Sífilis na gravidez: epidemia silenciosa


Isabel Malzoni
por: Isabel Malzoni

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A sífilis congênita pode pode ser prevenida e tratada com um pré-natal adequado (Foto: CrayonStock)

Se você está grávida ou tentando engravidar, provavelmente teve de tomar uma série de cuidados – e até experimentou um certo pânico – por causa do aumento de casos de microcefalia em bebês, relacionados ao surto do Zika vírus. De lá para cá, já foram reportados mais de seis mil suspeitas, sendo que a má formação foi comprovada em comprovada em apenas mil casos e, por fim, a relação com o vírus só se verificou em 189 bebês. A investigação é demorada, entre outros motivos, porque são diversas as doenças que também causam a tal da microcefalia – entre elas, a sífilis, uma doença sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum. E além de sequelas neurológicas, cegueira, deformidades físicas, aborto e morte do recém-nascido estão entre os riscos.

Embora ela seja uma velha conhecida da medicina e de fácil tratamento, os casos de sífilis congênita (ou seja, quando a mãe transmite ao feto) estão se espalhando silenciosamente nos últimos anos. A estimativa é de que, em 2016, a doença atinja 22.518 bebês, segundo o departamento de DST/Aids do Ministério da Saúde. “Os números e as consequências do Zika vírus são preocupantes. Mas se colocarmos em uma balança, temos dados ainda mais assustadores relacionados a uma doença que conhecemos há séculos, a sífilis”, aponta o infectologista Celso Granato, do Fleury Medicina e Saúde (SP) e professor da Unifesp. De fato, as estatísticas do governo mostram que o índice de sífilis congênita triplicou nos últimos 7 anos. Só em 2015, 300 recém-nascidos morreram por causa da doença no estado de São Paulo. “Sabe o que é pior? Basta uma dose de penicilina para tratar essa doença”, lamenta Granato, referindo-se à penicilina benzatina, o antibiótico usado com mais frequência no combate à sífilis.

O que está por trás do aumento da doença

Há um conjunto de fatores que explicam esse constante aumento no número de casos de sífilis congênita no país. Um deles são falhas no pré-natal, segundo o infectologista. “Cerca de 70% das grávidas dá início ao pré-natal apenas no quinto mês, quando boa parte dos problemas que podem ser causados pela doença já aconteceram”, acredita o especialista.

Outro fator que complica o controle da doença é que a pessoas infectadas não adquirem imunidade. Portanto, se o parceiro não for tratado devidamente também, pode voltar a infectar a mulher, e é isso que acontece na maioria dos casos (só 48% dos parceiros foram tratados no Estado de São Paulo entre 2010 e 2013, segundo dados da Secretaria de Saúde). Já o terceiro obstáculo que contribui para o alastramento dessa epidemia foi a falta de penicilina benzatina no mercado nacional, tanto na rede pública quanto privada, que se estende desde o ano passado. Em nota, o Ministério da Saúde explicou que o problema se deve à escassez de matéria-prima específica para a produção do medicamento no mundo inteiro, mas que a situação deve se regularizar por aqui até maio. E, ainda, que a medicação tem sido usada com prioridade nos casos de sífilis na gravidez e em recém-nascidos.

Como se proteger

Apesar de grave, como falamos, a sífilis congênita pode ser prevenida e tratada, desde que a gestante tenha um acompanhamento pré-natal adequado. Por isso, a recomendação oficial do Ministério da Saúde é que o exame (onde a presença ou não da doença é detectada pelo sangue) seja feito três vezes ao longo da gestação, um em cada trimestre. “Dentro desse período de tempo, é possível cuidar da mãe e às vezes até evitar a infecção do feto”, completa o infectologista Celso Granato. E, assim como ocorre nas demais DST, o uso de preservativos também é uma maneira viável de se proteger. Por último, enquanto o abastecimento da penicilina benzatina não se regulariza, o tratamento pode ser feito também com outros antibióticos.

  • Isabel Malzoni

    É jornalista e sócia da Editora Caixote, que publica livros infantis interativos, como Pequenos Grandes Contos de Verdade, finalista do Prêmio Jabuti. Mãe de Diego, divide-se entre os cuidados com o bebê, descobertas culinárias e muitos, muitos textos Isabel Malzoni é

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