Seu filho não come? A fono pode ajudar!


Malu Echeverria
por: Malu Echeverria

Se alimentar o seu filho se tornar um tormento para você, não hesite em buscar ajuda! (Foto: 123RF)

Alimentação infantil é um dos temas que mais gera dúvidas – e culpa! – nas mães. Mesmo que a gente siga todas as dicas de pediatras e nutricionistas, o filho pode se recusar a comer e pronto. O que muitas não sabem, entretanto, é que boa parte dos problemas que permeiam a relação da criança com a comida podem ser resolvidos com a ajuda de outro profissional, o fonoaudiólogo. “O fonoaudiólogo especializado nessa área de desenvolvimento infantil pode identificar se existe alguma dificuldade motora e sensorial da criança, por exemplo, como um problema na sucção, mastigação e deglutição, assim como na maneira como ela percebe a textura dos alimentos”, diz Patrícia Junqueira, do Instituto de Desenvolvimento Infantil e colunista do It Mãe. Ela, que é uma das pioneiras nesse tipo de abordagem no Brasil, ressalta que comer não é apenas nutrir-se, pois envolve aspectos ambientais e emocionais. É com esse olhar ampliado que escreveu, recentemente, o livro Por Que Meu Filho Não Quer Comer, Uma Visão Além da Boca e do Estômago (Idea Editora), do qual conta mais a seguir.

It Mãe: Você inicia o livro falando que a culpa do filho não querer comer não é da mãe. Que bom!
Patrícia Junqueira: Todas as mães que me procuram para ajudar o filho a se alimentar melhor carregam essa culpa. O que não surpreende, já que a responsabilidade de nutrir geralmente é delegada à mulher. Até mesmo entre os animais isso acontece, a mãe só se afasta do filhote quando o mesmo aprende a buscar os alimentos sozinho. Essa cobrança é reforçada pela classe médica e pela sociedade. Mas existem muitos aspectos que envolvem a maneira como nos alimentamos, tanto físicos quanto ambientais. Comer não significa apenas nutrir-se, é também um ato social. Por isso, quando surge algum obstáculo, não adianta tratar apenas a criança e sim toda a família.

Recusa de grupos inteiros de alimentos, desconforto ou náusea ao comer são sinais de alerta (Foto: Divulgação)

It Mãe: Muitas vezes, a criança até come, mas a mãe acha que ela não se alimenta o suficiente. Quando a alimentação infantil é realmente um problema?
P.J.: Os sinais mais clássicos são peso e altura abaixo do esperado para a idade. Mas há outros aspectos aos quais os pais devem estar atentos: recusa de grupos inteiros de alimentos (nenhum tipo de fruta, por exemplo), desconforto ou náusea ao comer. É natural um estranhamento inicial nas fases de transição, como do peito para as primeiras papinhas, mas idealmente ela tende a se adaptar depois de um mês. Entretanto, se não consegue evoluir no que diz respeito à habilidade de comer, o que significa aceitar alimentos de diferentes consistências, sabores e texturas, vale a pena buscar ajuda. Por último, se a hora da refeição se transformar em um verdadeiro tormento para a família, chegando a afetar a dinâmica familiar, é preciso investigar também. Já a quantidade nem sempre é um problema. Não apenas porque a criança tem o estômago menor do que os adultos mesmo, o que a leva a comer menos evidentemente. Mas também porque outros fatores podem interferir, como a maneira que ela foi alimentada na vida intrauterina: os prematuros, por exemplo, tendem a comer pouco por uma questão de metabolismo.

It Mãe: E quais são as principais razões pelas quais as crianças não comem?
P.J.:
Problemas gastrointestinais, como refluxo, e alergias são razões bastante documentadas na literatura médica. Porém, além dessas, há questões orais e sensoriais, menos comentadas: dificuldade na mobilidade da língua e imaturidade no sistema sensorial, por exemplo. Se pensarmos bem, comer é o ato mais sensorial que existe, pois envolve o olfato, o paladar, a visão… São muitas informações! Essa imaturidade pode interferir na interpretação de tudo isso pelo cérebro, fazendo com que ele rejeite o alimento. Já os problemas orais podem afetar a sucção, a mastigação e a deglutição… Alguns especialistas acreditam que os obstáculos sejam apenas comportamentais, uma questão de mudar alguns hábitos e pronto. Mas pela minha experiência posso dizer que isso é o de menos.

It Mãe: O seu livro está cheio de dicas para resolver esse drama. Mas se você tivesse que dar apenas uma, qual seria?
P.J.: O primeiro passo para resolver o problema é cuidar da mãe. Isso mesmo! Se ela não estiver tranquila, a criança não vai estar. Como naquela história da máscara do avião, sabe? Muitas abordagens falham porque menosprezam a mãe, em vez de acalmá-la. Os especialistas, de modo geral, só fazem criar regras, quando deveriam lhe dar mais autonomia. Por isso, eu prefiro tranquilizá-la e, a partir daí, fazer com que ela reflita sobre as possíveis razões por trás do problema. Paralelamente, buscamos juntas soluções para revertê-lo na prática. Pode ser que seja preciso oferecer alimentos mais calóricos, se ela come bem, mas come pouco, por exemplo. Pode ser que seja preciso mudar a consistência dos alimentos, deixando os legumes mais crocantes. Assim como deixar a criança “brincar” com a comida a fim de criar novas experiências e esquecer os antigos traumas. Enfim, as respostas variam conforme o caso, porém, o tratamento, repito, tem de envolver toda a família.

  • Malu Echeverria

    Jornalista, mãe do Gael e redatora-chefe do It Mãe. Para ela, é essencial colocar a máscara de oxigênio primeiro na gente, depois na criança

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