Manual da mãe empreendedora imperfeita


Daniela Folloni
por: Daniela Folloni
Jornalista fundadora e diretora de conteúdo do Portal It Mãe

Cada vez mais mães decidem ter um negócio próprio para poder ter mais flexibilidade na rotina e assim ficar mais próxima dos filhos. Lígia Dutra Zeppelini é uma delas e é também a criadora da UpaLupa.me, uma empresa com o objetivo de conectar pessoas e incentivá-las a viver o seu propósito de vida por meio do empreendedorismo. Depois do nascimento de sua primeira filha, a Joana, hoje com 5 meses, Lígia criou um curso focado especialmente nas mães que querem empreender. Chamado Upalupa Family, o workshop é tão baby and kids friendly que é dado na Casa do Brincar, em São Paulo, para que as mães (e pais) possam levar seus filhos e deixá-los com monitores enquanto aprendem mais sobre empreender.  Aqui Lígia fala, num texto delicioso e muito verdadeiro sobre os desafios de uma mãe empreendedora:

 

“Li um texto esta semana e achei o máximo! E quando penso em mães que desejam empreender, acredito que faço um ótimo papel de trazê-las para a realidade, mas nem por isso desmotivá-las, muito pelo contrário: contando o quanto é normal ser imperfeita acredito que elas sintam ainda mais vontade de botar pra fazer! Então sem medo de ser feliz vou citar a fonte, a querida Debora Bortoleti que é integrante do LuluzinhaCamp como eu, e fazer um paralelo com trechos do texto maravilhoso que ela fez e vocês podem conferir aqui.

Sabe aquela história de manuais de como ser a melhor mãe do mundo? Pois é, na vida de mãe empreendedora isso se multiplica porque você junta todos os manuais que acham que vão te ensinar a ser mãe e mulher perfeita, com aqueles infalíveis best-sellers de “Fique milionário antes dos 30” – “7 dicas para ser a marca mais amada do facebook” e por aí vai, feito aquelas revistinhas que possuem mil fórmulas para emagrecer! Bom, se você tá **** e andando pra isso, aí vai um manual para a Mãe “empreendedora” imperfeita.

Em destaque em bold nos trechos do texto da Dé e em seguida meus comentários do mundo empreendedor…

Capítulo Um – Choque de realidade

Na porta da maternidade não existe um portal encantado pelo qual você passa e se torna a melhor mãe do mundo. Aceite isso. Esse é o primeiro passo.

Ótimo, se você já saiu da fase romântica e fantasiosa de ter um filho e descobriu que a ideia e a realidade são drasticamente bem distantes e diferentes, saiba que para transformar sua ideia num negócio lucrativo o caminho é o mesmo.

Enquanto você ainda está planejando meu bem, o papel aceita tudo, agora quando decidir de uma vez por todas dar adeus a vida de assalariada aí o buraco é mais embaixo! E assim como você e mais ninguém será a melhor mãe para o seu filho, você e mais ninguém será a melhor pessoa para executar a sua ideia!

Não terceirize isso! O papel de criar e vender o seu negócio é seu! É como amamentar: só a gente pode fazer! As outras pessoas colaboram e é ótimo saber e poder contar com ajuda. Ninguém cria um filho sozinha e ninguém faz uma ideia sair do papel sozinha! Monte sua família/time e seja feliz!

Em 80% do tempo você estará P da vida morrendo de saudade do seu salário, mas quando algo que você fizer emplacar, hummmm, é como o sorriso banguela do filho que amolece nosso coração.

Capítulo Dois – Amor de mãe, amor eterno

Amor materno não é algo que acontece automática e sincronizadamente com o toque da tesoura no cordão umbilical ou com a papelada da adoção assinada e carimbada.

A minha ficha que eu já era mãe só caiu cerca de 20 dias depois que a Joana nasceu e o tal amor profundo que tanto falavam surgir logo após a saída dela também não rolou assim… Foi tomando conta aos poucos enquanto eu me achava uma ET… Mas de repente você se vê cercada de amor por todos os lados, por dentro, por fora e não consegue e nem quer escapar daquilo!

Não foi da maneira perfeita que eu imaginei, mas foi do jeito que tinha que ser comigo e isso é o que importa! Empreender também é por aí… Você acha que vai amar de uma hora para outra sua nova rotina e suas novas conquistas, mas descobre em pouco tempo que o dia-a-dia de uma empresa é tão chato quanto trocar fraldas e roupinhas o tempo todo!

Por isso que insisto tanto em dizer que se você quer trabalhar apenas com o objetivo de ganhar dinheiro, continue no seu emprego, mas se o que te move é algo além disso, se você possui o desejo de deixar um legado: empreenda! Com muito amor pelo que você faz, há grandes chances de ir loooooonge!

