O que a aromaterapia pediátrica pode fazer pelas crianças
A aromaterapia é um tratamento que, muitas vezes, pode servir como complementar à alopatia na prevenção de sintomas e crises de alguns problemas de saúde, tanto físicos quanto emocionais – como asma, rinite, falta de sono ou irritabilidade, por exemplo. Através da aplicação de óleos essenciais na pele ou de sua inalação em difusores, crianças e adultos têm inúmeros ganhos na melhora do bem-estar e mesmo entre suas relações interpessoais. Para explicar exatamente como isso funciona, conversamos com Livia Targa, aromaterapeuta pediátrica da Aroma Kids (@aromaterapia.kids), formada em Aromaterapia Integrativa e em Aromaterapia Pediátrica. Ela conta como os óleos agem no nosso organismo, quais são as diferenças de tratamento entre crianças e adultos, e muito mais. Confira a nossa entrevista abaixo.
It Mãe: Quais são os motivos que levam alguém a procurar por tratamentos de aromaterapia?
Livia Targa: Eu atendo as famílias – normalmente muito mais os pais do que a própria criança – para cuidar tanto de questões físicas quanto emocionais. A mãe traz uma demanda e quer fazer a aromaterapia, para tratar questões de sono, irritabilidade, rendimento escolar ou mesmo físicas, como as respiratórias. Então, faço uma consulta online, uma anamnese (entrevista realizada pelo profissional de saúde no atendimento ao paciente), e pergunto para a família ou para o cuidador da criança sobre questões de histórico médico; medicação; sono; rotina; horários, e também sobre as demandas emocionais. Pergunto como é o filho, se ele socializa bem, se vai bem na escola, como é a família, a integração, se tem irmãos e como é o relacionamento com os pais… para eu poder entender, realmente, como é a vidinha daquela criança e, aí, conseguir indicar o melhor tratamento de aromaterapia.
It Mãe: Qual a diferença da aromaterapia pediátrica para a de adulto?
Livia Targa: A diferença é que a criança é mais sensível aos óleos essenciais; a sua pele é mais sensível. Então, há diluições completamente diferentes das de adultos – enquanto que existem óleos essenciais que são totalmente contraindicados. O próprio hortelã-pimenta ou o eucalipto, que são óleos essenciais super comuns e que as pessoas costumam utilizar em crianças, não se devem utilizar. Porque, pelas composições químicas, eles podem ser neurotóxicos, agressivos e irritativos para a pele ou para as vias respiratórias. O hortelã-pimenta é ótimo para questões respiratórias, mas ele também pode ser bastante irritativo. Uma criança que está com crise de asma e vai utilizá-lo, por exemplo, pode ter mais espasmos respiratórios. A longo prazo, ele também pode trazer mais irritação (emocional) para a criança.
It Mãe: Qual a faixa etária das crianças com as quais você trabalha?
Livia Targa: De zero a 17 anos. Mas a maioria é de até 10 anos.
It Mãe: Você passa a formulação para que a pessoa possa mandar fazer na farmácia ou faz por conta própria?
Livia Targa: Eu mando fazer na farmácia, mas, na maioria das vezes, pedem para eu fazer. Eu consigo formular aqui, faço as sinergias e encaminho para a mãe. É algo bem personalizado, não tem um produto (específico).
It Mãe: Você faz um blend de óleos, não é uma única coisa?
Livia Targa: Isso. A gente consegue fazer misturinhas de óleos essenciais.
It Mãe: A posologia, normalmente, é uma vez por dia? Porque tem algumas coisas que são muito intensas e é difícil de cumprir.
Livia Targa: Como eu sou mãe, sei como as coisas são e tento ser a mais simples possível nos meus tratamentos. Então, normalmente, eu entendo a rotina da criança, e gosto de incluir na rotina do banho ou da noite. É o que eu faço na minha casa: dou banho no meu filho, que faz tratamento para asma, pego o óleo e faço uma massagem nele. Ele mesmo, quando eu esqueço, pede para que eu passe o óleo, por já ter se acostumado com a rotina. Eu trabalho de forma simples e com poucos óleos essenciais; nunca coloco mais de quatro óleos, porque preciso saber quais são os que dão resultado. Se forem dez óleos, não vou saber qual deles está funcionando.
It Mãe: Existem pesquisas científicas atuais que investigam essas reações aos óleos. Como o óleo essencial age? Sobre a parte de sentir, de perceber, de notar uma diferença… Como eles atuam e o que ajudam a mudar?
Livia Targa: A aromaterapia é uma ciência que tem comprovação cientifica. Se você pesquisar, encontrará mais de 20 mil artigos que comprovam a eficácia do óleo essencial. A Ciência estuda a composição química do óleo essencial, e é esta que vai agir no nosso organismo. Então, quando a gente inala ou passa na pele um óleo essencial, a sua composição química passa para a nossa corrente sanguínea, atinge o sistema nervoso e atua de alguma forma. A composição pode atuar no nosso cortisol, na nossa serotonina…
It Mãe: Ela atua nos nossos hormônios, então?
