Não sei brincar com meu filho e agora?


Isabel Malzoni
por: Isabel Malzoni

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O melhor jeito de brincar com uma criança é compartilhar aquilo que você gosta (Foto: 123RF)

A brincadeira traz inúmeros benefícios para o desenvolvimento físico e emocional das crianças, isso você já sabe. E por isso faz questão de brincar com seu filho também. É só sentar no chão com ele e… O que é que eu faço mesmo? Não é algo que gostamos de admitir, mas muitas de nós precisam se esforçar bastante para encontrar tempo, disponibilidade interna e mesmo ideias para brincar com os pequenos. Será que isso é comum? E tem jeito? Conversamos com Ana Claudia Leite, mestre em educação, diretora de Educação e Cultura da Infância do Instituto Alana, para responder tais questões. E as respostas vão te surpreender!

It Mãe: Tenho escutado muitos pais e mães confessando que não sabem brincar com os filhos. Ou que não gostam. É uma questão recorrente?
Ana Claudia Leite: É recorrente sim. Tem a ver com a dificuldade dos adultos de perceber quem é a criança e o que é importante para ela. Porque o brincar é a expressão máxima da infância. Só que vai na contramão dos valores da sociedade atual, de consumismo, de produtividade, de pressa.

It Mãe: É algo atual? Porque acho que meus avós também não brincaram muito com meus pais, por exemplo.
A.C.L.: A criança, durante um período histórico, sequer era reconhecida como um sujeito de direito. Os pais não brincavam com os filhos porque realmente não tinham interesse ou não consideravam importante. Hoje, felizmente, a criança está no centro da família e tem pais preocupados com seu bem-estar e desenvolvimento. Mas havia algo bom na maneira como os adultos agiam naquele tempo: eles deixavam as crianças livres para brincarem sozinhas e entre si. Elas podiam explorar e até transgredir sem ter os adultos vigiando o tempo todo. Hoje os pais não estão deixando as crianças em paz para brincar. Acredita-se que é preciso encher os filhos de atividades e direcionar todas as suas atividades, não deixando assim espaço e tempo livre para que brinquem. É mais essa falta de tempo e espaço que dificulta o brincar da criança do que qualquer outra coisa.

It Mãe: Então como os pais podem estimular o brincar?
A.C.L.: Há muito que o adulto pode fazer, e nem sempre inclui propor uma atividade. Propiciar momentos de brincadeira ao ar livre, por exemplo, porque a natureza por si só já favorece a brincadeira, porque há muito a descobrir. Mas espaços de concreto também podem ser lúdicos. Um bom exemplo é o corrimão. Quantas vezes você já viu uma criança brincando em uma escada qualquer. A sugestão é não perder essas oportunidades do cotidiano. Às vezes não dá, claro, estamos com pressa. Mas às vezes perdemos esses momentos mesmo sem ter pressa de verdade. Brincar não é só sentar junto no tapete e abrir um tabuleiro. Tem brincar que é mais espontâneo, mais simples, e essas são boas oportunidades para os pais porque não exige grande repertório.

It Mãe: Por falar em repertório de brincadeiras, os pais de hoje têm pouco?
A.C.L.: Os pais não precisam ser educadores, oficineiros, contadores de história, para serem bons pais. Um pouco de repertório ajuda, claro, mas não é uma obrigação. Não é justo que a família tenha essa responsabilidade. O brincar tem de ser espontâneo. Não é para você se “matar” para brincar com seu filho. Se você não sabe brincar daquele jeito que ele quer, porque não chama uma amigo ou um primo para brincar com ele? Às vezes a criança não quer brincar sozinha e “sobra” para o adulto. Mas você pode possibilitar esse encontro com outras crianças, que pode ser até melhor. Muitas vezes os adultos ficam “fora de lugar” na brincadeira porque estão tentando preencher o espaço de outra criança.

It Mãe: Mas a brincadeira entre pais e filhos é importante, não é?
A.C.L.: Claro. A brincadeira é importante para criar vínculos. É uma brincadeira de afeto, genuína. Perceba um adulto brincando com um bebê. Há uma relação corpórea, que cria intimidade. Mas tem de ser natural, não cheio de regras e objetivos. É preciso fugir dessa obrigação porque gera a frustração. O melhor jeito de se brincar com uma criança é compartilhar aquilo que você gosta hoje, ou quem sabe revisitar o que você gostava de brincar quando criança.

It Mãe: Então talvez o problema não seja não saber brincar, mas ter expectativas demais?
A.C.L.: Se os adultos pararem de tentar controlar o tempo, o espaço e as brincadeiras das crianças, já estarão fazendo bastante. Em vez de fazer tanto esforço para propor brincadeiras, os pais podem simplesmente propiciar mais tempo livre, e também promover o encontro com outras crianças. É mais barato do que enchê-las de brinquedos e menos estressante do que preencher a agenda delas de brincadeiras e atividades. O brincar é uma atividade que se basta em si mesma.

  • Isabel Malzoni

    É jornalista e sócia da Editora Caixote, que publica livros infantis interativos, como Pequenos Grandes Contos de Verdade, finalista do Prêmio Jabuti. Mãe de Diego, divide-se entre os cuidados com o bebê, descobertas culinárias e muitos, muitos textos Isabel Malzoni é

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