Licença-paternidade: o It Mãe apoia!
Estudos mostram que a interação com o pai é essencial para o desenvolvimento das habilidades cognitivas e emocionais da criança(Foto: Crayon Stock)
Nesta semana, o Senado aprovou o projeto de lei para aumento da licença-paternidade de 5 para 20 dias. Agora, a medida vai para análise da presidente Dilma Rousseff. Nós do It Mãe super apoiamos a medida e torcemos para que ela seja sancionada. Não faltam motivos para isso.
Ter esse tempo em casa acompanhando os primeiros dias do filho aumenta o vínculo da família num momento de tantas mudanças. São pais de primeira viagem? Vai ser muito importante para o casal poder vivenciar a dois as primeiras descobertas da nova vida. Cá pra nós, essa fase não é nada fácil no comecinho! No pacote, junto com o bebê fofo e amado, vem noites mal dormidas e toda a responsabilidade de cuidar de um ser pequeno, indefeso. As mães de hoje acabam vivendo sozinhas muitos desses desafios – e uma das razões (mas não a única) é o pai ter que voltar logo ao trabalho. Ok, mães podem até contar com ajuda de babá, da avó do bebê, de amigas. Mas o pai, que faz parte super importante daquele núcleo familiar, não deveria ter um papel de coadjuvante. Desde essa fase começa aquela história de que a mãe sabe mais cuidar do filho do que o pai.
Tenho visto hoje cada vez mais pais querendo espaço para desempenhar seu papel. Mais que brincar, querem cuidar e isso é ótimo. Estou certa de que crianças que têm a referência do pai e da mãe em casa para todas as coisas são mais ricas emocionalmente. Como mostra um relatório do Instituto Promundo, com base em inúmeros estudos feitos em diversos países: a interação com o pai é fundamental para o desenvolvimento das habilidades cognitivas e sociais nas crianças. E o que dizer da maravilha de a mulher poder ter ainda mais perto o seu companheiro de todas as horas no início da amamentação? É um estímulo a mais. Lembro de uma amiga que sofreu bastante na primeira semana com dores. A cada mamada, o marido ficava ao lado dela, segurando sua mão e dizendo: “vai dar certo, você consegue”. Era isso o que a fazia ir em frente.
É aquele tal negócio do “tamo junto”, vamos encarar tudo isso lado a lado. Você dá de mamar e eu coloco para arrotar. Você troca a fralda, eu dou banho. Os dois podem acordar de madrugada para ver por que o bebê está chorando, porque ninguém vai ter que trabalhar no dia seguinte. Um fica em casa com o baby e o outro vai fazer o supermercado. E aí a vida vai se ajeitando. Claro que uma lei não determina os combinados da rotina de cada casa e de cada casal. E a gente torce também para que não existam pais pensando em usar licença-paternidade para jogar tênis no clube, enquanto a mãe fica em casa cuidando do bebê.
É muito importante para a família ter esse tempo para ajustar a vida na nova frequência que um filho pede. Pesquisas dizem que o maior índice de divórcio é de casais com crianças pequenas. Tenho pra mim que quanto mais o casal se unir nesse início, mais forte e conectado ele vai ficar para tirar essa fase (e as próximas) de letra. Com mais tempo em casa, o pai vai entender mais as angústias da mãe, porque vai viver tudo junto. A mãe vai deixando de ser a porta-voz do que o pediatra falou ou de como tem que cuidar do bebê, porque o pai vai poder estar mais presente.
Outro ponto positivo do aumento da licença-paternidade: trata-se de uma forma de a gente ter uma sociedade mais justa em relação aos gêneros. Se homens e mulheres tiram licença quando um filho nasce, empresas com pensamento atrasado vão parar de usar esse critério na hora de escolher ou promover um funcionário. Mulheres poderão planejar a maternidade com mais tranquilidade, com menos medo de andar dez casas para trás no crescimento profissional ao se tornar mães. Se homens e mulheres estão igualmente envolvidos com filhos e casa, eles também passam a se equiparar no tempo que se dedicam ao trabalho. O Estudo Maternal Gatekeeping, Coparenting Quality and Fathering Behavior in Families with Enfants, do Journal of Family Psycology diz que as mulheres que deixam o pai fazer do jeito dele, trabalham cinco horas a menos em tarefas familiares. É o tal custo de oportunidade! Mulheres que não acumulam toda a carga doméstica sozinhas, têm mais tempo para se dedicar à carreira. Não foi à toa que, ao ser questionada sobre o que os homens poderiam fazer para ajudar as mulheres a avançar profissionalmente, a professora Rosabeth Moss Kanter, da Harvard Business School, respondeu sem titubear: lavar a roupa.*
Vejo muito homens que querem, sim, ter o direito de curtir mais a família. Querem exercer outros papeis além do tradicional de provedor – que há muito tempo não é mais exclusividade masculina, aliás. Mulheres e homens colocam o dinheiro em casa. De acordo com os últimos dados do IBGE sobre o tema, 40% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres. É claro que independentemente da lei, já vemos famílias se movimentando para que esse equilíbrio seja maior. Mas quando o governo toma a frente de uma causa que é de todos, as mudanças podem acontecer na velocidade que precisamos. Nesse caso, todos ganham. Pais, mães, crianças e sociedade.
*Como conta a executiva do Facebook, Sheryl Sandberg, no livro Faça Acontecer (Cia das Letras)