Intercâmbio: será que seu filho deve fazer?

Quando o avião decolou rumo a Rosário, na Argentina, meu coração ficou apertado. Era a primeira vez que minha filha, então com 11 anos, viajava sem nós, os pais. E a aflição tinha começado bem antes — com documentação, autorizações, mala, ansiedade (minha, dela, do pai…). Eu tentava manter um ar tranquilo, mas por dentro já estava morrendo de saudades.
Doze dias depois, ela voltou com a mala mais cheia: de vocabulário em espanhol, de novas amizades e, principalmente, de autonomia. A danadinha até ganhou um certificado de destaque por “disposición y dedicación”. Depois dessa, veio a viagem para o Canadá — dois meses! — e agora o cenário se repete com o meu caçula, que acabo de buscar no aeroporto. Ele aparece empurrando a mala, sorridente, vestindo uma camisa do Rosário Central.
— Filho, que camiseta é essa? — perguntei surpresa (ele nem tinha dinheiro para gastar!).
E ele me responde, com o maior orgulho:
— Mãe, eu ganhei do meu amigo argentino.
É sobre essa vivência que eu quero falar aqui. Sobre a transformação que o intercâmbio proporciona — uma daquelas experiências que ninguém nunca mais tira deles.
Lá atrás, no meu tempo…
Na minha geração, eu tinha amigos que faziam o famoso intercâmbio de um ano pelo Rotary. Era comum — e o programa continua existindo até hoje, reconhecido mundialmente e subsidiado pelo Rotary Club Internacional. Os interessados (não necessariamente Rotarianos) procuram o clube da sua região, aplicam e passam por um processo seletivo rigoroso: provas, entrevistas e, de acordo com a classificação, escolhem o país onde vão morar.
A programação é determinada pelo clube anfitrião. Os intercambistas ficam em casas de família durante o ano, trocando de residência a cada 3 ou 4 meses. A grande vantagem? O custo. Para um ano fora, a família desembolsa apenas o valor das passagens de ida e volta, mais cerca de R$ 15 mil, pagos ao Rotary. Durante o intercâmbio, o estudante ainda recebe uma “mesada” de U$ 150.
Mas a regra é clara: os famosos quatro Ds — No Drive, No Drink, No Drug, No Date (sem dirigir, sem bebidas alcoólicas, sem drogas e sem namoros). Lembro bem que minha mãe não teve coragem de deixar os filhos irem… eram outros tempos. A comunicação era por carta, cartão postal ou ligação a cobrar (se lembram da musiquinha?), nem e-mail a gente tinha. Celular, então, era coisa dos Jetsons.
Muito além da sala de aula
Hoje, programas de intercâmbio cultural e educacional se tornaram mais acessíveis e frequentes nas escolas brasileiras. E com razão: eles são uma verdadeira imersão no aprendizado da vida.
Na escola dos meus filhos, essas experiências são institucionalizadas. No 6º ano, os alunos passam quase duas semanas em Rosário. No 9º ano, vivem uma jornada de dois meses em Victoria, British Columbia, no Canadá. Tudo isso com suporte direto da equipe pedagógica e em parceria com os governos locais — o que, para nós mães, é um alívio e tanto!
O que se ganha com essa vivência?
Spoiler: não é só sobre idiomas.
Estudos da AFS Intercultura e da Education New Zealand mostram que jovens que participam de intercâmbios desenvolvem competências socioemocionais como empatia, flexibilidade, responsabilidade e pensamento crítico em níveis muito superiores à média.
Eles aprendem, na prática, a respeitar o diferente e a conviver com o novo — e, convenhamos, isso é algo que nem o melhor livro didático do mundo consegue ensinar.
Além disso, o contato com sistemas educacionais de outros países pode despertar interesses inesperados: um novo estilo de aula, uma matéria que não existe aqui, ou até o desejo de estudar fora no futuro.
Os prós (e os contras também)
Prós:
• Imersão em novas culturas e línguas
• Desenvolvimento de autonomia e autoestima
• Fortalecimento de vínculos sociais e maturidade emocional
• Ampliação de horizontes acadêmicos e profissionais
E os contras?
Claro que existem:
• O custo pode ser alto (vou falar disso já, já)
• Saudade (tanto nossa quanto deles)
• Adaptação cultural pode ser desafiadora nos primeiros dias
• Dependência da estrutura e da seriedade da empresa escolhida
Aqui em casa, por exemplo, não vou negar: a primeira semana da minha filha no Canadá foi difícil. Passávamos as noites em claro, no telefone, acalmando o coraçãozinho dela (sim, porque o fuso horário não ajudava!). A adaptação à escola, conviver com uma família diferente, encarar o frio e a neve diariamente… foi um desafio e tanto. Mas, como tudo na vida, passou — e ela voltou transformada.
Quanto custa, afinal?
Depende do destino, da duração e da empresa.
Um intercâmbio curto de 2 semanas pela América do Sul pode sair entre R$ 15 mil e R$ 30 mil, incluindo passagens, hospedagem, alimentação e seguro.
Já programas mais longos, como 2 meses no Canadá, podem ultrapassar os R$ 50 mil, especialmente quando envolvem escolas internacionais, homestay e apoio pedagógico completo.
Empresas que oferecem esse tipo de serviço
Aqui vão algumas agências com boa reputação:
• AFS Intercultura Brasil
• CI Intercâmbio
• Egali
• STB (Student Travel Bureau)
• World Study
• BEX Intercâmbio
• Experimento Intercâmbio Cultural
A maioria oferece opções personalizadas, com hospedagem em casas de família (homestay) ou residências estudantis, além de acompanhamento local e suporte 24h.
E quanto tempo é o ideal?
Depende da idade e da maturidade da criança.
Programas curtos (1 a 2 semanas) são ótimos para os primeiros contatos, especialmente para pré-adolescentes. Já os de médio prazo (1 a 3 meses) funcionam muito bem para adolescentes com mais autonomia e vontade de se desafiar.
Aqui em casa, os 12 dias na Argentina foram um “aquecimento emocional” perfeito para os dois meses no Canadá — que, por sinal, passaram voando (não sei pra quem… porque eu fiquei contando os dias!).
Conclusão de mãe para mãe
Mandar um filho para um intercâmbio é um misto de orgulho e angústia. Como disse a host mom da Laura: “It’s bittersweet.”
Mas é, sobretudo, um presente. Você o vê voltar transformado — mais seguro, mais curioso, mais cidadão do mundo.
E isso, minha amiga, não tem preço!









