Depois de O papai é pop, vem aí A mamãe é rock!


Natália Folloni
por: Natália Folloni
Nossa repórter adora crianças e acredita que uma mulher tem o direito de ser imperfeita sem deixar de ser uma boa mãe.

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Ana Cardoso, autora de A mamãe é rock, e as filhas, Aurora (esq.) e Anita (foto: Giselle Sauer)

No ano passado, o apresentador e colunista Marcos Piangers lançou seu livro O papai é pop, pela editora Belas-Letras, inspirado em sua relação com as duas filhas pequenas, Anita, 11 anos, e Aurora, 4. O sucesso foi tanto que, a convite da editora, sua esposa, a jornalista Ana Cardoso, se inspirou para lançar a sua versão, A mamãe é rock, que acaba de chegar às livrarias. No livro, Ana fala sobre os dilemas das mães modernas, como a mania que elas têm de competir umas com as outras. Confira o bate-papo superlegal que tivemos com a autora.

It Mãe: Como surgiu a ideia de escrever A mamãe é rock? Você se inspirou diretamente na escrita de O papai é pop ou é um projeto que já tinha em mente há mais tempo?

Ana Cardoso: Durante algum tempo, eu escrevi sobre as meninas, porque a gente mora em Porto Alegre há dez anos, e, como aqui não temos família – eu sou de Curitiba e o Marcos Piangers, meu marido, é de Florianópolis –, era uma forma de (os parentes) acompanharem as coisas que aconteciam com as meninas, em especial com a Anita, que é a minha filha mais velha. Mas eu nunca tinha pensado em escrever um livro sobre isso. Aí, no ano passado, meu marido lançou o livro dele (O papai é pop), que é uma compilação dos textos em sua coluna semanal no Zero Hora, e que a gente não imaginava que fosse fazer tanto sucesso. Já na primeira noite de autógrafos que teve aqui em Porto Alegre, na Livraria Cultura, tinha realmente muita gente. A gente foi às sete da noite e saiu às duas da manhã de lá. Uma pessoa da editora perguntou pra mim “quem sabe tu escreve agora ‘A mamãe é pop’?”, e eu pensei “de jeito nenhum” (risos). Eu estava assustada com aquela multidão. Mas aí, neste ano, meu marido pensou em colocar alguns textos meus no segundo livro dele (O papai é pop 2). Então, eu escrevi alguns textos num bloco de notas, mandei pra ele, que mandou pro editor. E aí, já no dia seguinte, falaram (pra mim): “não, tu vai ter o teu livro”.

It Mãe: Nas primeiras páginas do livro, há brincadeiras (jogo dos sete erros e uma tabela para anotar a divisão de tarefas domésticas) e, em cada crônica, pelo menos uma ilustração. Seria para aumentar a interação com as leitoras?

A.C.: Algumas pessoas comentam “ah, que legal, estou louca pra ler”, e eu falo “gente, não esperem textos muito elaborados, porque (o livro) é baixa literatura”. A ideia, o formato, como tu falou, é de muitas ilustrações, brincadeiras… a ideia é ser fácil de ler, sabe? Eu sou muito feminista. Participo de grupos feministas, gravo podcasts feministas e é uma discussão muito presente aqui em casa. Quando eu fui escrever, pensei: “eu quero escrever crônicas, que sejam pequenas reflexões sobre a maternidade e que desconstruam algumas questões que noto bastante”. Muitas mães se sentem culpadas em relação a tudo, e existe uma romantização exagerada das situações. Eu não sei se sou muito prática, sei lá, mas costumo brincar que eu sou uma mãe que veio com defeito de fábrica, já que não sinto culpa quando alguma coisa dá errado (risos), porque eu sei que não é diretamente culpa minha. Mas eu acredito que, hoje em dia, é mais fácil tu atingir um número maior de pessoas com textos menores, mais engraçados e ilustrações, sabe? Há cinco anos, enquanto eu observava a minha filha comprando só aqueles livros de baixíssima literatura, que eu achava horrível, eu pensava “mas eu não queria que minha filha lesse isso”. Eu queria que ela lesse textos que a ensinassem frases com estruturas maravilhosas, e que conhecesse a língua sob um outro aspecto. Mas, hoje, eu já mudei de opinião. De repente, por meio de uma literatura mais simples, você consegue passar melhor uma mensagem ou atingir um número maior de pessoas. E eu gostaria muito que o meu livro chegasse nas mães que muitas vezes estão tristes, preocupadas ou num momento difícil. Eu imagino muito uma mãe no ônibus, com a criança dormindo, aquela mãe cansada, sabe? Ou então uma mãe, cujo filho está com febre, que vai ler o meu livro e dar risada. Eu estava com isso na cabeça quando escrevi assim, dessa forma.

