Câncer de mama cresceu em todas as faixas etárias, alerta pesquisadora
A atriz Angelina Jolie passou por uma cirurgia de retirada dos seios como forma de prevenção contra o câncer de mama (Foto: Divulgação)
No mês do Outubro Rosa, dedicado à conscientização da prevenção contra o câncer de mama, Giselle Mello, radiologista e coordenadora do Serviço de Mama do Fleury Medicina e Saúde e pesquisadora da Unifesp, ambos em São Paulo, faz um alerta: os índices da doença estão crescendo em todas as faixas etárias no país. Ou seja, não são apenas aquelas que se encontram na chamada população de risco (acima dos 40 anos e/ou com histórico familiar da doença) que devem ficar atentas a rotina de exames. Conversamos com a especialista para entender melhor o que está por trás disso e, principalmente, o que podemos fazer para evitar a doença, que é o segundo tipo mais comum de câncer em mulheres no Brasil e no mundo.
It Mãe: Os índices do câncer de mama vem crescendo em todas as faixas etárias no Brasil, você disse. É apenas uma questão de mais acesso ao diagnóstico?
Giselle Mello: Para começar, a população está crescendo, então, a doença aumenta na mesma proporção. Mas não é só isso. Trata-se de uma combinação de fatores, tanto genéticos quanto ambientais. Alguns aspectos biológicos como menarca (primeira menstruação) precoce e menopausa tardia podem aumentar as chances, assim como o estilo de vida da mulher. Isso porque estresse, obesidade, cigarro e sedentarismo também estão relacionados ao câncer de mama.
It Mãe: É verdade que o câncer de mama em mulheres jovens, ou seja, com menos de 30 anos, é mais grave? Por quê?
G.M.: Sim! Porque geralmente nessa fase a doença está relacionada a fatores genéticos e hereditários, que são formas mais agressivas de câncer. Outra questão é que nas mulheres jovens os hormônios são mais atuantes (já que as taxas caem após a menopausa) e o tumor precisa de certos hormônios para crescer, digamos assim. Além disso, nessa idade elas estão fora da faixa onde o rastreamento é realizado com frequência (o que dificulta o diagnóstico precoce). Por último, nessa idade, há outro item agravante: as mulheres estão em idade fértil, ou seja, engravidando ou planejando ter filhos.
It Mãe: E qual a melhor maneira, então, de nos protegermos contra o câncer de mama em qualquer idade?
G.M.: Para começar, existe algo que chamamos de prevenção primária, que é reconhecer se você faz parte do grupo de risco. Nele estão, por exemplo, mulheres com histórico familiar da doença, mulheres com mama densa e mulheres que já tiveram câncer. É o ginecologista que vai tirar todas essas dúvidas e, se for o caso, recomendar outras maneiras de prevenção (como a mastectomia, quando um teste genético confirmar as chances da doença se desenvolver no futuro, como fez a atriz Angelina Jolie). Já quem não faz parte desse grupo de risco, que são a maioria das mulheres, deve seguir as recomendações de praxe, que são: cuidar da saúde de modo geral, controlando o peso e fazendo atividade física; evitar a ingestão de hormônios sem indicação médica e, o mais importante, realizar uma mamografia anual, a partir dos 40 anos de idade.
It Mãe: Mulheres com histórico familiar devem tomar mais cuidado, certo?
G.M.: Sim, mas não apenas aquelas com casos de câncer de mama na família, como também de outros tipos da doença, especialmente em pessoas mais jovens. Nesse caso, a recomendação é que elas realizem a mamografia anualmente a partir dos 30 anos de idade. Além disso, vale a pena procurar um geneticista para fazer alguns testes específicos, para rastrear a presença de genes relacionados à doença. Outra medida é a realização de ressonância magnética em complemento à mamografia, uma vez que esse tipo de exame de imagem é mais preciso.
It Mãe: O que temos de novidade no tratamento do câncer de mama hoje?
G.M.: Os tratamentos de praxe são cirurgia (para biópsia do tumor), análise do tumor e, na sequência, rádio, quimio e/ou hormonioterapia. A retirada ou não da mama ainda é determinada pelo tamanho do tumor. Atualmente, o mesmo é submetido a um processo chamado de estudo imunohistoquímico, que determina a presença de determinados receptores hormonais, com que velocidade ele irá ou não crescer, assim como as chances de recidiva (do câncer retornar futuramente). Esse tipo de estudo só foi possível graças ao desenvolvimento da biologia molecular. Ele influencia também no tratamento, ao classificar o tipo de tumor. Se for menos agressivo, por exemplo, talvez a paciente não tenha de ser submetida à quimioterapia (Oncotype e Mammaprint são alguns dos nomes comerciais de tais testes). E para certos tipos de alterações, já temos medicamentos mais específicos, que atacam somente as células do tumor e não as do cabelo, as da pele etc. Outra novidade, ainda em fase de estudos, é a metabolônica, isto é, análise de metabólitos (açúcares, sais, aminoácidos, entre outras moléculas) cuja concentração representam marcadores de mudanças genéticas. Em resumo, estamos caminhando para a chamada terapia alvo, que seria o mesmo que um tratamento cada vez mais personalizado e com menos efeitos colaterais. Da mesma forma que avança a incidência do câncer, crescem também as possibilidades de cura.