Como (e por que) fugir dos estereótipos na criação de meninos e meninas


Rafaela Donini
por: Rafaela Donini
Mãe da Donatella empresária de moda infantil e diretora do Primi Stili

As crianças se identificam com quem têm afinidade, não importando o gênero (Foto: Marcelo Batista)

Comecei o ano lendo a edição especial da revista National Geographic intitulada A Revolução do Gênero, inteiramente dedicada a novos comportamentos e identidades que estão mudando a juventude do século 21. Em suas 114 páginas, a revista expõe todos os ângulos sobre as conquistas e os desafios enfrentados quando o assunto é gênero (ou sexualidade). Um ponto de vista escolhido foi o das crianças (especificamente as de 9 anos, o limiar entre a infância e a adolescência, segundo a publicação). Para tanto, a reportagem visitou mais de 80 lares em todo o mundo.

O resultado? Respostas bem diretas sobre o que há de bom e ruim em ser menino ou menina – e elas variam muito conforme as culturas. Mas pelo menos duas coisas ficam explícitas na edição:
1) As crianças não mais aceitam (ou sequer reconhecem) ideias pré-concebidas sobre o que é ser menino ou menina.
2) A multiplicidade de gêneros revela que vêm aí gerações muito mais dispostas a aceitar o outro, seja ele como for ou com quem se identifica.

A moda, uma das formas mais marcantes que encontramos, desde pequenos, de nos “apresentarmos” aos outros, vem absorvendo velozmente essas tendências. Como as mudanças são percebidas no comportamento dessas novas crianças (lembram que escrevi sobre a Geração Alpha?), uma série de marcas têm deixado de dividir suas coleções em azul e rosa, passando a incorporar modelos, estampas e cores que vestem tanto meninos como meninas. É o genderless, a tão falada moda sem gênero, que está dando origem a novas marcas que trabalham apenas com cores e modelagens mais neutras. Afinal, há muita vida para além dos estereótipos.

E essa tendência não é apenas uma questão de estilo. Ela reflete a opinião das crianças e dos jovens de hoje, que buscam produtos e serviços com os quais têm afinidade – e não porque são adequados “para meninos” ou “para meninas”. Durante um evento, ouvi uma palestrante contar que o filho de uma amiga havia pedido a fantasia da Frozen de aniversário. A mãe comprou a roupa, mas ficou confusa, pensando se o menino queria ser mulher ou gay ou se havia algum problema. Uma semana depois, ele pediu a fantasia do Homem-Aranha. Procurando entender, ela o questionou:

– Mas você não queria ser a Frozen?
Ao que ele respondeu:
– Não, mamãe. Eu queria ter o poder de congelar as pessoas. Agora eu quero o poder de fabricar teias de aranha.

Esse exemplo ilustra bem o quanto as crianças se identificam cada vez mais com quem têm afinidade, não importando o gênero. O vestir é parte crucial desse processo que envolve identidade e aceitação. É a roupa que nos cobre e nos apresenta ao mundo, que define como escolhemos nos comunicar com os outros, mesmo que estejamos apenas passando na rua. É muito importante que nós, pais, saibamos abrir espaço para as crianças se sentirem livres para se expressar também através da roupa. Sem estereótipos, nem pré-julgamentos.

  • Rafaela Donini

    Mãe da Donatella, dedica-se há mais de uma década ao mundo da moda como empresária, no marketing de coleções infantis. Dirige o portal Primi Stili, que tem curadoria de dicas e experiências contemporâneas para a infância

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