It Mãe: O incentivo às mães admitirem para si próprias que não são perfeitas e que, independente disso, têm o direito de se posicionar, é um elemento em comum nas crônicas. Como isso se dá pra você?

A.C.: Eu acho que essa geração de mães – na verdade, eu já me sinto em duas gerações de mães, por ter uma filha de onze e outra de quatro anos – quer desesperadamente acertar. Aqui em casa, por exemplo, a gente não assiste televisão, minhas filhas nem imaginam o que seja refrigerante e a gente não come comidas industrializadas. Eu acho que o conhecimento a respeito de alguns assuntos evoluiu e, como pais, mães e educadores, a gente tenta passar isso. Mas a gente falha pra caramba, porque não temos muito controle sobre o gosto das crianças. No livro, há momentos em que eu falo sobre essas questões. Há uma parte em que falo sobre como as (minhas) gurias se vestem e tal, e que eu corto o cabelo delas em casa, mas não sei até quando isso vai durar, ou até quando elas vão aceitar usar roupas de brechó. A gente quer acertar, só que as crianças têm o seu livre arbítrio, e fazem valer a sua vontade com todo o furor dos seus berros. Eu lembro de uma vez em que uma mulher ficou tão indignada de eu estar num supermercado, no inverno, à noite, com carrinho de bebê, que eu olhei pra ela e falei assim: “escuta, a senhora teve quantos filhos?, e ela, “tive oito”. No que eu falei, “e quantos se criaram?”, daí ela falou que seis ou cinco. E eu falei “pois é, eu estou aqui com o índice de cem por cento de sobrevivência das crianças. Eu acho que eu sei o que eu estou fazendo”. Achei muito invasivo (da parte dela), sabe? Eu sei que não é só comigo. Eu acho que é com todas as mães no começo, com as mães novas.

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A família “poprock” completa na casa onde vivem, em Porto Alegre (foto: Giselle Sauer)

It Mãe: Pela leitura, a gente descobre que as suas filhas são garotinhas de muita personalidade. Você acha que a educação infantil de hoje em dia contribui para que as crianças estejam cada vez mais inseridas em noções de respeito e igualdade?

A.C.: Eu acho que não. Acho que ainda depende muito de casa. Se a discussão sobre igualdade está evoluindo e está muito presente hoje em dia, (é porque) tem muita gente discutindo a desigualdade de gênero nos comerciais, na cobertura jornalística… Acho que, de uma forma geral, as pessoas estão discutindo como os gêneros são representados na mídia. Se tu não discute isso dentro de casa, se não desconstrói isso (em família), essas questões não mudam, sabe? Eu acho que as minhas filhas têm bastante personalidade porque a gente leva elas pra tudo que é lugar e explica as coisas direito pra elas. Não sei se a gente está acertando, né (risos). A escola trabalha muito questões ecológicas, de sustentabilidade, e eu acho que, nesse sentido, a educação evoluiu muito. Mas as questões de gênero são muito nebulosas, assim como as de respeito ao próximo. O exemplo vem muito mais de casa do que das instituições.

