O que aprendi na prática sobre educação financeira para filhos
Fui desafiada a escrever sobre educação financeira para nossos filhos. Esse tema costuma ser delicado para mim, pois tem muito a ver com minha história de vida e, neste artigo, conto uma parte dela para você.
Tudo começou com minha família de origem. Meu pai e minha mãe começaram a vida a dois de modo bem humilde, recebendo inclusive ajuda de familiares para pagarem o casamento. Ele empregado de um banco com o sonho de se tornar um produtor rural e ela ainda se formando em pedagogia para se tornar professora, grávidos de mim. O único bem que possuíam era uma lambreta. Desde que eu e meu irmão nascemos, nunca permitiram que algo faltasse para nós, mas jamais esbanjamos conforto, pois meu pai e minha mãe estavam totalmente focados na construção de patrimônio e assim o fizeram com muita competência e dignidade.
Minha mãe trabalhava em uma das escolas mais importantes da cidade, onde eu estudava graças a uma bolsa. Então, mesmo tendo uma família modesta, eu convivia com meninas com um padrão de vida muito acima do meu que tinham tudo que queriam e passavam as férias na Disney.
Assim, cresci desejando ter um poder aquisitivo que me permitisse me vestir como eu quisesse, viajar quando quisesse, comer onde quisesse. O resultado?
A partir do momento que comecei a trabalhar e ter meu próprio salário, me revelei como uma tremenda consumista. Corri atrás para construir uma carreira de sucesso. Assim, pude me permitir ter todos os luxos.
Então, chegou a minha vez de ser mãe. Meu filho cresceu de modo exatamente oposto ao meu. Enquanto minha infância foi marcada pelo excesso de controle financeiro, a dele foi marcada pelo excesso de descontrole. Afinal, eu queria que ele tivesse acesso a tudo o que eu não tive na infância. Não demorou muito para que nos tornássemos uma família endividada.
Quando me vi nessa situação, completamente distinta daquela que meus pais gostariam que eu vivesse, sendo nada exemplar para o meu filho no que tange às finanças, percebi a urgência de mudar. A partir daí, começou a minha virada financeira (que me levou a me tornar uma especialista em finanças), com foco total na nossa qualidade de vida e no propósito de mostrar à pessoa mais importante da minha história que podemos, sim, ter uma relação saudável com o dinheiro.
Minha jornada, tanto como mãe quanto como filha – e hoje como mentora de finanças – , traz aprendizados sobre esse assunto:
1- Excessos fazem mal
Poupar demais pode ser tão nocivo quanto gastar demais. O controle exacerbado causa efeito rebote e produz crianças que crescem afobadas para consumir, sem nenhuma criticidade a respeito disso.
2- O melhor dos exemplos fica incompleto com a falta de diálogo
Jamais culparei meu pai e minha mãe por isso, pois sei que eles fizeram o melhor nas condições que tinham. Mas, hoje em dia, sei que nossa conduta e as conversas que temos como nossos filhos são pedagogias complementares quando falamos em educação financeira para crianças e, claro, adolescentes também.
Mostre aos seu filho/sua filha, através do discurso e da prática, que nossas escolhas, bem como nossas “não escolhas”, têm poderes e acionam consequências, que podem ser negativas ou positivas. Também mostre a eles a importância do conhecimento e da clareza no âmbito da nossa vida financeira e, dentro dos devidos limites, chame-os para participarem da relação familiar com as finanças
3- A mãe precisa ser exemplo na administração financeira
Como mulher, um dos maiores legados que você pode deixar para seus filhos e filhas é o seu exemplo como mãe e esposa que se envolve com as decisões financeiras de casa, tendo autonomia sobre seu próprio dinheiro. Assim, se você tiver uma menina, ela crescerá sabendo que, quando chegar a vez dela, poderá fazer o mesmo. Se você tiver um menino, ele será um aliado verdadeiramente parceiro do empoderamento feminino através das finanças.
4- Primeiro tenha sua segurança financeira para depois guardar dinheiro para os filhos
Pensar em investimentos para os filhos é maravilhoso, desde que os pais tenham construído suas reservas. Idealmente eles precisam estar com 40% do patrimônio financeiro requerido para uma boa aposentadoria para então pensar em algo para os filhos. Digo isso, porque a melhor segurança financeira que podemos dar aos nossos filhos é não depender deles financeiramente na nossa velhice.
5- Não delegue aos filhos decisões sobre dinheiro na adultecencia deles
Ainda somos pais, eles ainda precisam de orientação, talvez até mais que na infância. A prática de deixar aportes no nome dos filhos para eles usarem após os 18 anos pode não ser a solução ou o sonho que se espera. Não ter receio de conversas corajosas com as crianças sobre dinheiro, é valioso! Uma frustração pequena na infância bem esclarecida gera força de decisão no adulto.
Até a próxima querida leitora!
Lisa Dossi









