“Por que mudaram meu filho de sala?” Entenda
O reagrupamento escolar é uma prática cada vez mais utilizada nas escolas, especialmente em contextos em que a diversidade de habilidades e ritmos de aprendizagem dos alunos é evidente. Para as famílias, algumas vezes se torna um desafio aceitar que “separaram” os filhos dos amigos. No entanto, entender essa estratégia pode ajudar e muito a apoiar as crianças e dar aquele voto de confiança nas decisões da equipe pedagógica.
Afinal do que se trata essa “estratégia pedagógica”?
Nada mais do que reorganizar os alunos em grupos. Aquela famosa troca de sala. Mas… com quais critérios? Por que juntar alguns alunos e separar outros? Esse movimento pode variar de acordo com a série do estudante, a filosofia da escola, o conteúdo a ser ensinado, as habilidades sociais, o desempenho acadêmico ou até mesmo os interesses individuais.
No calor da emoção, pensamos: Mas será que meu filho pode se beneficiar?
Não só pode como deve. Afinal, esse é o único objetivo do reagrupamento: beneficiar o aluno de maneira global, tanto acadêmica quanto socialmente. É importante experimentar novos desafios, conviver com diferentes colegas, vivenciar diferentes papéis dentro do ambiente escolar.
Em algumas situações, a mudança se dá por ter sido identificada uma dificuldade de aprendizagem do aluno e, nesse caso, se faz necessária uma atenção individualizada e o cuidado de encontrar o ambiente que melhor se adapte às habilidades dele. Por outro lado, os estudantes com mais facilidade podem ser agrupados de modo a serem desafiados com abordagens e conteúdos mais complexos. Além disso, há ainda cenários em que a mudança envolve a resolução de questões sociais como entrosamento, bullying etc.
O reagrupamento é uma oportunidade para o aluno desenvolver suas habilidades sociais, uma vez que promove interações pessoais diversas. Ao mudar de grupo, os alunos aprendem a colaborar com diferentes colegas, desenvolver empatia, respeito e trabalho em equipe.
Novas dinâmicas e a possibilidade de fazer amigos diferentes podem tornar o aprendizado mais divertido e envolvente.
Sabe aquele grupinho em que uma criança tem um papel de líder e que acaba sempre se beneficiando dessa liderança? Ou, ao contrário, aquele papel do “rejeitado” que não consegue se posicionar. O reagrupamento pode gerar uma “quebra” nesse esquema de papéis proporcionando novos contextos, o que traz uma consequência muito saudável para o grupo como um todo.
Diante das eventuais expectativas que esse evento gera, antes de reagrupar os estudantes, algumas escolas promovem atividades ao longo do ano para auxiliar a integração. Dessa forma, tanto os professores e coordenadores quanto os alunos podem sentir e analisar as novas parcerias que se estabelecem, o que funciona ou não, uma espécie de “test drive”.
Posso compartilhar uma experiência que vivi como mãe. Lucas, meu filho de 11 anos (na época com 9) entra no carro e diz: “Mãe, me separaram dos meus melhores amigos, não gostei da minha sala! Por que as professoras me mandaram fazer a “listinha de nomes” (que em “pedagogês”, se chama sociograma*) se elas não usam pra nada? Aquele silêncio ensurdecedor da ausência da minha resposta… Dentro de mim, aquela vontade de descer do carro, entrar na escola com os dois pés na porta e falar: “Escuta aqui…” Menos, não sou tão impulsiva assim! Mas em casa de ferreiro o espeto é de pau… Mesmo entendendo o que se passa nos bastidores, toda a teoria e blábláblá, também sou mãe e não gosto de ver meus filhos tristes. Respirei fundo e respondi para ele: “Calma filho, foi só o primeiro dia, espere o período de adaptação. Dê uma chance e, se você continuar se sentindo desconfortável, converse com as orientadoras e me conte tudo. Dê tempo ao tempo”.
Após 1 mês (de altos e baixos), Anna Claudia, a coordenadora pedagógica da escola, me convidou para uma conversa e me explicou seu ponto de vista: ele precisava sair da famosa “zona de conforto” para então deslanchar no aprendizado. Naquele caso específico, o grupo social estava influenciando no desenvolvimento acadêmico. Pode acreditar, esse movimento foi um divisor de águas na vida escolar do Lucas. Ele fez novos amigos, ressignificou o aprendizado e o saldo foi muito positivo. Isso me faz concluir que, desde e infância, não tem sucesso fácil nem almoço grátis!
É natural que os pais tenham preocupações e expectativas em relação ao reagrupamento escolar. Por isso, vejo como importante que as escolas mantenham uma comunicação aberta com as famílias, explicando o propósito e os benefícios dessa prática. Os pais e mães devem ser encorajados a acompanhar a adaptação dos filhos ao novo grupo. Isso pode incluir conversas regulares sobre como estão se sentindo e o que estão aprendendo. Além disso, é essencial que confiem nas decisões da escola, reconhecendo que a equipe pedagógica está trabalhando para o bem-estar e desenvolvimento de seus filhos. Um voto de confiança pode facilitar a aceitação do reagrupamento e promover um ambiente mais positivo tanto em casa quanto na escola.
Somos todos educadores e as crianças estão em processo de desenvolvimento. Portanto, nada é estagnado, nem definitivo. A escola eventualmente, pode sim, repensar o reagrupamento dos alunos, sempre alinhando os interesses e valores da escola e da família.
Lu Salles Hora
*Sociograma: a representação gráfica das relações entre o grupo de alunos realizada pela equipe pedagogica, nesse caso as informações são dadas pelos próprios alunos, que são convidados a escrever uma listinha de nomes dos colegas que gostariam de ter na mesma sala.
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