Você é mais linda do que pensa

A fotógrafa Jade Beall, assim como eu e você, não ficou nada contente com os quilos ganhos na gravidez. Mas, em vez de ficar triste, a mãe do pequeno Sequoia, de 14 meses, tomou uma atitude libertadora: publicou no Facebook uma série de autorretratos que fez com seu bebê, nua. A publicação, feita no ano passado, recebeu várias curtidas e a página de seu estúdio na rede social ganhou popularidade. Centenas de mulheres, então, escreveram para ela para elogiar e solicitar o serviço. Elas queriam se sentir lindas também, do jeito que são, com suas cicatrizes, celulites, estrias e pneuzinhos. As fotos e as histórias dessas mulheres, a maioria mães, deram início ao projeto A Beautiful Body (Um corpo bonito, em livre tradução), que se transformou em um livro recentemente. Com isso, Jade quer mostrar ao mundo que as mulheres estão se unindo para redefinir a palavra beleza e para exaltar umas as outras, provando o que o amor próprio é capaz de fazer por elas mesmas.
Mas sabemos muito bem que não é nada fácil recuperar a auto-estima depois da gestação. Além dos quilos a mais, com as novas atribuições da maternidade, falta tempo (e dinheiro também) para investir em academia, tratamentos de beleza e roupas novas, já que as antigas não vão servir por um tempo. E, até que as coisas se ajeitem, o que pode levar anos, ficamos nos sentindo feias. Para piorar, mulheres que fogem do padrão de beleza (inatingível) que a sociedade impõe são vistas como desleixadas.
Essa incapacidade de enxergar a própria beleza foi mostrada há pouco tempo em um comercial desconcertante da Dove. Nele, cinco mulheres têm de falar sobre as características do próprio rosto para um especialista em retratos-falados. Ele não consegue vê-las, pois há uma cortina que os separa. À medida que vão conversando, o ilustrador faz um desenho do rosto de cada uma de acordo com o que elas contam sobre si mesmas. Depois, uma terceira pessoa também descreve essas mulheres para o especialista, que faz novas ilustrações, com base no olhar dessa testemunha. No final, os dois retratos são colocados lado a lado. Obviamente, a descrição que as mulheres fizeram de si mesmas resultou em uma figura menos bonita – e menos parecida com elas do que a segunda versão.
Fiquei aqui me perguntando se o meu retrato-falado seria fiel a minha imagem, caso eu tivesse de me descrever. Como você se retrataria? Se até a capa da Vogue desse mês, com a modelo “cheinha” para a categoria, Kate Upton, mostra que chique é ter curvas, por que ainda não nos aceitamos? Afinal, o conjunto da obra (ser mãe, profissional, esposa, amiga e tantas outras coisas que fazemos tão bem, ao mesmo tempo e de salto alto!) não vale mais do que um corpo sarado? Não sei. Mas tudo isso me fez lembrar do livro O Mito da Beleza, da feminista Naomi Wolf, que apesar de ter sido escrito nos anos 90, continua atual. “A verdade é que, embora a publicidade promova o mito, ele não teria força se as mulheres não o impusessem umas contra as outras. A mais difícil e necessária mudança não virá dos homens, nem da mídia – e sim das mulheres, na maneira como nos vemos e nos comportamos em relação às outras.” Para isso, as fotos de Jane são um bom começo. Logo abaixo tem mais algumas que selecionei.
Um beijo,
Malu


