Mães que trabalham: Alanis e Ivete nos representam
Mães que trabalham certamente se identificaram – se não chegaram a se emocionar – com dois vídeos, um de Ivete Sangalo e outro de Alanis Morissette, que circularam nas redes sociais na última semana. Eu confesso que não cansei de assistir com um sorriso no rosto e pensando: é isso, é isso!
Mães na real
Um dos vídeos mostra um momento da LIVE de Ivete Sangalo no Instagram em que ela está tocando com o filho mais velho, Marcelo, 10 anos. Então, se dá conta do horário e diz para o filho que está na hora de dormir. Aí, o menino faz aquela cara de “ah mãe, sério?”. E Ivete argumenta: “São dez e quarenta, véio. A gente vai discutir isso numa live?”, soltando uma risadinha. E continua: “Dê boa noite à galera, prazer enorme…”. Marcelo vai dormir e Ivete complementa: “E não esquece de escovar os dentes!”.
No outro vídeo, uma das cantoras que mais tocou no rádio do meu carro quando eu tinha 18, 20 anos. Ela traduziu tantos dos meus sentimentos da época em que eu era xóvem em letras de música. Alanis Morissette, aparece com a filha Onyx, 4 anos, no colo, para apresentar sua nova música Ablaze no programa “The Tonigh Show” do apresentador Jimmy Fallon.
Enquanto Alanis canta a música com letra linda que também me representa agora nessa fase – fala da essência da vida e do que ela quer passar para os filhos (deixo aqui o link com a tradução) – a filha conversa com ela, interrompe. Alanis pergunta à Onyx se o som que vem do fone-ouvido está muito alto para ela. A filha diz que não. E tudo isso vai acontecendo sem que Alanis perca o tom, nem a letra, não o jogo de cintura que mãe tem de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Tão real e tão fofo!
Baita identificação
Claro que, no caso de cantoras, a presença dos filhos e quebra do script num vídeo, que faz parte do seu trabalho, dá graça e viraliza, mas mais que tudo, pra nós mães, gera uma baita identificação.
É uma catarse esse momento “você não está sozinha”. Maravilhoso quando a gente vê, em plena versão mãe, as “ídolas” dos tempos em que saíamos para a balada sem hora para voltar (e sem ter que ligar para ninguém para saber se está tudo bem em casa), nos jogávamos no Carnaval e não pensávamos quase em mais ninguém além de nós mesmas (nossa, faz tempo isso!).
Mais do que isso, os vídeos escancaram uma real da vida de mãe:
Não dá pra dividir carreira e maternidade
A partir de quando nos tornamos mães, nos tornamos mães 24 horas por dia e isso não deveria ser demérito para ninguém. Nem escondido de ninguém. A pandemia deixou mais evidente que somos um ser só (nossa, que novidade!) justamente pelo fato de que tudo tem que acontecer em casa, num mesmo espaço e sem ajuda. Agora, é como se grifassem de caneta marca-texto tudo o que a gente vive: do amor que transborda à paciência que falta nas birras, xiliques, teimosias, preguiças de ajudar nas coisas, _________ (preencha aqui com o que seu filho faz que tira você do sério).
Nos momentos de começar um raciocínio – ou até no meio de call – uma mãe sabe que, do nada, pode surgir um grito de “Mããããe vem me limpar!” . E se a casa está muito silenciosa, uma mãe também para o que está fazendo para averiguar. Silêncio demais é suspeito! E viver em estado de alerta cansa.
Por essas e outras, é claro que mães que trabalham não vêem hora de ter com quem deixar o filho para poder trabalhar com foco. Assim saímos do nível hardcore que a quarentena nos colocou, para voltar ao “normal” que vem com outro grau de dificuldade: a culpa. Não por acaso, muitas de nós vive se sentindo inadequada, fora de lugar: se cobra no trabalho por não estar perto dos filhos e vice-versa. Desafiador? Muito! E eu espero que vídeos como esses de Alanis e Ivete sirvam para conscientizar que a maternidade não nos atrapalha, mas nos torna mais completas.
Fazemos, acontecemos e cuidamos!
Seria menos desafiador para mães que trabalham se não houvesse tanta dúvida em relação à sua (nossa) capacidade de serem profissionais incríveis e ótimas mães. Se alguns chefes/colegas/pares não dessem a entender que o talento profissional de uma mulher evaporou depois que sua rotina foi invadida por fraldas e peças de Lego. Ou se não tivéssemos que provar em dobro que somos capazes. Se não nos sentíssemos constrangidas e na obrigação de mostrar competência ao cubo na apresentação só porque o filho apareceu na vídeo call. E se não batesse um medo de ser demitida por isso (como aconteceu de fato com um mãe, cuja história postamos no Instagram @itmae)! Que ninguém – nem nós mesmas – duvide da nossa capacidade.
Não deixamos de evoluir, a menos que a gente não queria. Além disso ser real, ainda temos essa vantagem: as habilidades que desenvolvemos com a maternidade nos tornam melhores profissionais. Alanis e Ivete obrigada por nos representarem, mães que trabalham, apaixonadas pelos filhos e apaixonadas por suas realizações pessoais. Obrigada por mostrarem a maternidade de forma tão natural e verdadeira.
Filhos tiram as coisas daquele “quadradinho”, tudo certinho, mas trazem outras cores e ampliam nosso repertório. Isso nos torna mais criativas e abertas. Ser inspiração para uma criança é um motor e tanto para o sucesso. Então, que ninguém duvide da capacidade de uma mãe, porque quando ela quer, ela consegue – tudo o que quiser.