A pressão social e estética que atinge pré-adolescentes e adolescentes


Betina Lahterman
por: Betina Lahterman
Pediatra pela Unifesp. Com um olhar ampliado do crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes. Mãe de 1, doutora de muitos.

A pré-adolescência e a adolescência são fases marcadas por intensas transformações físicas, emocionais e sociais. Nesse período, meninos e meninas começam a buscar sua identidade, testar novos papéis e, sobretudo, procuram aceitação nos grupos em que estão inseridos. Esse processo, que já é naturalmente desafiador, ganhou um novo cenário com a ascensão das mídias sociais.

As redes sociais oferecem inúmeros benefícios, como a possibilidade de conexão, aprendizado e entretenimento. No entanto, as redes também se tornaram vitrines de padrões estéticos e estilos de vida muitas vezes irreais, moldados por filtros, edições e comparações constantes. Nessa fase da vida, pré-adolescentes e adolescentes ainda estão desenvolvendo a autoestima e a segurança pessoal e, essa exposição, pode ser especialmente delicada.

Vivo na prática profissional e em casa o que muitos pais sentem: os desafios, as dúvidas, as mudanças de fase que parecem chegar “de repente”. Como mãe, sei o quanto esses momentos podem ser difíceis. Como pediatra, procuro mostrar que existem formas para tornar essa jornada mais leve.

Entendo que pré-adolescentes e adolescentes merecem uma abordagem diferente em consultório do que uma criança. Eles são os atores principais de sua própria vida e é preciso respeitar a autonomia, a individualidade e confidencialidade do que contam (quando não se corre nenhum risco maior). Temas como autoestima, corpo, relacionamentos, mídias sociais, uso de álcool ou outras substâncias e dúvidas sobre sexualidade surgem como um bate papo. Assim, a consulta vai além da parte clínica, pois se torna um espaço de escuta, sem julgamentos. Esse atendimento individual é muito importante e permite o estreitamento de vínculo e manter as relações de confiança.

Em contrapartida, nem sempre os sinais de sofrimento são óbvios e é nessa hora que procuro observar em sua fala indícios sobre:

  • Preocupação exagerada com corpo ou peso;
  • Dietas restritivas, jejuns prolongados ou métodos perigosos para emagrecer;
  • Uso intenso de redes sociais e a busca incessante por seguidores e “likes”;
  • Isolamento social, queda no rendimento escolar ou mudanças de humor;
  • Falas autodepreciativas e de baixa autoestima.

Essas manifestações precisam ser levadas a sério e não minimizadas como “apenas uma fase, coisa da idade”. E o que fazer nesses casos?

Como mãe, eu sei que nem sempre é fácil colocar tudo em prática e, que cada família encontra o seu jeito, no seu tempo. Mas, como médica divido meu conhecimento científico e prático a fim de orientar e acolher, para ser possível construir um ambiente em que o adolescente se sinta valorizado não pelo que o outro tem, mas pela pessoa que é. Algumas estratégias podem – e muito – ajudar nesse processo:

  • Estabelecer proximidade, com conversas abertas e incentivo ao pensamento crítico;
  • Procurar o entendimento sobre conteúdos acessados pelo jovem nas redes sociais e que sentimentos despertam;
  • Destacar que a exigência de se mostrar feliz e bem-sucedido o tempo todo não é real e que muitas imagens são editadas e não refletem a realidade; 
  • Valorizar a individualidade, explicando de forma clara que cada corpo tem um ritmo de crescimento e desenvolvimento e que comparações nem sempre são saudáveis. A diversidade corporal é natural e tem sua beleza;
  • Promover hábitos saudáveis como alimentação equilibrada, atividade física e boas noites de sono, com o objetivo de que eles exerçam o autocuidado;
  • Criar espaços fora do ambiente digital: passeios, jogos e, até mesmo, desfrutar do ócio;
  • Incentivar a convivência presencial entre os amigos;
  • Observar sinais de maior gravidade como tristeza persistente.

A pré-adolescência e a adolescência são fases de descobertas e construção de identidade. Apoiar os jovens nesse caminho, ajudando-os a se enxergar para além dos padrões sociais e estéticos, é essencial para que cresçam mais seguros e autênticos. Do que eles mais precisam? De apoio, escuta e acolhimento.

  • Betina Lahterman

    Médica formada pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), com residência em Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Com o foco no crescimento e desenvolvimento das crianças e adolescentes, acolhimento da família através de uma pediatria afetiva e descomplicada. Atualmente, Presidente do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) e Membro do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Como pediatra, transita em todos os cenários da infância e adolescência participando dos momentos de conquistas e desafios. No que transmite, não só o conhecimento mas, trocas e vivências. Orienta além da questão física, resgata o brincar, o contato com a família, com a natureza e o uso responsável e compartilhado das tecnologias.

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