Capítulo Três – O exército da não-salvação

Um exército de pitaqueiros invadirão sua casa, sua vida, sua mente, sua televisão, seu telefone, os grupos de internet que você participa, aparecerão em missão secreta por meio da conversa da vizinha, da avó da tia, da sua mãe, do seu pai, da sua avó, do seu marido. Todos, absolutamente todos os seres humanos do universo, saberão cuidar do seu filho, qualquer que seja a idade dele, melhor do que você, a mãe da pessoa.

Isso dá uma raiva sem tamanho! Mas daí você pára e lembra de quantas vezes você esteve do lado de lá… eu dou risada de mim mesma lembrando dos absurdos que já falei para outras mães. Por isso que hoje aposto muito mais em experiências que facilitam a minha própria descoberta (e raros cursos oferecem isso hoje) do que situações que só me colocam na frente de gente que ACHA que sabe mais do meu negócio do que eu mesma, do que meu cliente e na hora que eu pergunto: – Ok, então como faço para isso vingar? Me respondem: – Aí é contigo! – Caspita!

Bom, assim como não é ninguém que acorda de madrugada para dar de mamar infinitas vezes feito zumbi no seu lugar e na hora que as contas chegam na sua empresa também ninguém vai pagar por você, relaxa e finja que está ouvindo…

Minha saída foi criar ambientes de colaboração onde “trocamos” figurinhas e criamos situações reais para que ideias saiam do papel e ganhem vida de forma justa: onde todos ensinam e todos aprendem! Aí os palpiteiros nem chegam perto porque sabem que terão que trabalhar… hehehe

Capítulo Quatro – Eu nunca mais vou dormir?

Desde o dia que o filho estrear na sua vida, um fato é certo: você nunca mais vai dormir. NUNCA MAIS.

E se você resolver empreender então… kkkkkkk Madrugadas a fio fazendo conta, atualizando o site, fazendo contatos, respondendo e-mails, organizando eventos… UFA! Sempre trabalhando nos intervalos que o seu filho dorme… e as sonecas? Hã? O que é isso? Isso não te pertence mais!!!!

E não é exagero, minha gente! Eu que nunca tive olheiras tô parecendo um panda! Mas quando as vezes vou dormir as 5h da matina e ouço os passarinhos cantarem, pô, é tão bonitinho! Fora que você acorda no mesmo dia e sente que tudo que você fez deu bons frutos e fica hiper feliz! Ou não…

Capítulo Cinco – Medo e culpa

1. Tenha em mente as frases números dois e três como um regra soberana de sua vida:

2. Não se cria filho com medo.

3. Não se cria filho com culpa.

4. Repita o item “um” sempre que tiver alguma dúvida se o que você faz por amor está certo ou não.

Daí vou descordar um pouco da minha amiga Débora… medo e culpa são sentimentos incontroláveis e por vezes o próprio medo faz bem porque é um mecanismo de defesa quando bem utilizado. Não negue os seus sentimentos, encare, assuma e viva com seus medos, culpas, filhos e negócios, não tem escapatória! Você não é perfeitaaaaaaaaaaaa! Pode sentir medo! Pode se cagar de medo diante de uma atitude arriscada, mas não deixe de arriscar por causa dele. Go! Pode sentir-se culpada, faz parte, mas depois, assim, não demore muito não, perdoe-se! Vai ver que tudo passa…

Capítulo Seis – Meu filho me odeia

O seu filho odeia você? Parabéns. Você tem um filho saudável, do ponto de vista psíquico. Filhos odeiam as mães porque são elas que dizem “não” quando tudo o que eles querem é ouvir “sim”.

Como na vida precisamos ser fortes para ouvir isso de um filho sabendo que está fazendo o melhor para eles, ou tentando fazer, nos negócios vai precisar por várias vezes confiar no seu taco e encarar o ódio de muita gente. A rejeição também! E esta última é a que por vezes mais machuca!

São pessoas te olhando de cima para baixo porque seu negócio ainda é pequeno, gente que faz cara de paisagem quando você está falando apaixonadamente do que faz, gente que faz você sentir na pele a máxima de que as pessoas só valem o que tem!

Ok, pode se aborrecer, assim como a gente também chora quando o filho faz “mal-criação”, mas acima de tudo agradeça! Agradeça a Deus por colocar estes desafios no seu caminho porque isso te amadurece. É o tal do “não” que as mamães também precisam ouvir de vez em quando.

Capítulo Sete – Não negocie com terroristas

Uma hora ou outra na vida aquele bebê com olhos redondinhos, tão fofo, meigo e que você ama tanto, será possuído por um ser altamente tirano e desafiador, usando de suas armas mais letais como chantagem emocional, birra em local público, chilique fora de hora, ou outra que lhe for mais conveniente, para tirar de você aquilo que ele mais quer.

