Um abraço em mim mesma: redescobrindo paixões além do escritório e da maternidade


Anna Moreno Damico
por: Anna Moreno Damico
Diretora de multinacional, mentora de carreiras e especialista em crescimento profissional, esposa e mãe de cinco
(foto: arquivo pessoal)

Sou mãe de cinco. Isso, por si só, já deveria ser considerado prova de resistência com garantia de medalha no peito no fim. Some a isso uma carreira corporativa ambiciosa, cheia de metas agressivas, entregas de impacto e um ritmo de performance que não dá trégua. Agora imagine essa equação sem rede de apoio, sem avós disponíveis, sem babá, sem vizinhos voluntários para segurar as crianças “só por 5 minutinhos”. É… a logística da minha vida daria um case sobre resiliência, improviso e capacidade de execução (ou um filme de comédia daqueles de quinta categoria!). Porque não estou falando aqui dos perrengues, da falta de memória, das gafes, etc. Segue o baile.

No meio dessa equação, a gente se esquece. Eu, pelo menos, costumo me esquecer. Porque é tanta reunião, tanta demanda, tanta lição de casa, tanto pediatra, tanta planilha e tanto “mãe, cadê meu tênis?” que sobra pouco espaço para se lembrar que, antes de todos esses papéis, existe uma pessoa com histórias, sonhos e paixões.

Pois no final de setembro, pela primeira vez em quase 20 anos, eu me lembrei. Voltei para as quadras. Não como jogadora de voleibol (porque essa fase ficou para trás quando pendurei a joelheira e decidi começar minha trajetória corporativa). Mas voltei como técnica de vôlei, voluntária do time da cidade, para crianças de 8 a 15 anos. E ali, dando coordenadas, ensinando manchete, apitando, ajustando postura, incentivando e enxugando a testa suada da molecada, eu percebi: não era só para eles. Era para mim.

Foi um abraço em mim mesma. Um lembrete de que existe uma parte de mim que estava adormecida, esperando oportunidade e coragem para acordar. A sensação foi libertadora. Saí da quadra leve, feliz, vibrando. Porque canalizar tempo e energia em um hobby ou paixão não é luxo. É sobrevivência emocional. É cuidado puro. É combustível para continuar desempenhando em todas as outras frentes da vida. 

Quando contei para o meu marido que eu tinha me voluntariado, a primeira reação dele foi dizer: “mas você não tem tempo para nada, por que foi inventar de se comprometer isso?”… e eu ri sem graça, sabendo que tinha feito uma maluquice. Mas na mesma hora, ele completou: “eu tenho certeza que vai te fazer super bem! E as crianças vão conhecer um lado seu que elas nem sabem que existe!”

Pudera, elas nem sabem que meu pai é esse cara aqui. Antônio Carlos Moreno, jogador de vôlei, ídolo no anos 1970. Todo menino que sonhava em ser jogador de voleibol, queria ser como ele. É o que dizem! Minhas crianças só o conhecem por “vovô”. E eu tenho cinco irmãos, dois deles técnicos profissionais de voleibol. Cresci num lar de atletas apaixonados por esporte. Por que eu esperei tanto tempo para voltar? Mesmo que de forma tímida, informal e brincalhona?

E é aí que eu quero provocar você, mãe profissional que está lendo essas linhas. Quando foi a última vez que você fez algo só por prazer? Não falo de ir ao mercado sozinha ou tomar banho sem interrupção (embora isso, convenhamos, já seja quase um spa). Falo de algo que te conecta com a sua essência, que te lembra quem você é além do crachá e da certidão de nascimento dos filhos.

A gente precisa de hobbies, paixões, interesses. Precisa se ver em mais papéis do que apenas o de executora da família, provedora ou dona da empresa. Porque a vida não pode ser só sobre fraldas e reuniões. A vida é muito mais interessante quando é semeada com o que nos faz sorrir de verdade.

E não, não é egoísmo. Ao contrário: quando você se nutre de alegria e satisfação pessoal, você volta melhor para todos os seus papéis. A mãe mais paciente. A líder mais inspiradora. A profissional mais criativa. A parceira mais presente.

Voltar para a quadra ontem me mostrou isso na prática. Foi tão pequeno e tão potente. Enquanto treinava aquelas crianças, eu também treinava a minha coragem de me permitir ser inteira. De ocupar espaços que me fazem bem. De resgatar o que me move.

E se eu puder deixar uma reflexão, é essa: não espere ter a agenda perfeita, o apoio ideal ou as circunstâncias mágicas para se dar esse presente. Comece pequeno, mas comece. Redescubra o que estava adormecido. Tire da gaveta aquela paixão esquecida. Seja esporte, arte, leitura, escrita, música, jardinagem — pouco importa. O que importa é que seja seu.

Porque no fim do dia, ser mãe e ser profissional de alta performance é incrível, mas ser apenas isso não dá conta da vida inteira. A vida pede equilíbrio, pede sorrisos, pede paixões vividas. Pede abraços — até aqueles que a gente dá em nós mesmas. 

Um grande abraço meu, em você!

Anna

  • Anna Moreno Damico

    Executiva de Marketing e Recrutamento com 20 anos de carreira corporativa em multinacionais. Já trabalhou em São Paulo, Nova York e, atualmente, mora em Boston com seu marido e cinco filhos, onde lidera um time internacional. Dedicada a formar a próxima geração de líderes, Anna também é mentora de carreiras e especialista em crescimento profissional, oferecendo curadoria de conteúdo sobre liderança e mercado de trabalho, além de orientação, cursos e aulas exclusivas. Com mais de dois mil alunos e centenas de horas em palestras e treinamentos no último ano, Anna acredita em liderança pelo exemplo e na construção de relacionamentos verdadeiros para viver a máxima de suas duas frases preferidas: “Feito é melhor que perfeito”, e “Se não eu, quem?”

Data da postagem: 29 de setembro de 2025

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