Mães se unem para reivindicar recreio na Florida
Mães unidas: a brasileira Debora Hertfelder entre Kate Asturias (esq) e Louisa Conway (dir). Todas com o flyer o projeto Say Yes To Recess, que reivindica recreio para as crianças na Florida (foto: divulgação)
Aqui no Brasil seria impensável uma escola que não tivesse recreio, mas sabia que nem todo lugar é assim? Na Florida, EUA, o período de intervalo não acontece necessariamente todo dia. Durante o período de estudo, tem dias da semana que as crianças têm uma parada apenas para o lanche e voltam a estudar. Não há aquela pausa para brincar livremente com os amigos. Eu não sabia disso, assim como a administradora Debora Hertfelder, brasileira mãe dos gêmeos Andrew e Eric, de 11 anos. Ela mora nos Estados Unidos há mais de 15 anos, teve seus filhos em Atlanta, na Georgia, onde moraram até 4 anos atrás. Em Atlanta as crianças tinham normalmente o recreio na escola que frequentavam – em cada estado, a lei é diferente. Foi quando mudaram para Miami, na Florida, que veio a surpresa.
Ao perguntar ao seu filho qual era o local na escola que ele mais gostava de ficar, a administradora Debora ouviu a resposta “No banheiro”. Mas… por que o banheiro? “Porque o banheiro é o único lugar onde eu posso ir para dar uma parada, relaxar por uns 5 minutos e depois voltar para a aula “, explicou o filho então com 7 anos.
O argumento das escolas é que não há tempo suficiente ou espaço para esse tipo de atividade. Vale saber que a carga horária de aula é de 8h30 às 13h50 para crianças até o primeiro ano e até 15 horas para os mais velhos. Inconformada, Debora se uniu a mais duas mães americanas, Louisa Conway e Kate Asturias, e iniciaram um grande movimento em prol do recreio obrigatório na Florida. O que elas vem reivindicando desde Fevereiro de 2016: 20 minutos de tempo livre para brincar na escola, preferencialmente ao ar livre, com a supervisão de adultos, nos cinco dias da semana para todos os alunos até o quinto ano das escolas públicas da Florida . “As crianças precisam focar na parte acadêmica, mas não são robôs. Precisam de um tempo para relaxar. E estudos mostram que dar a elas tempo para brincar melhora o rendimento delas nas aulas”, diz Debora. Ou seja, as boas notas estão conectadas aos momentos de descanso.
A reivindicação é muito mais do que um protesto de mães na porta de escola. Cada uma, com seu know how profissional, contribui com uma parte: Louisa usa sua experiência com política, Debora ajuda com a comunicação, já trabalhou nessa área em empresas como Coca-Cola e CNN e Kate lança mão de seu poder de persuasão como advogada. Elas reuniram um vasto material provando a importância do recreio para as crianças. Há dados de instituições de peso como os da Academia Americana de Pediatria que mostram como esse recesso influencia positivamente no rendimento academico e no desenvolvimento social e emocional. “Estamos falando de algo sério, que impacta o bem estar e a saúde mental das crianças”, pontua Debora.
O que começou pequeno, ganhou força, virou até matéria de capa do jornal Miami Herald, reverberou na internet onde milhares de mães deram seu apoio no abaixo-assinado em que consta o projeto de lei. Elas estão fazendo barulho e mostrando que mães unidas podem muito mais. Prova disso é que o movimento já vem tendo resultados. Algumas escolas de Miami, ainda mesmo sem o projeto de lei aprovado já aderiram – incluíram em sua grade 15 minutos de recreio 4 vezes por semana. No finalzinho de março, o trio comemorou mais uma grande vitória: o projeto de lei foi aprovado no Senado da Florida. Agora só falta a aprovação na “House of Representatives”. A inspiradora atitude de Debora e suas parceiras mostra que juntas somos mais fortes. E que quando mães preparadas se reúnem por uma boa causa – especialmente em prol das pessoas que mais amam, os filhos, o sucesso é mais do que esperado.
Debora e os filhos Andrew e Eric (foto: arquivo pessoal)