Prepare-se para quando esse momento chegar assistindo a filmes educativos como Tropa de Elite, Duro de Matar, ou qualquer um com o Samuel L. Jackson, e aprenda com os melhores a se manter firme, impávida e inabalável como o sorriso do John McLane.

E lembre sempre: não se negocia com terroristas.

Ao contrário dos filhos que são pra vida toda, desapegue de um negócio se ele aterrorizar a sua vida e não for lucrativo! Peloamordedeus! Não teima! Empreender não é sinônimo de ser masoquista! Filho é pra vida toda e não se negocia quando estão nestas condições aí de cima, mas negócio ruim a gente se livra, a gente vende, dá, faz sei lá o que, mas não deixe ele te consumir! Combinado?

Capítulo Oito – Curso para mães

Só existe uma faculdade disponível para te ensinar a ser mãe. O nome dela é Filho. Ouça-o.

Só existe uma faculdade disponível para te ensinar a empreender. O nome dela é cliente. Ouça-o. Junte-se a ele. Na maior parte do tempo ele não morde. Faça amigos e depois faça negócios (Alguém já disse isso…rs)! Faça amigos na fila do banco, no trânsito, na padaria, mostre-se interessado em saber o que as pessoas fazem e sinta qual sinergia pode fazer para gerar uma relação ganha-ganha.

No batizado da minha filha estava conversando com uma mãe e ela estava muito triste porque já teria que voltar ao trabalho na segunda-feira e deixar a filha com a sogra. Óbvio que dei meu cartão pra ela e rezei a missa de que para conciliar vida profissional e filhos o caminho do empreendedorismo foi o ideal pra mim e se ela sentisse vontade de experimentar poderia tornar-se uma UpaLupa.

De repente vejo meu marido comentando com o padrinho da Joana: – A Lígia não tem jeito! Até na igreja, no batizado da filha, essa mulher quer trabalhar!” Mas ele sabe que isso pra mim não é trabalho como a maioria das pessoas encara o trabalho, tipo algo pesado, eu super me divirto trabalhando, eu amo o que faço e aprendo demais em contato com as pessoas… e outra: não tinha nenhuma plaquinha lá dizendo que não podia! Humpf!

Fora que foi daí que nasceu a ideia de fazer as oficinas na Casa do Brincar, afinal é um lugar que já concentra as famílias e a mãe poderia se capacitar sem ter que deixar o filho com alguém. Parece tão óbvio, mas só conversando com o cliente que a gente descobre mesmo… (Pode soltar um Dãr! rs)

Capítulo Nove – Filho é a melhor coisa que vai acontecer na sua vida!

Mentira. Ter filho não é bom, não. Bom mesmo é ter o tempo todo da sua vida para você… Bom mesmo é ter a vida que você quiser, sem mudar nadinha, nadinha por causa de outra pessoa. Daí que, segundo este Manual, você não será um monstro se um dia pensou em como seria a sua vida se seu filho não existisse. Se você não fosse mãe. Sabemos que, como Mãe Imperfeita, no entanto, você sequer lembra como era sua vida antes de ter seu filho. Então, por este manual, você está perdoada de imaginar.

E como mãe empreendedora imperfeita você também terá momentos de nostalgia lembrando da época que conseguia chegar em casa e só pensar no trabalho no dia seguinte. Agora que você trabalha a maior parte do tempo em casa com o pentelho te rodeando, affffffffff, tudo junto e misturado te enlouquece, mas você vai se perdoar ao ter vontade de pendurá-lo na janela porque foi a única forma que achou de manter sua dignidade, sua independência e não perder os momentos mais importantes da criatura que tornou-se a razão da sua vida. Afinal, caixão não tem gaveta e dificilmente seus clientes ou chefes vão limpar seu “bumbum” (olha que jeito fofo de chamar a bunda da gente….rs) quando ficar velhinha, mas se você for uma boa mãe tem boas chances dos seus filhos fazerem isso por você.

Capítulo Dez – Rasgue esse Manual em mil pedacinhos

Se você é uma Mãe Imperfeita já deve ter aprendido que filho não se cria por manual, opinião alheia, palpite. Filho se educa, e por amor. Filho se cria pelo coração, e pelo caminho do afeto e da humanidade que você tem dentro do peito.

Empreender é ter aquela vontade incontrolável de colaborar com um mundo melhor. Como mães fazemos isso criando bons filhos, como profissionais fazendo bons negócios com gente do bem.

Portanto siga seu coração, esteja conectada e divirta-se!

Lígia Dutra Zeppelini (a mãe empreendedora imperfeita da Joana)

  • Daniela Folloni

    Jornalista, mãe de Isabela e Felipe, trabalhou nas revistas Vogue, Cosmopolitan e Claudia. Acredita que toda mãe merece sucesso, diversão, romance e oito horas de sono

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