Já pensou em ser uma mãe preguiçosa?
A partir do momento em que descobrimos que estamos grávidas, começamos a fazer planos para os nossos filhos. Queremos oferecer o que há de melhor pra eles e, para isso, não vamos medir esforços. Bom, por experiência própria, descobri que o melhor que podemos fazer por eles é ser preguiçosa. Agora vou dar uma pausa para você se recobrar do choque.
Com certeza a palavra que usei foi forte, mas só assim podemos parar para refletir. O que você quer oferecer para seu filho? Amor, segurança, a melhor educação e formação intelectual disponível, saúde, conceitos e valores como responsabilidade, autonomia, honestidade, certo? Mas como garantir que tudo o que você quer fazer por ele será verdadeiramente eficaz?
O jeito é parar de fazer por ele. E deixar que ele também faça! Como? Atribuindo às crianças tarefas dentro de casa. Arrumar a própria cama, ajudar a colocar a mesa, ajudar a arrumar a sala e o quarto. Sim, mesmo tendo uma pessoa que possa ajudar com a limpeza e organização de casa, é importantíssimo que as crianças participem também.
Obviamente esse é um processo longo e gradativo, como todos os outros pelos quais as crianças passam: comer sozinho, andar, ler, escrever. Mas será que vale mais essa trabalheira?
Passei a fazer isso com as minhas filhas. No começo foi difícil e precisei de calma e paciência: muitas vezes elas esqueciam ou faziam corpo mole, outras vezes parecia que tinha passado um furacão na cama delas, outras vezes os pratos e copos ficavam aleatórios na mesa, enfim, nada parecia certo. Mas com o tempo elas foram pegando o jeito (como todas as outras coisas que foram aprendendo ao longo do desenvolvimento delas). E para que serve tudo isso? Participar ativamente e verdadeiramente da rotina da casa trouxe um senso maior de responsabilidade, importância e significado para elas dentro da família. Hoje em dia elas são muito mais organizadas com suas coisas, o que obviamente deve refletir no seu comportamento na escola e mais para a frente na sua vida adulta tanto profissional como pessoal. Elas sabem que para que as coisas aconteçam, é necessário comprometimento, trabalho em equipe, responsabilidade, capricho e cuidado. Elas se tornam crianças mais independentes e autônomas, mais seguras de si e sabem que fazem a diferença dentro do contexto (mesmo que ainda pequeno) no qual estão inseridas.
Considerando os dias de hoje, com PEC das domésticas, filhos indo estudar fora do Brasil, entre outros, nada melhor do que preparar nossas crianças para o futuro delas passando ensinamentos que podem ser importantes nas mais diferentes oportunidades. Despertar isso nas crianças dá mais trabalho do que fazer essas tarefas por nós mesmas, então no final das contas, a preguiça nunca existiu.
Um beijo,
Carla
Carla Racy Haddad Marques é diretora da Tiny People Bilingual School no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Formada em Comunicação Social pela ESPM e pós graduada em Teaching English to Speakers of Other Languages (TESOL) pela Univesity of California, San Diego (UCSD). Atua há cerca de 20 anos em educação e ensino de inglês para crianças e adolescentes. Atualmente, vive com seu marido e suas filhas Lara (7) e Liz (5) em Londres onde desenvolve novos projetos educacionais para a Tiny People. Também é membro do conselho da escola Middle Park Primary School, para o qual foi eleita Parent Governor para o quadriênio 2012/ 2016. É apaixonada por línguas e pelo universo bilíngue.