Qual a medida de tecnologia e IA na vida dos nossos filhos?


Lu Salles Hora
por: Lu Salles Hora
Pedagoga, fonoaudióloga, especialista em educação bilíngue, alfabetização e relações interpessoais - e apaixonada pela arte de educar. Mãe da Laura e do Lucas.

Nos últimos anos, temos visto uma onda de discussões sobre o uso da tecnologia e da inteligência artificial (IA) nas escolas. Algumas instituições optam por introduzir esses recursos já nos primeiros anos, enquanto outras preferem manter os livros e cadernos no centro do processo. Na minha visão — de mãe e de educadora — quanto mais tarde a tecnologia entrar, melhor. Não porque eu acredite que possamos escapar dela (seria impossível!), mas porque acredito que a infância e a adolescência devem ser ricas em experiências pessoais, vividas no olho no olho, no contato humano e no aprendizado que vem do convívio. E onde podemos estimular isso, senão na escola, com os pares?

Quando meus filhos ingressaram no Fundamental 2, na lista de materiais da escola, além de livros físicos, cadernos, transferidores, canetas etc, constava um Chromebook. E a partir dali, boa parte do conteúdo acadêmico passou a estar no computador. Logo surgiu o dilema: será mesmo que eles tem maturidade para isso? Meu filho mais novo já me confidenciou que, às vezes, aproveita a ferramenta para jogar com os amigos na escola. Claro, sempre depois da atividade, como ele insiste em me dizer: “Mãe, fica tranquila, só jogo quando termino o que o professor pede.”

A escola garante que tudo é supervisionado, que cada atividade tem um propósito, que os filtros funcionam. Mas eu, sinceramente, continuo acreditando que o exercício da socialização, do papel rabiscado, do lápis sem ponta que precisa ser apontado trocentas vezes, do caderno amassado e até do tédio na sala de aula são partes fundamentais da formação (do ser humano). São experiências que não cabem em telas. E, mesmo com as melhores intenções, certas coisas sempre escapam do controle.

Uma pesquisa internacional recente mostrou que 74% dos professores apoiam o uso da IA no ensino, apesar de 39% a utilizarem de fato em sala de aula. Entre os alunos, o uso é maior: 85% dos adolescentes já recorrem à IA semanalmente para estudar. O curioso é que apenas metade se preocupa em verificar se a informação é correta, e aí mora um perigo! Outro estudo revelou que ferramentas de IA acertam cerca de 70% das correções escolares — um número significativo, mas que também escancara seus limites. Ou seja: a tecnologia tem potencial, mas ainda não sabemos lidar plenamente com ela.

Os benefícios (sem negar a realidade):

Não dá para ignorar os avanços que a IA traz: é possível personalizar o ensino e adapta-lo às necessidades dos estudantes; feedback imediato que ajuda a corrigir os erros e otimizar o tempo; inclusão com recursos de acessibilidade muito valiosos; uma baita ajuda aos professores que liberam tempo das tarefas mais repetitivas.

Os riscos (que me preocupam mais):

Mas é justamente porque sei dos benefícios que sinto ainda mais necessidade de destacar os riscos: dependência excessiva da tecnologia, em detrimento da interação humana; questões de privacidade e dados de crianças; a possível desinformação, já que muitos estudantes não checam fontes etc. E, talvez o maior perigo: a perda da capacidade de pensar criticamente por conta própria (caramba, esse me dá até arrepios).

E aqui entra minha defesa: quanto mais tarde as telas assumirem esse protagonismo, mais oportunidades damos para que crianças e adolescentes construam seu raciocínio, suas relações e sua autonomia sem atalhos digitais.

Muitas vezes, meus filhos me perguntam: “Mãe, por que estou aprendendo isso? Que diferença faz eu saber se o verbo é transitivo direto ou indireto? Nunca vou precisar usar isso na vida!” E eu sempre respondo: “Você não está em treinamento para a vida adulta. Você está vivendo experiências que ajudam a desenvolver seu raciocínio lógico, sua forma de se relacionar e até sua paciência. O conteúdo em si pode até não ser usado depois, mas a habilidade que você constrói agora, sim.”

Quando pensamos na entrada da tecnologia, a lógica é a mesma: não se trata de escolher entre caderno, tablet ou computador. Trata-se de garantir que eles aprendam a pensar, questionar, criar por conta própria — sem pular etapas fundamentais da infância.

Como as famílias podem agir:

Avaliar a proposta pedagógica da escola e observe se há equilíbrio entre digital e físico.

Questionar como os professores são preparados para lidar com a tecnologia.

Ensinar os filhos a checar informações, em vez de confiar cegamente na IA.

Valorizar os momentos longe das telas: livros, esportes, conversas à mesa.

Usar a tecnologia com eles, transformando o digital em oportunidade de diálogo.

A tecnologia é inevitável. Mas a forma e o tempo de sua introdução cabem, sim, às famílias e às escolas. Eu, particularmente, defendo que seja mais tarde, depois que valores, disciplina e socialização já estiverem bem sedimentados. Porque, no fim das contas, não se trata de blindar nossos filhos do mundo digital, mas de prepará-los para habitá-lo com consciência, ética e autonomia — sem queimar etapas preciosas da vida real.

  • Lu Salles Hora

    Pedagoga, fonoaudióloga, especialista em educação bilíngue, alfabetização e relações interpessoais. Mãe da Laura e do Lucas, esposa do Rafael. Com experiência de + de 20 anos em chão de sala e orientação parental, é apaixonada pela arte de educar e acredita que crescemos à medida que nos relacionamos uns com os outros. Para Luciana, todos somos educadores, basta dar bons exemplos e agir com coração e razão alinhados.

Data da postagem: 25 de agosto de 2025

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