Menos padrão e mais beleza
56% das brasileiras se diz insatisfeita com o que vê no espelho, segundo pesquisa (Foto: 123RF)
Não é de hoje a discussão sobre padrão de beleza. As celebridades e as über models agora disputam também com as blogueiras fitness fazendo biquinho no Instagram. Ao mesmo tempo que essas mulheres, tidas como ícones, nos inspiram, esse ideal também cria um sentimento de exclusão, pois nenhuma delas representa a maioria de nós: nem sempre magra, nem sempre sarada, nem sempre branquinha, nem sempre loira, nem sempre lisa… E, apesar de tanto debate ao longo de mais de uma década, a questão continua em alta, agora com algumas peculiaridades às quais precisamos ficar atentas para mudar o curso dessa história. É o que mostra uma nova pesquisa do Comitê Global de Estudos sobre a Beleza, patrocinado pela marca Dove.
Se antes o assunto girava em torno da impossibilidade de se encaixar em determinado perfil, em 2016 vivemos um outro dilema. “Com a ascensão da cirurgia plástica, dos procedimentos cosméticos e das dietas da moda, espera-se que as mulheres tomem os passos necessários para serem bonitas. Não se enquadrar no ideal de beleza já não é mais uma sentença permanente, decidida ao nascer, mas é visto como uma escolha individual”, fala Joana Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio e psicanalista que liderou a pesquisa. Ou seja, com tantas ferramentas acessíveis, é agora a nossa responsabilidade perseguir o tal padrão! Mas ser senhora dessa transformação coloca uma pressão inacreditável sobre a vida das mulheres. “Qualquer imperfeição ou falta de esforço para ter a melhor aparência é visto como uma grande falha e é essa tensão que leva à maior insatisfação das brasileiras”, explica. Os números comprovam: 57% das mulheres brasileiras e 63% das jovens brasileiras (entre 10 e 17 anos) acham que não há desculpa para não ser bonita com tudo o que está disponível na indústria e nos consultórios. Só que oito a cada 10 delas se sentem pressionadas justamente com essa afirmação.
“No Brasil, as mulheres querem ‘ser tudo’: bonita, inteligente e ter sucesso em suas carreiras. Adicione-se a isso a cobrança para cumprir os papéis tradicionais (como mãe, esposa, filha, dona de casa) e milhões de mulheres amargarão o sentimento de fracasso por não se sentir suficientemente adequadas nesses diversos aspectos”, alerta Joana. A questão do padrão de beleza é de todos na sociedade, claro. Podemos nos engajar a fim de pressionar os meios de publicidade para que cada vez mais diversos tipos ganhem espaço nos comerciais — das magras às curvilíneas, das jovens às idosas, das negras às orientais e tudo o que está entre os extremos. Devemos combater ainda o modo como os outros nos rotulam, nos forçando a uma convenção estreita demais. Mas até que haja uma verdadeira mudança que venha de fora, que contemple a diversidade e celebre a beleza democraticamente, cabe a nós, mulheres e mães, mudar a forma como nos percebemos. Já sabemos que não dá para ser mãe-maravilha. Que tal também parar de se cobrar tanto e aceitar o seu jeito de ser bonita? Se cuidar sim! Se sentir aprisionada com isso nunca!
Autoestima X beleza
Os números da pesquisa do Comitê Global de Estudos sobre a Beleza mostram que ainda precisamos ser mais acolhedoras com nós mesmas (e com a próxima geração de mulheres, as nossas meninas): aceitar e celebrar as diferenças, inclusive quando o assunto é corpo, cabelo, rugas e outras imperfeições não tão imperfeitas assim!
63% das mulheres brasileiras e 57% das garotas brasileiras (de 10 a 17 anos) acreditam que, para as mulheres serem bem sucedidas na vida, elas precisam ter um certo tipo de aparência.
57% das mulheres e 63% das jovens brasileiras acham que não há desculpa para não ser bonita com tudo o que está disponível atualmente.
7 em 10 mulheres acreditam que as mulheres bonitas têm mais oportunidades na vida.
8 em 10 mulheres brasileiras (83%) e garotas brasileiras (84%) se sentem pressionadas com isso.
82% das mulheres gostariam que a mídia fizesse um trabalho melhor, retratando mulheres de diversas estruturas físicas – idade, raça, corpo e tamanho.
Apenas 56% das mulheres dizem que estão satisfeitas com sua aparência no espelho.
Apenas 54% estão satisfeitas com seu peso.
83% das mulheres sentem que, se estivessem contentes com sua aparência, a confiança em si mesmas seria maior.