A pressão social e estética que atinge pré-adolescentes e adolescentes
A pré-adolescência e a adolescência são fases marcadas por intensas transformações físicas, emocionais e sociais. Nesse período, meninos e meninas começam a buscar sua identidade, testar novos papéis e, sobretudo, procuram aceitação nos grupos em que estão inseridos. Esse processo, que já é naturalmente desafiador, ganhou um novo cenário com a ascensão das mídias sociais.
As redes sociais oferecem inúmeros benefícios, como a possibilidade de conexão, aprendizado e entretenimento. No entanto, as redes também se tornaram vitrines de padrões estéticos e estilos de vida muitas vezes irreais, moldados por filtros, edições e comparações constantes. Nessa fase da vida, pré-adolescentes e adolescentes ainda estão desenvolvendo a autoestima e a segurança pessoal e, essa exposição, pode ser especialmente delicada.
Vivo na prática profissional e em casa o que muitos pais sentem: os desafios, as dúvidas, as mudanças de fase que parecem chegar “de repente”. Como mãe, sei o quanto esses momentos podem ser difíceis. Como pediatra, procuro mostrar que existem formas para tornar essa jornada mais leve.
Entendo que pré-adolescentes e adolescentes merecem uma abordagem diferente em consultório do que uma criança. Eles são os atores principais de sua própria vida e é preciso respeitar a autonomia, a individualidade e confidencialidade do que contam (quando não se corre nenhum risco maior). Temas como autoestima, corpo, relacionamentos, mídias sociais, uso de álcool ou outras substâncias e dúvidas sobre sexualidade surgem como um bate papo. Assim, a consulta vai além da parte clínica, pois se torna um espaço de escuta, sem julgamentos. Esse atendimento individual é muito importante e permite o estreitamento de vínculo e manter as relações de confiança.
Em contrapartida, nem sempre os sinais de sofrimento são óbvios e é nessa hora que procuro observar em sua fala indícios sobre:
- Preocupação exagerada com corpo ou peso;
- Dietas restritivas, jejuns prolongados ou métodos perigosos para emagrecer;
- Uso intenso de redes sociais e a busca incessante por seguidores e “likes”;
- Isolamento social, queda no rendimento escolar ou mudanças de humor;
- Falas autodepreciativas e de baixa autoestima.
Essas manifestações precisam ser levadas a sério e não minimizadas como “apenas uma fase, coisa da idade”. E o que fazer nesses casos?
Como mãe, eu sei que nem sempre é fácil colocar tudo em prática e, que cada família encontra o seu jeito, no seu tempo. Mas, como médica divido meu conhecimento científico e prático a fim de orientar e acolher, para ser possível construir um ambiente em que o adolescente se sinta valorizado não pelo que o outro tem, mas pela pessoa que é. Algumas estratégias podem – e muito – ajudar nesse processo:
- Estabelecer proximidade, com conversas abertas e incentivo ao pensamento crítico;
- Procurar o entendimento sobre conteúdos acessados pelo jovem nas redes sociais e que sentimentos despertam;
- Destacar que a exigência de se mostrar feliz e bem-sucedido o tempo todo não é real e que muitas imagens são editadas e não refletem a realidade;
- Valorizar a individualidade, explicando de forma clara que cada corpo tem um ritmo de crescimento e desenvolvimento e que comparações nem sempre são saudáveis. A diversidade corporal é natural e tem sua beleza;
- Promover hábitos saudáveis como alimentação equilibrada, atividade física e boas noites de sono, com o objetivo de que eles exerçam o autocuidado;
- Criar espaços fora do ambiente digital: passeios, jogos e, até mesmo, desfrutar do ócio;
- Incentivar a convivência presencial entre os amigos;
- Observar sinais de maior gravidade como tristeza persistente.
A pré-adolescência e a adolescência são fases de descobertas e construção de identidade. Apoiar os jovens nesse caminho, ajudando-os a se enxergar para além dos padrões sociais e estéticos, é essencial para que cresçam mais seguros e autênticos. Do que eles mais precisam? De apoio, escuta e acolhimento.









