Quando comer saudável vira mais um peso na vida de mãe


Amanda Figueiredo
por: Amanda Figueiredo
Amanda Figueiredo (@nutriamandafig) é nutricionista clínica pela USP, especialista em saúde da mulher, gestantes e introdução alimentar.

Ao longo da minha trajetória como nutricionista, e também como mulher, percebo como a alimentação muitas vezes deixa de ser uma aliada e se transforma em mais uma fonte de culpa e exaustão. Isso acontece de forma sutil, mas constante, e o ponto de partida costuma ser a gestação.

Durante a gravidez, a mulher é inundada de informações e cobranças. É natural querer fazer tudo certo para garantir um bebê saudável. Mas, em meio a tantas expectativas, a alimentação, que deveria ser um gesto de autocuidado e prazer, vira um campo de pressão. Essa exigência continua na amamentação, quando o corpo ainda se recupera, e a rotina é ditada pelas demandas do bebê. E se intensifica na maternidade, quando o cuidado com si mesma parece sempre ficar para depois.

A mãe que alimentava todos (menos a si mesma)

Recentemente, atendi uma paciente que exemplifica perfeitamente essa realidade. Mãe de dois filhos pequenos, ela preparava refeições equilibradas e coloridas para as crianças, tudo impecável. Mas, ao falar sobre sua própria alimentação, confessou que, muitas noites, simplesmente não jantava. O cansaço era tanto que ela preferia ir direto para a cama.

Quando perguntei se sentia fome, respondeu: “Sinto, mas não tenho energia para pensar em mim”. Essa frase ficou ecoando em mim por dias. Porque é exatamente isso que vejo com frequência: mulheres que cuidam de todos, mas esquecem de cuidar delas.

Juntas, criamos pequenas estratégias para mudar esse cenário, nada mirabolante, nada fora da realidade. Ajustamos horários, incluímos lanches simples e práticos, e combinamos que o jantar dela não precisava ser perfeito, bastava ser possível. Aos poucos, ela começou a perceber que se alimentar bem não era sinônimo de mais uma tarefa na lista, mas um ato de respeito ao próprio corpo.

O bom não é inimigo do ótimo

Muitas mulheres acreditam que, se não conseguem seguir uma alimentação ideal, o esforço não vale a pena. Mas a verdade é que o bom já faz uma diferença enorme. Não é preciso um prato digno de foto de revista para nutrir o corpo com qualidade, é preciso constância e gentileza consigo mesma.

Na minha prática, sempre reforço que o caminho para o equilíbrio alimentar não está em regras rígidas, mas em escolhas possíveis. Uma sopa pronta com legumes congelados pode ser melhor do que pular o jantar. Um lanche rápido com frutas e oleaginosas pode ser suficiente para repor energia em um dia cansativo. O importante é não deixar a fome para depois.

Pequenas atitudes que fazem diferença

  • Planeje o mínimo possível: deixar opções saudáveis visíveis e prontas na geladeira evita decisões por impulso.
  • Descomplique o jantar: nem sempre é preciso cozinhar; combine alimentos prontos com fontes de proteína e fibras.
  • Tenha sempre algo fácil à mão: iogurte, frutas, castanhas e ovos cozidos salvam a rotina.
  • Respeite o seu momento: cada fase da maternidade exige ajustes, e está tudo bem não dar conta de tudo.

Comer bem é também um gesto de amor-próprio

Cuidar da alimentação não deve ser mais um fardo na vida da mulher, e sim um lembrete de que ela também importa. Às vezes, pequenas mudanças são suficientes para resgatar o prazer de comer bem e a energia para viver melhor.

Porque, no fim, quando a mulher se alimenta com mais leveza e presença, ela não cuida apenas de si. Cuida, também, de quem mais ama.

  • Amanda Figueiredo

    Nutricionista clínica pela USP, especialista em saúde da mulher, gestantes e introdução alimentar. Acredita que trabalhar com nutrição significa poder ajudar quem deseja se alimentar de maneira mais saudável e mostrar os impactos positivos dos bons hábitos. Também pensa que a alimentação saudável não precisa ser sacrificante; ela pode ser criativa e cheia de sabor, principalmente quando a incluímos desde a infância.

Data da postagem: 28 de outubro de 2025

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