Sobre pedir aumento (sendo mulher e mãe)
Tem coisa que a gente aprende vivendo (tropeçando, chorando no banheiro do escritório e depois voltando pra reunião como se nada tivesse acontecido). Mas tem coisa que ninguém te ensina. Uma delas é como pedir aumento. Pior ainda: como pedir aumento sendo mulher. E mãe.
Porque não é só sobre dinheiro. É sobre dar conta da entrega no trabalho e da entrega na escola das crianças. É sobre acordar cedo pra fazer lancheira, bater meta até 18h e ainda sorrir no parquinho.
E mesmo depois de tudo isso… ainda nos sentimos culpadas por pensar em querer mais.
Vamos conversar sério?
A sensação de estar “pedindo demais” é real. O medo de parecer ingrata. A dúvida se “é o momento certo”. A culpa de pensar nos gastos de casa, na parcela do carro, na autonomia que o dinheiro traz.
A dúvida se é ganância… ou só justiça pelos nossos esforços, quando sub valorizados.
Vamos por partes, acompanhe meu raciocínio:
- Dinheiro não é tabu. É posicionamento. Você não precisa pedir aumento com cara de quem pede um favor. Você pode — e deve — falar de salário com a mesma clareza que fala sobre suas entregas, responsabilidades e metas. Quem te contratou sabia que você tinha ambições, boletos e planos. E eles cresceram desde que você chegou. Pedir aumento não te torna gananciosa. Te torna consciente do valor que você entrega. E isso é maturidade profissional.
2. Antes de pedir, prepare seu pitch. Mas de forma inteligente. O erro mais comum é listar tudo que “faz” no trabalho. O acerto? Mostrar o impacto do que você entrega. O valor que você gera. “Eu me esforço muito… Tenho feito mil coisas… Estou em todos os projetos…” Ok, e daí? Ser ocupada não é o mesmo que gerar valor. Agora experimente trocar o tom: “Desde que assumi a frente do projeto X, entregamos um crescimento de 20% em Y, o que impactou diretamente a meta Z da companhia.” É sobre mostrar resultados. Contribuição. Foco no negócio. Use números, KPIs, exemplos reais. Você tem tudo isso, só precisa se lembrar.
3. E quando falarem “agora não é o melhor momento”? Você pode responder com gentileza: “Entendo. Podemos então definir um prazo claro para revisitar esse tema? E quais seriam os critérios objetivos para uma evolução futura?” Essa pergunta vira o jogo. Eleva a conversa. Porque faz o gestor sair da zona do “não” automático e entrar na zona da responsabilidade com o seu crescimento.
4. E o fator “mãe”? Sim, ele pesa, mas não pra você se esconder, e sim pra se posicionar com ainda mais profissionalismo. Você não quer o aumento apesar de ser mãe. Você quer o aumento porque entrega, performa e sustenta uma família. Você não está pedindo um favor. Está pedindo coerência com o valor que você gera. Você não está se escondendo atrás da maternidade. Você está mostrando que lidera dentro e fora de casa. E isso é uma habilidade, não um problema.
Mães que trabalham fora já se sabotam demais. A lista de motivos é imensa. Parece que a gente nunca merece. E passou da hora de mudarmos a narrativa. Você não precisa de coragem pra pedir aumento. Você precisa de consciência sobre quem você é e do impacto que você traz para o time, a área e a empresa. O resto é só ajuste de discurso.
Por fim: coragem ou consciência? A gente sempre acha que precisa de coragem pra pedir aumento.
Mas o que você precisa mesmo é de consciência sobre o que entrega.
Você já performa.
Você já lidera.
Você já inspira.
O aumento não é um presente. É consequência.
Ajustar o discurso, treinar o pitch, organizar os dados: tudo isso ajuda. Mas o que te leva pra conversa com postura é saber que você não é uma funcionária comum. Você é uma profissional que sustenta resultados e uma casa inteira ao mesmo tempo. E se o mercado não está preparado pra isso? Azar do mercado.









