Um Balalum: um negócio em família que começou do (menos) zero e só cresce

A história da loja de bebês Um Balalum é uma prova de que é possível criar um negócio lucrativo não apenas do zero, mas do menos zero. Tudo começou com um casal de empreendedores que foram afetados em cheio pela pandemia. Sua estamparia artesanal parou de receber pedidos e, endividados, eles buscaram uma solução. Dentro de um apartamento, cuidando do filho pequeno, aprenderam e iniciaram um novo negócio. Depois de um ano de desafios, o faturamento da loja bateu a casa dos sete dígitos. Para entender melhor essa história inspiradora, conversamos com Camile Vergara, que ao lado de Marcelo, fundou a marca e tem dois filhos, o Fidel e a Carmela.
It Mãe Magazine: Como surgiu a ideia de criar a loja de roupas de bebês Um Balalum?
Camile Vergara: A Um Balalum tem duas histórias. Uma delas fala da origem do nome, que é lúdica, inspirada na fala do meu filho ao ver um balão e dizer: “Mãe, olha, um balalum!”. A outra conta como a empresa surgiu no contexto da pandemia, quando meu marido e eu precisamos repensar nossa vida profissional. Eu sou antropóloga e o Marcelo é sociólogo. Naquele momento, já não trabalhávamos mais em nossas áreas de formação. Tínhamos uma estamparia artesanal que prestava serviço para marcas de roupas infantis. Com a pandemia, a demanda pelo serviço parou.
It Mãe Magazine: Me conta sobre a transição de trabalhar com estamparia artesanal para criar a Um Balalum?
Camile: Precisamos reinventar a forma de ganhar dinheiro. Isso nos levou à ideia de montar um e-commerce e fazer aos nossos clientes a proposta de comercializar os produtos deles. Costumo dizer que não começamos do zero. Começamos de “menos zero”, pois estava complicada a situação. Fizemos tudo sozinhos. Buscamos cursos gratuitos que estavam sendo oferecidos online na época e fomos autodidatas. Fizemos um piloto de um site e apresentamos a proposta para as marcas. Elas tinham muita qualidade e, naquela época, não era tão forte o mercado de enxoval de bebês na internet. Essas marcas estavam com o estoque parado e não faziam venda direta para público no online. Conseguimos emplacar o dropshipping, que é o termo que se usa quando se intermedia a venda da mercadoria de um terceiro. Iniciamos a operação dentro do apartamento. A gente tirava fotos das roupinhas na mesa de jantar com luzes improvisadas, porque não havia verba, era impossível. Também tivemos que aprender a tirar nota fiscal, fazer contabilidade, registrar de produtos, fazer gestão de tráfego…
It Mãe Magazine: E o processo de crescimento da marca, como foi?
Camile: A loja virtual levou mais ou menos três meses para fazer a primeira venda. No quarto mês, já estava vendendo todo dia. No quinto mês, tinha dobrado o faturamento. Terminamos o primeiro ano da Um Balalum com um faturamento de um milhão. Essa escala tão progressiva foi algo que eu não imaginava. Claro, não foi mágica. A gente trabalhava das cinco da manhã às oito da noite diariamente.

