Ser mãe e ter uma carreira… E aí? Deu certo?
Um dos maiores desafios das mães que trabalham fora é equilibrar a vida profissional e a maternidade. A gente acha que não vai dar conta. Acha que vai prejudicar o desenvolvimento dos filhos. Se sente culpada. Dividida. Mas será que no final das contas dá certo ou não?
Conversamos com mulheres que passaram por isso e, hoje com os filhos crescidos, ela contam como foi possível criar os filhos mesmo tendo que se dividir entre casa e trabalho. E seus filhos também contam como foi para eles ter uma mãe que sempre trabalhou(afinal, é esse saldo final que tanto nos preocupa). Confira os depoimentos.
Paola Tucunduva é uma supermãe multitarefa: empresária, professora, presidente de empresa e palestrante são algumas de suas funções. “Acredito que consigo conciliar minha vida profissional com a maternidade, importante ressaltar que a flexibilidade para administrar minha agenda foi fundamental”, garante. “Eu sou empreendedora e apaixonada pelo que faço, por isso nunca pensei em parar de trabalhar quando meus filhos nasceram. Quando meu primeiro filho nasceu eu tirei uma licença maternidade de dois meses e voltei a trabalhar meio-período por mais 4 meses, depois disso voltei a rotina”, garante. Para a empresária, o apoio do marido pé fundamental. “Outro fator que me ajuda muito foi contar sempre com o apoio e a ajuda do meu marido”.
Paola grávida de Carol com os filhos há 10 anos, e atualmente com a filha Carol (foto: arquivo pessoal)
“Mesmo depois de sofrer muito com a perda do meu filho mais velho, que faleceu por causa de um câncer aos 18 anos no final do ano passado, não me arrependo e faria tudo de novo da mesma forma”. E que pensam os filhos de Paola?” Tenho muito orgulho de ter uma mãe trabalhadora – e que adora trabalhar. Tive a oportunidade de crescer com uma mente aberta e nunca questionei essa realidade. A paixão que minha mãe demonstra, mesmo nas semanas difíceis, é uma inspiração”, conta Mathias, de 16 anos. “Eu sou muito sortuda de ter uma mãe que trabalha. Ela cuida de mim quando eu preciso, mas uma coisa que eu não gosto muito é quando ela fica fora por muito tempo e eu não a vejo. Eu a amo do mesmo jeito que ela me ama”, diz Carol Barcellos Tucunduva, 10 anos
Priscilla com o filho, Pedro (foto: arquivo pessoal)
A coach de mulheres e empresária Priscilla de Sá também não se arrepende de nunca ter deixado de trabalhar. Seu filho, Pedro, já está com 19 anos. “Eu me descobri grávida aos 18 anos, no 2º mês de faculdade de Jornalismo e parar de estudar para ter bebê nem passou pela minha cabeça. Quando voltei da licença maternidade, fui incumbida pelo meu grupo de colegas de fazer reportagens para o jornal de bairro experimental que estávamos criando. Resolvi transformar o projeto em realidade, mas para cobrir os custos da gráfica e ter algum lucro, eu mesma teria que vender anúncios. Como eu não tinha carro nem com quem deixar meu bebê, eu o levava no canguru (não existia sling) e percorríamos as ruas do bairro oferecendo espaço publicitário aos comerciantes. Eles me olhavam surpresos, com dó ou admiração, não sei… Não estavam habituados a ver uma representante comercial carregando um bebê pra cima e pra baixo! Foi assim por uns 3 meses, quando ele foi para a escolinha”, conta. Priscilla conta que Pedro foi para a escola cedo, e que em algum momentos ela sentiu ciúme por não estar perto de momentos importantes da vida dele. “Foi na escola que ele andou pela primeira vez. E o primeiro nome que ele falou foi o da tia da cozinha, Dona Maria. É claro que fiquei com ciúme, em um primeiro momento, mas o importante era ele ter um ambiente bom para se desenvolver enquanto eu me desenvolvia na profissão”, explica. “Conciliar carreira e maternidade é mais difícil para as mães do que para os filhos. Subestimamos a capacidade de adaptação dos pequenos e os tomamos por nós. Mas por mais que nossos filhos se adequem à nossa rotina, é impossível não fazer escolhas influenciadas por eles. Emendei uma faculdade na outra, Psicologia, enquanto trabalhava com locução e assessoria de imprensa, que davam mais dinheiro e me permitiam alguma flexibilidade de horário. Assim, pude estar perto dele durante a alfabetização e nas transições para o ensino fundamental e médio. A adolescência chegou e eu já estava trabalhando como coach, o que exigia que eu viajasse bastante. Foi pelo skype que ele me contou que tomou a primeira cerveja e então me dei conta de que não ia ter controle total sobre ele, a partir dali. Mas eu tinha que confiar que educação é o trabalho de uma vida inteira e que eu tinha feito um trabalho direito. E por trabalho direito entenda-se, sendo mãe solteira e tendo às vezes meia hora por dia com meu filho, usar esse tempo com sabedoria para brincar, dar bronca, ajudar com a lição, dar beijo e checar se as orelhas estavam bem limpas…Olhando para trás, eu não mudaria nada na nossa vida, porque construímos uma relação muito bacana”, conclui. Pedro concorda com a mãe. “Minha mãe sempre deu um jeito de estar por perto quando eu precisei e até quando não precisava. Era legal quando ela me levava às aulas de sábado na faculdade dela. Hoje, trocamos ideias sobre negócios e carreira. É bom ser filho de uma coach. Eu a admiro como mãe e como profissional”.
A médica e diretora de hospital Célia Gonzaga é mãe de Gabriela e Camila. As duas hoje já estão na faculdade. “Fiquei grávida da Gabriela no final do segundo ano de residência medica, continuei fazendo todos os plantões (em média 20 por mês) . Fiquei cuidando de você até os 5 meses, depois voltei a trabalhar meio período. Deixava a Gabi no berçário de uma escolinha. E assim foi até ficar gravida da Camila. Fiquei em casa os primeiros quatro meses. Depois deste período a Mila começou a ficar doente e eu não pude voltar a trabalhar, porque ela não podia ficar com ninguém. Somente após os 2 anos é que ela melhorou um pouco e pude trabalhar 2 horas por dia , dois ou três dias por semana. Aos poucos ela quis também ir na escolinha, porque quando levava a irmã ela queria ficar tambem. Até que começou a ficar meio periodo na escola e eu fui voltando a trabalhar. Foi uma fase difícil porque eu chorava muito de ter que deixar as meninas com empregada ou na escolinha,mas eu sabia que elas estavam felizes e isso me consolava. Graças a Deus minhas filhas nunca tiveram nenhum problema e puderam crescer lindas e maravilhosas”.
Célia com as filhas, Gabriela e Camila (foto: arquivo pessoal)
Gabriela, 21 anos, explica como é ser filha de médica. “Não senti falta de nada, tenho na minha mãe a minha melhor amiga, companheira e a minha heroína. Sempre digo que ela é meu exemplo de tudo – tanto mãe quanto mulher -, porque a vi conquistar seus sonhos com a maior fibra que já existiu na terra. Tenho um orgulho imenso de dizer que ela é médica, mãe e uma (quase!) maratonista!”.
Camila concorda com a irmã. “Nunca foi um problema ela ser médica e ter duas filhas. Sempre soube conciliar bem as coisas e até deixou de trabalhar um tempo para cuidar de mim. Sempre esteve presente em todas as coisas importantes, nos prestigiando e torcendo para que tudo desse certo”.