Pensando em separar? Como conduzir esse momento difícil
O número de divórcios aumentou 160% em dez anos, segundo o IBGE (Foto: CrayonStock)
Nem todo casamento é para sempre, a gente sabe. Mas ainda assim não é nada fácil tomar essa decisão, especialmente quando se tem filhos pequenos. Ainda que o processo do divórcio tenha se tornado mais simples e a burocracia tenha diminuído desde que mudanças nas leis simplificaram o processo a partir de 2010, a separação não deixa de ser dolorosa e de trazer algumas questões nem sempre simples de lidar. É sobre elas que vamos falar aqui, para tornar esse processo pelo qual cada vez mais casais passam – o número de divórcios cresceu mais de 160% em 10 anos, segundo o IBGE – mais tranquilo, na medida do possível.
1) Você está certa disso?
Vale a pena fazer essa reflexão. Você quer MESMO se divorciar? “Desenhe mentalmente como será a sua vida depois do divórcio, sem a convivência com parceiro. Pense em como será um, dois, cinco anos depois”, aconselha Silvana Cappanari, terapeuta de família e mediadora que ajudou a criar o setor de mediação nas varas de família de um fórum em São Paulo. Para a especialista, é importante ter consciência da vida que você está abrindo mão ao pedir o divórcio, assim como do que terá de possibilidades e mudanças com a separação. É fato que não dá para prever como será o futuro, mas fazer esse exercícios vai fortalecê-la para tomar a decisão, ou quem sabe incentivá-la a insistir mais um pouco no casamento, caso não esteja segura de que esse é o caminho. A gente sabe que muitos casais passam por momentos de pouco romance e muita função quando os filhos nascem. Isso pode minar o romance. Avalie se ter um tempo maior para a relação a dois pode ajudar a mudar as coisas entre vocês. Uma dica é fazer uma escapada a dois, por uns dias. Não para discutir a relação somente, sem pensar nos filhos e em contas, mas também para tentar se lembrar do motivo que os levou a ficar juntos num primeiro momento. Por fim, se as dúvidas persistem, procure a ajuda tanto de um psicólogo quanto de um advogado. Eles darão o que costumam chamar de dados de realidade, que podem ajudar na decisão.
2) Se prepare para combinar a guarda dos filhos
Desde o final de 2014, a guarda compartilhada virou lei. E isso gerou um certo pânico entre algumas mulheres, considerando a hipótese de conviver menos com o (s) filho (s). Mas o advogado Rodrigo da Cunha Pereira, presidente nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFam), esclarece que guarda compartilhada não significa convivência alternada, ou seja, que a criança precisa viver metade do tempo com cada um. “Essa convivência alternada nem costuma ser incentivada. Guarda compartilhada, na verdade, significa que mãe e pai dividem a responsabilidade da criança e de sua rotina. Isso é bom para as mulheres, que muitas vezes ficavam sobrecarregadas com a criação dos filhos em caso de divórcio. Agora é responsabilidade dos homens também. E é ótimo para os filhos, que terão ambos pais presentes”, destaca. Na prática, o arranjo de quanto tempo os filhos ficam com cada um pode ser feito em acordo prévio pelo ex-casal (em uma mediação, por exemplo) ou, então, será definido pelo juiz. “O padrão costuma ser finais de semana alternados entre os pais e um dia da semana na casa do outro”, coloca Pereira.
3) Vale fazer um planejamento financeiro
A conta é clara: a renda que sustentava uma casa, seja de apenas um ou dois provedores, agora vai pagar as contas de duas casas. “Com exceção das pessoas muito ricas, o divórcio implica, sim, em baixar o padrão de vida. É um preço a se pagar, digamos assim, para ser mais feliz”, acredita Pereira, que além de advogado tem formação em psicanálise. Afinal, como ressalta o especialista, casamos para sermos mais felizes, mas nos divorciamos com esse mesmo propósito. Por isso, ele sugere buscar o suporte de um advogado para entender o processo. “A pensão é um tópico sempre problemático. Quem paga costuma achar que está dando muito e quem recebe acredita que é pouco. A conta é feita com base no que é necessário e o que é possível pagar. Mas isso está aberto para interpretações e é comum que o assunto se estenda, principalmente por causa dos rancores que possam existir”, alerta.
4) Invista no diálogo
Todos os itens anteriores trazem a esse último, considerado o mais importante tanto por advogados quanto psicólogos: esteja aberta ao diálogo. As disputas são destrutivas para todas as partes envolvidas, filhos principalmente. Sem falar nos prejuízos financeiros. “Brigar sai muito caro, em todos os sentidos”, afirma Silvana. E como fazer isso em meio aos sentimentos negativos que rondam uma separação? “Prepare-se e planeje-se para o divórcio, mas pense em como o cônjuge vai reagir a sua vontade e como fazer para que não se sinta traído diante da sua iniciativa”, aconselha a terapeuta familiar. É fundamental buscar um mediador ou um coach de relacionamento que possa ajudá-los a passar por isso sem brigas (ou com o mínimo possível) e também a pensar em como se organizarão como pais que não estão mais casados”, acrescenta. Há mediadores particulares e também os oferecidos pelos fóruns, por exemplo. “Eu sempre digo para meus clientes que o divórcio não acaba com a família. Ele termina com o casal, mas a família permanece, agora com dois núcleos. Então, é preciso saber conversar”, completa Rodrigo. Pense nisso.