Morar fora do Brasil: como cuidar da saúde física e mental das crianças


Betina Lahterman
por: Betina Lahterman
Pediatra pela Unifesp. Com um olhar ampliado do crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes. Mãe de 1, doutora de muitos.

Viver a experiência de criar filhos em outro país é, ao mesmo tempo, um grande privilégio e um enorme desafio. Quando essa jornada acontece, o cotidiano se enche de descobertas, saudades e adaptações. Longe da rede de apoio, dos costumes e da língua materna, muitas famílias se veem diante da necessidade de redescobrir desde a rotina, alimentação até o cuidado com a saúde.

O nascimento de um filho no exterior traz também o nascimento de uma nova versão de si mesmos. Mais resiliente e, muitas vezes, mais solitária. O mesmo vale para as famílias que tiveram seus filhos no Brasil e, mudaram-se para outro país (por motivos de trabalho, estudo ou escolhas de vida). Esses pais chegam com uma bagagem afetiva e de cuidados já estabelecida. E, de repente, tudo novo e de novo: o idioma, o clima, os horários, a escola e até a forma como a infância é vivida.

Acompanho essas experiências de perto. Tenho sobrinhos crescendo nos Estados Unidos, amigos com filhos que moram fora e, pacientes vivendo o processo de adaptação e reorganização. Frequentemente, sou acionada por eles, que buscam acolhimento, orientação e continuidade no cuidado pediátrico.

Em todas essas realidades, o que se repete é a possibilidade de construir espaços de escuta que respeite o jeito brasileiro de cuidar, sem abrir mão da integração à nova cultura.

E, como lidar com todas essas variáveis?

Como tranquilizar e instrumentar as famílias a se sentirem mais seguras com a saúde e o bem-estar dos filhos? Algumas dicas que ajudam:

Manter a rotina

Mudanças de fuso e ambiente podem afetar o ritmo da criança.

  • Mantenha horários e combinados

Alimentação: o sabor do afeto

  • Procure manter sabores conhecidos no dia a dia
  • Incentive as crianças experimentarem alimentos típicos do novo país, mas sem pressão
  • Evite ultraprocessados, que são comuns e práticos, mas pouco nutritivos.

Cozinhar juntos pode ser uma maneira afetiva de adaptação cultural — um momento de troca, aprendizado e conexão familiar.

Atividade física: corpo em movimento, mente em equilíbrio

A prática de esportes e brincadeiras ao ar livre ajuda na saúde física e emocional, além de favorecer novas amizades e vínculos sociais.

Sono

Recrie elementos familiares no ritual do sono, como histórias, músicas ou objetos de dormir.

Acolher as emoções

A adaptação pode trazer inseguranças, saudades ou até pequenas regressões temporárias.

  • Nomeie os sentimentos e acolha as emoções da criança
  • Mantenha o vínculo com o Brasil, através de videochamadas com familiares e amigos. Esses momentos ajudam a preservar os laços e a sensação de pertencimento
  • Controle o tempo de tela — o excesso tende a aumentar o isolamento

Tempo em família

  • Reserve momentos juntos e de jogos e brincadeiras
  • Crie momentos offline e explore passeios ao ar livre
  • Aproveite para descobrirem juntos a cultura local — parques, bibliotecas, festivais e curiosidades do novo país

Acompanhamento pediátrico: continuidade e confiança

Manter o cuidado em saúde é essencial, mesmo com as diferenças entre os sistemas. 

  • Encontre um pediatra local
  • Entenda como funcionam as consultas de rotina e atendimentos em casos de urgência no país onde vivem
  • Verifique se há diferenças no calendário vacinal em relação ao Brasil

Em muitos países, o modelo pediátrico tende a ser mais objetivo e protocolar, com foco em sintomas, vacinas e medidas de crescimento.

Nesse contexto, ter um pediatra de referência no Brasil, pode fazer toda a diferença. É um espaço de escuta e orientação que vai além da consulta. É onde se fala sobre comportamento, emoções, dúvidas e pequenas angústias do dia a dia. Com as tecnologias, a conexão é presença sem fronteiras.

Mas, o mais importante, acima de tudo, é o amor, o cuidado e o olhar atento dos pais, em qualquer lugar do mundo.

  • Betina Lahterman

    Médica formada pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), com residência em Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Com o foco no crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes, acolhimento da família através de uma pediatria afetiva e descomplicada. Atualmente, Presidente do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) e Membro do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Como pediatra, transita em todos os cenários da infância e adolescência participando dos momentos de conquistas e desafios. No que transmite, não só o conhecimento mas, trocas e vivências. Orienta além da questão física, resgata o brincar, o contato com a família, com a natureza e o uso responsável e compartilhado das tecnologias.

Data da postagem: 13 de novembro de 2025

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