Adolescência: Reflexões sobre a Série da Netflix e o Papel dos Pais

Não vou dizer que foi fácil assistir à série da Netflix “Adolescência”; foi, no mínimo, incômodo. Essa produção não é apenas um entretenimento, mas um verdadeiro convite para refletirmos sobre o universo dos nossos filhos e o que podemos fazer para acompanhá-los nessa fase tão intensa da vida. A trama, que gira em torno de uma tragédia e dos dilemas enfrentados pelos jovens, nos alerta sobre a importância de estarmos presentes, de verdade, na vida deles.
Nessa obra de ficção, que está em alta nas conversas e grupos de pais do WhatsApp, o autor (e ator principal) Stephan Graham retrata não só a investigação de um crime, do qual o principal suspeito é um garoto de 13 anos, mas também mostra, nas entrelinhas, aspectos que, juntos, podem culminar em consequências desagradáveis.
O ambiente escolar apresentado na produção é bastante hostil, onde o respeito parece ter desaparecido e não existe autoridade por parte de quem deveria gerenciar, mas sim autoritarismo. Será que foi em vão que o autor quis mostrar um ambiente escolar negativo? Não é o clima escolar que estamos acostumados. Isso nos faz lembrar que, como pais, temos o dever de sermos criteriosos na escolha da escola que melhor atende às nossas crianças.
Outro aspecto abordado é a relação entre os familiares e o clima dentro de casa. Criar um lar que seja um verdadeiro refúgio faz parte do compromisso que assumimos ao decidir ser pais e mães. Quem disse que seria fácil? É ali que nossos filhos devem se sentir à vontade para desabafar, compartilhar medos e inseguranças.
“Adolescência” também ilustra como alguns jovens se sentem perdidos e desmotivados, buscando aceitação e conexão. Isso me faz pensar na importância da referência e da estabilidade dos adultos que cercam esses jovens. Portanto, dar bons exemplos é a melhor educação que nós, pais, podemos oferecer. Isso porque a criança se espelha nas referências que ela tem e isso influencia muito nas atitudes dela diante da vida. A convivência familiar é como o alicerce de uma casa; sem ela, tudo desmorona. É, de fato, o nosso porto seguro. Estar presente não é apenas dividir o mesmo espaço. Ao conviver, demonstramos empatia, respeito e responsabilidade; dessa forma, estamos ensinando nossos filhos a serem cidadãos conscientes e estruturados emocionalmente. Às vezes, um simples gesto — como ouvir com atenção ou dedicar um tempo para um programa em família — pode ser a chave para se conectar com os adolescentes e fortalecer os laços. Não basta perguntar “Como foi o seu dia?”; essa pergunta é muito vaga, não acham? A chance de seu filho responder “foi bom” e ponto final é grande. Pense em perguntas que o incentivem a discorrer mais, como: “O que você fez na aula de educação física?”. Mas para isso, concordam que é preciso estar a par da rotina do filho? Pois é… Isso dá trabalho… Mas tantas coisas dão trabalho. Algumas delas podemos delegar, mas jamais a criação dos filhos. Essa é uma tarefa pessoal e intransferível! O filho é seu!
Outro aspecto que não pude deixar de notar foi como Stephan fez questão de mostrar a personalidade e a atitude agressiva dos adolescentes ao longo da trama. É chocante! A vulnerabilidade e a sensibilidade que deveriam estar no ar deram lugar à prepotência e arrogância. Ele tem altos e baixos. Episódios de calma e episódios de ira. Sim, ele está vivendo uma situação fragilizada, mas não dá para generalizar e dizer que esse é protótipo da adolescência. Esse comportamento é um desvio.
Além disso, o menino tem um poder em relação aos adultos que se relacionam com ele. Como pode um adolescente de 13 anos ter tanta soberba e propriedade ao conversar com adultos? Quando é que o poder vem antes de maturidade e discernimento? Aqui vale uma reflexão sobre os limites que os pais precisam colocar como responsáveis pela orientação e não se intimidarem em dizer o que está certo e errado. Existe, sim uma tendência de as crianças se empoderarem hoje, mas elas precisam entender que conviver e defender suas ideias passa por uma relação de troca e de respeito – e não de imposição. O exemplo de como esse diálogo acontece na prática também vem dos pais.
E a famigerada rede social? O problema das redes… o cyberbullying? Os códigos e emojis? Por que não falei sobre isso logo de cara? Porque, para mim, esse não foi o pior dos problemas apontados na série. Desde sempre, os adolescentes tem seus dialetos, atribuem apelidos aos colegas, nem sempre “fofos” – me lembro bem que na minha geração existia pouquíssimo filtro para isso, então vou poupar você dos exemplos, hoje seríamos todos cancelados.
Ao meu ver, o cenário conturbado da vida do menino pode levar a consequências desagradáveis e isso é sim, motivo de preocupação. Ele sofria um bullying e, não conseguindo lidar com a situação, optou pela atitude mais extrema. Cadê a escola para ajudar nesse caso? Cadê os pais? Quem estava olhando para esse menino de verdade? A série trata disso, dessa reflexão sobre termos um olhar atento. Não se trata apenas de conviver no mesmo espaço, mas de estabelecer uma relação de troca verdadeira e de profundo interesse. Assim, esse problema não pode ser tratado como uma consequência do mundo digital. Sou adepta da tecnologia e acho que ela deve estar a nosso favor. É preciso usar o celular, tablet ou computador com parcimônia e aproveitar o que ela oferece de melhor com discernimento e valores morais consolidados.
A Netflix usou a ficção para discutir questões que exigem a nossa atenção. A série nos provoca a pensar sobre como podemos garantir que nossos filhos sejam felizes nos dias atuais e na era das redes sociais. Quem são os educadores? Vamos olhar para dentro de nossas casas e nos perguntar: estamos realmente presentes na vida de nossos filhos? Afinal, somos nós que estamos moldando o futuro deles. Isso tudo é um convite à reflexão. Vamos aproveitar essa oportunidade para fortalecer nossos laços, dar bons exemplos e criar um espaço seguro e acolhedor para nossos filhos. A adolescência pode ser desafiadora, mas, juntos, podemos torná-la mais leve e repleta de aprendizados.