Pós-parto: por que é importante cuidar de você também
Durante o pós-parto, uma escapada rápida ao salão pode fazer maravilhas pela mãe (Foto: 123RF)
Ao longo de nove meses, a grávida é o centro do mundo. Recebe mimos e cuidados de todos ao redor, até mesmo de estranhos, o que inevitavelmente a faz se sentir para lá de especial. Mas ela também faz a sua parte, claro, preparando-se, emocional e fisicamente, para receber o bebê. Depois do pós-parto, claro, as atenções são voltadas para o recém-nascido, aquele ser frágil e cheio de demandas. De repente, ele vira o personagem principal, como era de se esperar – e a mãe acaba ficando em segundo plano, justo agora, quando mais precisa de apoio. Somado a isso, uma série de mudanças hormonais pode mexer com as emoções da mulher nessa fase, tornando-a mais vulnerável. E as transformações não param por aí: com a chegada do bebê, ela também tem de aprender um novo papel, o de mãe. Diante de tantas novidades, sabemos, podem surgir receios na mesma proporção. “O puerpério é um período de emoções intensas para a mãe. Além das questões físicas, como a amamentação e a recuperação do parto em si, há um misto de alegria, insegurança e frustração”, resume a psicóloga Mariana Bonsaver, da Pro Matre Paulista, em São Paulo. Ela explica que, obviamente, adaptar-se a tudo isso leva tempo. Mas não precisa ficar com vergonha por ter medo de não dar conta e pedir ajuda, viu?
Acontece que o pensar em si também é um desafio para a mãe agora. Além de cuidar do recém-nascido, é preciso mesmo tirar o pijama, pentear o cabelo, passar hidrante? Que preguiça! Mas vale a pena, afirma a estilista Flávia Mesquita, idealizadora do Criando Gente, marca de roupas especializada em amamentação. “Quando cheguei da maternidade, percebi que não tinha roupas que me ajudassem a amamentar com o mínimo de dignidade. Não usava decotes profundos anteriormente, então, não poderia baixar as blusas. Encontrei finalmente uma camisa com botões. Que horror! Como desabotoar uma camisa com bebê no colo? Gastei tanto dinheiro com enxoval para a criaturinha, e o meu?”, perguntou-se a mãe de Bruno, hoje com 9 anos. Ao se dar conta de que o antigo guarda-roupa não era nada funcional (afinal, ela não estava mais grávida, nem tinha a silhueta anterior à gestação), resolveu unir a profissão à nova realidade de mãe. Hoje, a Criando Gente lança de quatro a cinco coleções por ano e a novidade é que começou a fazer moda para grávidas também. “Toda mãe passa por isso. E o ‘pensar em si’ vai além da aparência. Ao resgatarmos e nomearmos sentimentos, temos uma oportunidade valiosa de autoconhecimento”, acredita Flávia.
Não é à toa, aliás, que empresas voltadas para esse público nesse período crucial estão crescendo cada vez mais. O Mamusca, em São Paulo, também se inclui aqui. O local é um misto de café, loja e espaço para festas e oficinas, entre outras atividades que têm o objetivo de unir toda a família. Um dos destaques é o curso Preparando o Ninho, feito especialmente para casais grávidos e novos pais e mães. A ideia surgiu há dois anos, quando a psicóloga Valeri Guajardo, uma das professoras/facilitadoras do curso, estava grávida. “Conversando com uma amiga obstetra, na época, falei da minha dificuldade de encontrar um lugar onde pudesse tirar minhas dúvidas que iam além dos cuidados com o bebê”, recorda-se. Para a psicóloga, buscar apoio com outras mães que estão passando pelo mesmo naquele momento faz toda a diferença por conta da empatia. As mães de recém-nascidos vão se identificar com outras que sofrem com o drama das cólicas, enquanto as de filhos maiores talvez estejam preocupadas com as primeiras papinhas, só para citar um exemplo.
Além dos serviços que citamos, há inúmeros grupos presenciais e virtuais que acolhem as mães, sejam de primeira, segunda, terceira… viagem. Ou, se for o caso, dá para buscar ajuda especializada, como doulas, consultoras de amamentação e até mesmo aplicativos que prometem deixar as mães mais tranquilas – o Mommy I GO, por exemplo, mapeia lugares, eventos e programas para bebês e crianças em São Paulo. Para Valeri, aos poucos, a mãe pode e deve fazer um esforço para retomar a própria individualidade. Pequenos gestos, como ir ao salão de beleza ou sair para jantar com o companheiro por algumas horas, são importantes para deixar (ao menos um pouco) o papel de mãe, que é tão cansativo no começo. “Nesse contexto, procure grupos que façam sentido para você, mas no SEU tempo. Não se sente preparada para sair sem o bebê? Está tudo bem! Não se cobre e nem deixe que outras pessoas a forcem a isso”, recomenda a psicóloga. O mais importante, afinal, é saber que você não está sozinha.