Morar fora do Brasil: como cuidar da saúde física e mental das crianças
Viver a experiência de criar filhos em outro país é, ao mesmo tempo, um grande privilégio e um enorme desafio. Quando essa jornada acontece, o cotidiano se enche de descobertas, saudades e adaptações. Longe da rede de apoio, dos costumes e da língua materna, muitas famílias se veem diante da necessidade de redescobrir desde a rotina, alimentação até o cuidado com a saúde.
O nascimento de um filho no exterior traz também o nascimento de uma nova versão de si mesmos. Mais resiliente e, muitas vezes, mais solitária. O mesmo vale para as famílias que tiveram seus filhos no Brasil e, mudaram-se para outro país (por motivos de trabalho, estudo ou escolhas de vida). Esses pais chegam com uma bagagem afetiva e de cuidados já estabelecida. E, de repente, tudo novo e de novo: o idioma, o clima, os horários, a escola e até a forma como a infância é vivida.
Acompanho essas experiências de perto. Tenho sobrinhos crescendo nos Estados Unidos, amigos com filhos que moram fora e, pacientes vivendo o processo de adaptação e reorganização. Frequentemente, sou acionada por eles, que buscam acolhimento, orientação e continuidade no cuidado pediátrico.
Em todas essas realidades, o que se repete é a possibilidade de construir espaços de escuta que respeite o jeito brasileiro de cuidar, sem abrir mão da integração à nova cultura.
E, como lidar com todas essas variáveis?
Como tranquilizar e instrumentar as famílias a se sentirem mais seguras com a saúde e o bem-estar dos filhos? Algumas dicas que ajudam:
Manter a rotina
Mudanças de fuso e ambiente podem afetar o ritmo da criança.
- Mantenha horários e combinados
Alimentação: o sabor do afeto
- Procure manter sabores conhecidos no dia a dia
- Incentive as crianças experimentarem alimentos típicos do novo país, mas sem pressão
- Evite ultraprocessados, que são comuns e práticos, mas pouco nutritivos.
Cozinhar juntos pode ser uma maneira afetiva de adaptação cultural — um momento de troca, aprendizado e conexão familiar.
Atividade física: corpo em movimento, mente em equilíbrio
A prática de esportes e brincadeiras ao ar livre ajuda na saúde física e emocional, além de favorecer novas amizades e vínculos sociais.
Sono
Recrie elementos familiares no ritual do sono, como histórias, músicas ou objetos de dormir.
Acolher as emoções
A adaptação pode trazer inseguranças, saudades ou até pequenas regressões temporárias.
- Nomeie os sentimentos e acolha as emoções da criança
- Mantenha o vínculo com o Brasil, através de videochamadas com familiares e amigos. Esses momentos ajudam a preservar os laços e a sensação de pertencimento
- Controle o tempo de tela — o excesso tende a aumentar o isolamento
Tempo em família
- Reserve momentos juntos e de jogos e brincadeiras
- Crie momentos offline e explore passeios ao ar livre
- Aproveite para descobrirem juntos a cultura local — parques, bibliotecas, festivais e curiosidades do novo país
Acompanhamento pediátrico: continuidade e confiança
Manter o cuidado em saúde é essencial, mesmo com as diferenças entre os sistemas.
- Encontre um pediatra local
- Entenda como funcionam as consultas de rotina e atendimentos em casos de urgência no país onde vivem
- Verifique se há diferenças no calendário vacinal em relação ao Brasil
Em muitos países, o modelo pediátrico tende a ser mais objetivo e protocolar, com foco em sintomas, vacinas e medidas de crescimento.
Nesse contexto, ter um pediatra de referência no Brasil, pode fazer toda a diferença. É um espaço de escuta e orientação que vai além da consulta. É onde se fala sobre comportamento, emoções, dúvidas e pequenas angústias do dia a dia. Com as tecnologias, a conexão é presença sem fronteiras.
Mas, o mais importante, acima de tudo, é o amor, o cuidado e o olhar atento dos pais, em qualquer lugar do mundo.









