O que perdemos quando julgamos outras mães


Luciana Romano e Raquel Benazzi
por: Luciana Romano e Raquel Benazzi

 

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Você já parou para se questionar se os julgamentos que faz dos outros não está trazendo sofrimento a si mesma? (Foto: Freeimages)

Recentemente, a revista Crescer fez uma campanha muito bacana chamada Julgue Menos, Apoie Mais, onde reuniu depoimentos de mães que foram julgadas por diferentes razões – pelo tipo de parto que escolheu, pelo modo de alimentar o filho, por compartilhar a cama com as crianças, etc. O objetivo da campanha foi mostrar a importância de vermos a mulher e a mãe por trás das atitudes e julgamentos. O julgamento ao outro envolve um conjunto complexo de diferentes fatores. Historicamente, comparar, almejar, desejar ou criticar são características universais, visto que compartilhamos um inconsciente coletivo que comporta todas as possibilidades de padrões de comportamento. Esse padrão de julgamento e comparação está presente em todos os tempos e em todos as sociedades, faz parte de nossas raízes ancestrais. O problema não está no julgamento em si, já que ele faz parte da gente enquanto seres humanos, e sim o que ele revela sobre nós. Ou seja, de que forma a atitude do outros me afeta e como eu me comporto e reajo.

Sempre que percebemos uma realidade a partir de um único ponto de vista, temos uma visão endurecida, que pode levar a um sofrimento a nós mesmos e aos outros envolvidos. Geralmente, esse julgamento tem origem na interpretação que damos aos eventos relacionados a nossa própria história ou a crenças e valores que nos são transmitidos ao longo de nossa vida. O julgamento baseado em verdades absolutas trazem risco ao nosso lado emocional, pois sempre que acreditamos que existe apenas um lado das coisas (bom x mau, por exemplo), perdemos a faculdade do discernimento e da reflexão. Acontece que enxergamos no outro partes de nossa personalidade inconsciente que não aceitamos, não gostamos e/ou rejeitamos em alguma fase da vida – ou que simplesmente não tivemos oportunidade de desenvolver. Tudo isso faz parte do inconsciente pessoal de cada um, assim, ao entramos em contato com alguma situação que ativa conteúdos do nosso inconsciente, tendemos a criticar, invejar, temer, odiar, julgar…

Por isso, quando você julga outra mãe dizendo “Não acredito que você teve seu filho em casa, que absurdo, quanto risco!”, é necessário compreender os motivos, na maior parte das vezes inconscientes, que estão por trás de tal julgamento e porque tal situação a afetou tanto. Por exemplo, será que gostaria de ter o “atrevimento” dessa mãe? Ou alguma vez vivenciou algo negativo relacionado ao tema? Talvez seja apenas controladora demais e acredite que todos devam seguir a seus pensamentos… Costumamos dizer a nossos pacientes que “Quem está longe julga, quem está perto compreende”. Ou seja, quando abaixamos as guardas da arrogância, ficamos abertos para enxergar a situação por outro ponto de vista. Dessa forma, usamos a reflexão e a empatia para compreender o outro e, assim, consequentemente, compreender a nós mesmos.

Ao fazer um julgamento (um pré-conceito antes do conhecimento), quem julga distancia-se emocionalmente dos outros, além de sofrer e causar sofrimento ao outro. Por vezes, esquivando-se da diversidade, perde-se a chance de uma nova amizade. Isso não significa que temos que concordar com tudo, mas que não somos donos da vida dos outros e, portanto, não temos o direito de escolher e controlar as decisões alheias. Ouvir o outro, conhecer, reconhecer são formas de vínculos saudáveis, algo que requer amadurecimento e disponibilidade afetiva. É sair do lugar que sempre ocupamos, das opiniões, crenças e valores que nos conduzem para desenvolver novas formas de se relacionar com o mundo. Pense a respeito de quais temas despertam sua intolerância, que atitudes e situações te incomodam, quais valores você não abre mão. Será que essa visão enrijecida não está trazendo sofrimento para você?

Os julgamentos, entretanto, também acontecem da gente com a gente mesma. Crescemos ouvindo o que é certo fazer e sentir, buscando a perfeição. Mas, como já discutimos em outras colunas, há uma enorme diferença entre ser perfeito e ser completo. Ser perfeito envolve expectativas, fantasias e idealizações que são impossíveis de sustentar a todo momento. Com a maternidade, não poderia ser diferente! A felicidade está mais próxima da capacidade de aceitar e viver a completude do que cobrar-se por algo impossível e fantasioso.

Em vez de julgar…

A amamentação é um dos temas que leva a diversos tipos de julgamento no universo materno. A mulher que está amamentando, não raro, ouve diversos palpites. “Você está fazendo errado, dá logo a mamadeira!” Diante dessa situação, ou de qualquer atitude de outra mãe, o melhor é adotar a posição de “não sei” e de “curiosidade”. Ou seja, antes de julgar, busque conhecer a situações como se ela fosse totalmente nova e perguntar como se não soubesse nada a respeito. Talvez se você estivesse no lugar dela, preferiria ouvir frases como “o que você está sentindo?” e “de forma eu poderia te ajudar?”. A mãe precisa de acolhimento, de alguém que a ouça sem críticas. Aliás, vale lembrar que não existe a palavra mãe e gestante, e sim mães e gestantes, no plural. Cada mãe é um indivíduo único, somos várias, portanto. E sofremos influências do momento histórico/social/econômico do período em que nos tornamos mães, além de nossas próprias história de vida e das relações que mantemos com as pessoas ao redor. Isso sem falar nas características da personalidade, da genética, etc.

Por fim, convidamos você a fazer uma reflexão para o autoconhecimento. Não gosta que a vizinha durma com os filhos na cama? Fica incomodada quando sua amiga amamenta em público? Acha um absurdo dar à luz de maneira natural? Então, pergunte-se por que tais atitudes a afetam tanto. Aproveite a oportunidade para se abrir ao que não conhece sobre si mesma – você pode se surpreender.

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  • Luciana Romano e Raquel Benazzi

    Psicólogas com formação em Psicologia Clínica e Hospitalar, são idealizadoras e sócias do Núcleo Corujas, espaço especializado em Gestantes e Mães

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