reuniões. Outro para descanso. Honre sua energia. Honre sua concentração.

• Deixe a estação ensinar você. O que o verão (ou, no Brasil, o inverno) quer me mostrar esse ano? Flexibilidade? Paciência? Falar mais nãos? Falar menos nãos?

Ninguém opera em 100% o ano inteiro. E se até os atletas de elite usam as estações a seu favor, por que nós não faríamos o mesmo? Essa semana, tire 30 minutos para desenhar seu plano de férias:

1. Faça uma “faxina” na agenda: onde você está esperando rotina de ano letivo numa temporada que não entrega isso?

2. Escolha 2 ou 3 metas de verdade para esse período.

3. Crie seus rituais, um para a família, um para você.

4. Gerenciar bem seu tempo não é só sobre produtividade, é sobre honrar o ritmo da vida real.

E quando as coisas saírem do controle (porque vão), respire e lembre-se. Você não está atrasada. Você só está respondendo uma prioridade diferente. E é isso que líderes fazem.

Beijo grande,

Anna