It Mãe: Eu queria que você comentasse duas crônicas do livro que acho que as mães modernas vão se identificar bastante: A Mãe do Ano e Como Brincar no Seu Home Office. Quais os conselhos que as mães podem extrair de cada uma delas?

A.C.: A Mãe do Ano é aquele grito de liberdade, aquele desabafo. Existem muitas questões não ditas na maternidade, que ali eu falo. Eu admito que, em vários dias, eu deixo pular o banho, e tem o lance também de (eu) não gostar de ir em festas (infantis), não gostar de músicas de casas de festa. Eu acho tão libertador poder falar isso, sabe? Porque eu fico pensando quantas pessoas fazem isso também e não podem falar. A gente tem sempre que estar com um sorriso no rosto e fingir que gosta muito de todas as coisas. Claro que existem aquelas pessoas que passam o ano inteiro esperando para fazer a “big festa”. Mas tem uma galera que não é assim, e que convive com quem é. E é muito importante, na minha opinião, pode falar “eu não sou assim, tá? Eu não sou nenhum ET, mas eu não sou assim, e isso não interfere em eu ser ou não uma boa mãe”. Já em Como Brincar no Seu Home Office, eu fiz pesquisas diretas com amigas que, assim como eu, trabalham bastante tempo em casa. E é muito difícil, né. Parece que aquele dia em que tu tem que fazer um relatório gigante, em que tem que prestar muita atenção, é o dia em que os teus filhos vão ficar doentes, vão querer mais a tua atenção. É uma lei de Murphy que rola. Eu acho que, hoje em dia, todo mundo leva trabalho pra casa, e tem que ser muito criativo pra não ser chato com os filhos, ficar gritando ou ter ataques histéricos pra conseguir dar conta das duas coisas. Um grande desafio da nossa época é como transformar o seu filho num “estagiário” que vai tornar o teu trabalho mais produtivo e divertido.

It Mãe: Você sentiu alguma dificuldade para contar algum dos casos do livro? São todos verídicos?

A.C.: São todos verídicos… ah, por exemplo, aquela crônica da ligação da escola, eu não sou exatamente essa mãe desesperada – a não ser que eu tenha algum compromisso de trabalho e tenha que buscar as filhas na escola. Mas, já aconteceu de eu ter que fazer apresentações, passar na escola e levar a criança doente junto. Faz parte, né? Meu marido viaja muito, e eu não tenho muito o que fazer em relação a isso. Mas, aquela crônica, eu fiz mais baseada em outras mães que observo. Eu acho que existem algumas em que falo sobre uns assuntos espinhosos. Por exemplo, quando tu tem de corrigir o filho de outra pessoa, sabe? “Tem que”, né? Eu acho que “tem que”, mas várias pessoas preferem simplesmente proteger o filho, ou não deixá-lo brincar com crianças maiores. É uma crônica que me incomoda um pouco, porque eu penso que, sei lá, pessoas próximas a mim podem falar assim “ah, eu não acredito que ela escreveu isso. Deve ter sido pensando no meu filho”. Mas eu entendo que, quando a gente está criando (artisticamente), a gente não pode ficar se preocupando diretamente com algum constrangimento que tu escrever sobre um assunto. Tu tem que tratar dos assuntos de uma forma mais impessoal. O objetivo do livro é lembrar que toda mulher é, antes de mais nada, um ser humano, uma pessoa que tem vontades, desejos e opiniões sobre as coisas. A gente pode, inclusive, ser mãe. Mas ser mãe não é o que tem que definir todo o resto das nossas atitudes. O meu livro também complementa a ideia de chamamento pra dividir com os pais. (Em O papai é pop) está ali o Piangers falando pros pais que é legal participar mais. Mas, atenção, mães, enquanto vocês estiverem fazendo tudo, se preocupando com tudo e assumindo responsabilidade por tudo, vocês não vão ter um papai pop em casa, jamais.

  • Natália Folloni

    Nossa repórter adora crianças e acredita que uma mulher tem o direito de ser imperfeita sem deixar de ser uma boa mãe.

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