Livia Targa: Exato. Nos hormônios e também nas questões físicas. Então, a gente tem óleos anti-inflamatórios, antivirais, antifúngicos… E, a diferença entre um óleo essencial e um alopático é que o primeiro não causará tanto transtorno – se você usá-lo corretamente, é claro. Ele consegue ter uma inteligência, digamos assim, que atua exatamente onde precisa. O óleo não prejudica as células boas; ele atravessa a nossa membrana celular e, com a sua composição química, atua no nosso organismo.
It Mãe: Nas questões comportamentais, ele atua dessa mesma maneira, nos hormônios?
Livia Targa: Exatamente. A gente tem muitas demandas de mães com relação a sono. Eu atendo muitas crianças autistas, cujas mães vêm com algumas demandas… Então, a gente pode trabalhar com óleos que acolham e que tragam amorosidade. Com isso, a gente tem resultados muito legais.
It Mãe: Mas, você trabalha as questões das mães, junto com as das crianças?
Livia Targa: Às vezes, trabalho só a mãe, quando percebo que não é uma demanda que vem da criança; a mãe pode estar super estressada e irritada. Eu não costumo acompanhá-las, não faço tratamento com elas, mas entro muitas vezes com um óleo para a mãe – para trazer a sua autoconfiança, acalmar a ansiedade ou até para liberá-la de um sentimento de culpa. (…) Não que a gente vá resolver todos os problemas da criança, porque a gente sabe que algumas questões vêm de traumas, abandonos e muitas outras coisas que a aromaterapia não dá conta sozinha. Mas, ela traz um conforto, sabe? (…) Não só a aromaterapia, mas essas conexões que a gente cria com o tratamento são fundamentais. Então, é muito bonito de assistir à evolução e ver que eu posso ajudar um pouquinho, para que as pessoas possam se comunicar melhor e ter mais amor.
It Mãe: O óleo essencial tem alguma aplicação específica, como colocar num difusor ou aplicar diretamente na pele?
Livia Targa: Você pode usar de algumas formas. Por via tópica, que é a aplicação no corpo, através de uma massagem, e, sempre que a gente usa na pele, dilui o óleo essencial num vegetal ou num creme neutro. A gente nunca pode usar um óleo essencial puro na pele. E, aí, para cada faixa etária, existe uma diluição diferente. Ou, você pode usá-lo através de inalação, ao pingá-lo para realizar a inalação, ou num difusor de ambientes e colar difusor. Para questões emocionais, a forma aromática é a mais eficaz, porque o composto químico vai para o nosso sistema olfativo e, depois, para o límbico. Assim, o efeito acaba sendo mais rápido. Existe uma terceira linha que é a ingestão de óleos essenciais, mas não é indicado para crianças.
It Mãe: Para o que você recomenda o óleo essencial? Ele é sempre coadjuvante ou tem como dar conta dos problemas sozinho?
Livia Targa: O que eu sempre falo para as mães é que óleo essencial não é promessa de cura. Ele é uma grande ferramenta para várias questões, mas não cura a asma, por exemplo. Ele pode ajudar a amenizar os sintomas, e a reduzir ou espaçar as crises. Não dá para substituir o uso de um corticoide pelo óleo essencial; a gente não substitui o alopático, nesse sentido. Se o seu filho precisa tomar antibiótico, não tem como substitui-lo por um óleo essencial. Mas, com este último, é possível cuidar do corpo da criança ou do adulto e evitar que isso (crise de asma, por exemplo) aconteça. Há uma melhora na imunidade e um cuidado com os sintomas.
It Mãe: Quando há uma família que consegue pagar por um tratamento psicológico, a aromaterapia entra como coadjuvante. Ela potencializa as mudanças que precisam ser feitas?
Livia Targa: Muito. Por exemplo, cada criança autista tem as suas demandas, tal como qualquer outra tem a sua. Eu já vi muitos protocolos, de mães que falam que gostariam de um blend para usar no filho autista. E eu falo que não, não existe isso. Não existem óleos essenciais específicos para crianças autistas, com protocolo para autismo. O que existe, na verdade, são as demandas de cada criança. Por exemplo, uma criança autista que é hiperativa, que não evolui nas terapias porque não consegue ficar nem cinco minutos concentrada em uma atividade… a aromaterapia entra com óleos essenciais para centrar essa criança e, consequentemente, trará muito mais resultado.
It Mãe: Quais as outras questões comuns a algumas crianças autistas que podem melhorar através do tratamento com óleos essenciais?
Livia Targa: Concentração, agressividade, problemas de sono… várias questões. A mesma coisa acontece para aquelas com TDAH, que são hiperativas e, muitas vezes, incompreendidas. A gente consegue trabalhar baixa intolerância à frustração, a aceitação ao receber um não e de respeitar as regras.