It Mãe Magazine: O que fez a grande diferença para dar certo?
Camile: É importante você ter bons contatos, como esse que tínhamos com os fornecedores, e estabelecer bons acordos. Além disso, fazer um bom atendimento desde o princípio. O nosso sempre foi muito personalizado, porque logo percebemos que os poucos e-commerces que havia na internet naquele momento tinham um atendimento muito ruim. Eles usavam robôs que até hoje continuam sendo pouco humanizados. Se gente entende que é um e-commerce de roupa de bebê, a gente entende também que está lidando com a gestante, que geralmente está ansiosíssima para ver o seu pedido chegar. Também está lidando com avós, que estão começando a comprar online e muitas vezes não sabem como fazer. E ainda tem as dúvidas sobre o que comprar, o que o bebê vai mesmo usar… Fazíamos um atendimento tão humanizado, tão legal, que as pessoas enviavam para a gente as fotos dos bebês usando.
It Mãe Magazine: Depois veio fábrica de roupas de bebês. Em que momento surgiu essa necessidade?
Camile: Já tínhamos o know how da estamparia, mas passamos a querer fazer as roupinhas inteiras, porque terminamos o primeiro ano com muitos feedbacks dos clientes com ideias de modelagem, pedidos de mudanças relativas a elástico na cintura, a tags que podem cair serem perigosas para o bebê… Nós levávamos esses feedbacks para os fornecedores, só que nem sempre eles eram atendidos. Isso foi criando a necessidade de produzir, porque a gente precisava dar uma resposta para as mães. Foi aí que montamos a fábrica da BB Habitué, que é a nossa marca de roupinhas de bebê. Criamos as modelagens, que depois foram sendo otimizadas em parceria com esses clientes mesmo, que continuavam trazendo esses feedbacks. Até hoje é assim. Se os clientes falam qualquer coisa da roupinha a gente já vai lá, já olha, já testa.
It Mãe Magazine: E como é ser mãe e fazer um produto que você compra?
Camile: Na gravidez da Carmela, que nasceu no final de 2024, eu aproveitei para fazer todos os testes do mundo! Eu me considero uma pessoa bem exigente, bem perfeccionista nas coisas que faço e, montando enxoval da Carmela, já anotei umas quinze coisas que quero mudar. Tem testes que a gente faz normalmente como fábrica, mas eu falo que, como mãe, algumas coisas são diferentes. Agora, as roupinhas da Um Balalum vão melhorar 200%, porque a Carmela já nasceu trabalhando, ela vai ser a piloto de prova. Vai ser um teste atrás do outro.
It Mãe Magazine: Como a sustentabilidade se relaciona com a produção da Um Balalum?
Camile: Como marca e fabricante, acho importante pensar que não se trata apenas de vender muito. A gente tem que pensar no mundo que vai ficar para os nossos filhos. Vamos deixar o planeta cheio de plástico para eles? O mar todo poluído? Até mesmo o algodão precisa ter o descarte correto. Na fábrica, temos parceria com uma cooperativa que faz tapetes e colchas com retalhos. Isso nos dá reaproveitamento de 100% dos retalhos que sobram da produção.
It Mãe Magazine: Me fala sobre ser mãe e empreendedora.
Camile: Eu acho que muitas mães buscam o empreendedorismo para ficar mais perto dos filhos. E eu sou muito grata por ter essa oportunidade. Só que, ao mesmo tempo, a gente tem que cuidar para não idealizar, porque você não vai ter todo o tempo do mundo para o seu filho. Trabalhar em casa é se dividir o tempo todo. Além disso, tem que colocar limite. Eu perdi incontáveis almoços que queimei, porque estava atendendo na hora de cozinhar. Então, é um equilíbrio muito difícil. Tive que estabelecer horário para desligar do trabalho ou ia até 11 da noite.
It Mãe Magazine: Quais são os projetos futuros da Um Balalum?
Camile: A nossa ideia é ampliar as modelagens e ir aumentando a nossa fábrica. E continuar a criar com base no feedback dos clientes. Eu gosto muito da ideia de produção e de criação colaborativa. Agora em 2025, a gente está com um projeto de fazer alguns programas de testes de roupinhas, abrindo para os clientes se inscreverem. É importante produzir junto com as mães de vários lugares do Brasil, que podem ter demanda para os vários tipos de clima do nosso país. Os corpos dos bebês também são muito diferentes, eles variam muito mais de tamanho do que a divisão por meses pode prever. Alguns têm o tronco mais comprido, outros são mais fininhos ou mais gordinhos e o desafio está em desenvolver modelagens que se adaptem a todos.

It Mãe Magazine: Qual a importância do empreendedorismo materno e paterno na construção da Umbalalum?
Camile: O que acho muito bonito da nossa história é que a gente se fortaleceu enquanto família. Meu sogro, Nilton, que é um excelente gerente de produção, também trabalha hoje com a gente. Além dele, tem minha sogra Amélia, eu, meu marido. E meu filho está sempre lá, porque a loja física de São Paulo é do lado da escola. E ele brinca: “Mãe, quando você e o papai vão se aposentar? Porque daí a loja vai ser minha, né?” Ele já tem esses planos. Acredita? É muito gostosa essa coisa de estar em família e criar uma comunidade. Também abrimos uma loja em Londrina, que minha irmã que toca. Nossa ideia é poder ter cada vez mais lojas físicas para atender as pessoas pessoalmente.