Mudar para Portugal: a adaptação das crianças
No último artigo, contei como tomamos — e construímos em família — a decisão de mudar para Portugal com nossas duas filhas. Hoje, quero dividir um pouco de como foi, na prática, fazer as malas, atravessar fronteiras, aterrissar num novo país e apoiar o processo de adaptação das crianças. Espero que esta leitura inspire outras famílias em transição!
1- Rituais de despedida: fechando um ciclo com afeto
A decisão estava tomada, malas fechadas, caminhão da mudança enviado para Portugal. Mas como dizer adeus à Alemanha, país que foi casa a vida inteira das meninas? Perguntamos para elas: “O que não podia faltar nesse fechamento?” Assim nasceu uma grande festa de despedida em casa, uma lista carinhosa de “últimas vezes” em Berlim (incluindo a visita a um parque aquático favorito) e papéis de carta com nosso novo endereço de presente para as amigas. Rituais de despedida nos ajudaram a fechar um ciclo com afeto — e a levar boas memórias na bagagem.
2- Transformando a mudança em aventura
Para tornar a transição menos brusca, decidimos ir de carro e transformar a mudança numa pequena aventura. Foram duas semanas de estrada, cruzando fronteiras, conhecendo novas cidades e vendo paisagens se transformando a cada dia — tornando a mudança menos abrupta do que simplesmente pegar um voo e ver Berlim sumindo pela janelinha do avião. Esses dias juntos, sem pressa, já foram um novo capítulo da nossa história como família.
3- Chegada: encontrando o ritmo e um novo lar
Chegamos a Portugal uma semana antes do início das aulas. Esse tempo foi precioso: desfazer caixas, explorar a vizinhança, buscar os pequenos detalhes que transformam qualquer casa em lar. Mas o verdadeiro desafio veio com a volta às aulas: rotina diferente (agora de ônibus), colegas e cultura nova, uma língua para aprender e até diferentes sabores no prato. Houve dias de dúvida, de voltar para casa cabisbaixa. A sensação de estranhamento é normal — e reconhecer isso ajudou todas nós a termos mais paciência e compaixão.
4- Noite: O Momento das Pequenas Descobertas
Mantivemos uma prática antiga e valiosa: antes de dormir, cada uma diz três coisas boas e três coisas que poderiam ter sido melhores no dia. Através dessas conversas, percebo detalhes que fazem diferença — do lanchinho especial à tarefa feita em família, pequenos gestos que ajudam a criar pertencimento e segurança.
Pequenas práticas, grandes diferenças
Não foi fácil só “esperar passar”. Por isso, busquei agir para tornar essa transição mais leve:
- Me ofereci para ser representante de pais na nova escola. Isso abriu portas para entender a dinâmica local e criar vínculos com outras famílias.
- Reorganizei minha agenda para, a partir das 17h30, estar disponível e presente: fosse para conversar, cozinhar, brincar juntas ou simplesmente compartilhar silêncio no mesmo espaço.
- Incentivamos cada uma a escolher uma atividade: a mais velha seguiu nas acrobacias aéreas (um porto seguro conhecido), a mais nova experimentou teatro e abriu novas amizades além da sala de aula.
- Marquei encontros extracurriculares com amigas já próximas, criando novas redes de apoio.
Essas pequenas rotinas e ajustes têm nos ajudado a atravessar os desafios desses primeiros meses. Não foi (nem está sendo) um processo perfeito, mas percebemos que tempo, paciência e alguns cuidados diários vão tornando tudo mais leve. Se você também está vivendo um processo de mudança, lembre-se: cada família encontra suas próprias estratégias e rituais. Mas sempre vale buscar — e celebrar — cada pequena conquista no caminho.









