Paris 2024: as olimpíadas mais amigas das mães. Saiba por quê
As Olimpíadas Paris 2024 vão ficar marcadas para as mulheres. Além de o evento ter atingido a marca de igualdade total de gênero, com 50% de participação de atletas mulheres, pela primeira vez na história das Olimpíadas, foi possível desfrutar de um espaço projetado para receber pais, mães e seus filhos. A creche, chamada de Espaço Família, fica localizada na própria Vila Olímpica e conta com trocadores, áreas de amamentação, de convivência familiar e de recreação. Tudo projetado para que os atletas com crianças sejam devidamente assistidos.
Isso foi possível graças às sugestões e ao trabalho de Allyson Felix (@allysonfelix), ex-velocista norte-americana e atual integrante da Comissão de Atletas do COI (Comitê Olímpico Internacional). A ex-atleta se baseou na própria experiência como atleta e mãe para propor as novas instalações.
“Eu apenas sabia o quão difícil seria competir no nível mais alto depois do nascimento da minha filha. Algumas coisas práticas também já eram bastante difíceis. Então, quando integrei à Comissão de Atletas do COI, eu realmente queria ser uma voz para as atletas que são mães, e deixá-las com algo a menos para se preocuparem, durante a pressão da competição. No Espaço Família, as mães podem brincar com as crianças, alimentar os seus bebês e fugir do barulho dos Jogos Olímpicos”, comentou Allyson antes do início dos Jogos. Completando, em seguida: “(…) Eu acredito que isso realmente diga às mulheres que elas podem escolher a maternidade e, também, estarem no topo de seus esportes – sem que precisem perder o ritmo. Esse lugar (Espaço Família) é um ponto de partida. Eu adoraria fazê-lo crescer ainda mais”.
De acordo com o COI, em média, cinco famílias utilizam o local durante o dia. Iniciativas como as de Allyson transmitem as intenções de avanço e progresso do Comitê, que pretende se tornar cada vez mais inclusivo e colaborativo com as atletas. E, do lado de cá, as espectadores se veem representadas com muita emoção.
“Quando integrei à Comissão de Atletas do COI, eu realmente queria ser uma voz para as atletas que são mães, e deixá-las com algo a menos para se preocuparem, durante a pressão da competição.” Allyson Felix, ex-velocista norte-americana e atual integrante da Comissão de Atletas do COI.
O poder da maternidade
Além das iniciativas do COI, vimos exemplos de que maternidade não é fraqueza e, sim, força. A esgrimista egípcia Nada Hafez (@nada_hafez) surpreendeu a comunidade internacional quando, após vencer a primeira partida, anunciou que estava grávida de sete meses. Em sua conta pessoal do Instagram, Nada escreveu: “o que lhes parece duas competidoras no pódio, na verdade, são três! Estávamos eu, minha rival e meu ainda não nascido e pequeno bebê!”. Apesar da gestação avançada, a barriga de Nada mal aparecia por trás de seu traje; por isso, a surpresa foi geral. E, o que é o principal, a gravidez não a impediu de ser classificada para as Olimpíadas, nem de competir ou de vencer.
A mesma situação se repetiu com Yaylagul Ramazanova (@yayo_gul), arqueira do Azerbaijão, que – esta, visivelmente grávida – sentiu o seu bebê de seis meses chutar dentro da barriga, antes de disparar a sua última flecha e atingir a pontuação máxima. Tanto as imagens de Nada quanto as de Yaylagul são poderosíssimas. Ambas carregam um peso simbólico monumental para as mães, de que, com cuidado e comprometimento, mulheres grávidas são potências implacáveis.
Para além da força individual dessas atletas, o apoio da comunidade é fundamental ao bem-estar de competidoras que têm filhos pequenos. A brasileira Flávia Maria de Lima (@mariadelimaflavia), que disputou a prova de 800 metros do atletismo, viajou a Paris sob o risco de perder a guarda de sua filha de 6 anos de idade. Pois, segundo seu ex-marido, que disputa com Flávia a guarda da criança na justiça, a atleta teria “abandonado” a filha para ir às Olimpíadas.
Esse tipo de acusação e de pensamento ainda são muito comuns nos dias de hoje. Eles servem como tentativas de desmerecer mães que trabalham, ou de associar uma boa maternidade à submissão completa. No entanto, exemplos como os de Flávia, Nada e Yaylagul reforçam a importância da representatividade feminina e materna em eventos esportivos. E, quando falamos em ajuda comunitária – não só de familiares, técnicos ou do público geral, mas sim do próprio COI –, esta contribui diretamente com o sucesso das atletas que são mães.
Quem sabe quais as próximas barreiras a serem superadas nas Olimpíadas de Los Angeles, não é? Até 2028, nós seguimos na esperança de que as mulheres, mães ou não e atletas ou não, continuem encontrando mais portas abertas para o seu sucesso em qualquer área.