Será que meu filho é autista?


Débora Lublinski
por: Débora Lublinski

Um dos primeiros sinais é a falta de contato visual, olho no olho, presente logo no início da vida  (Foto: Freeimages)

Há ainda muitas perguntas que rondam o diagnóstico do autismo, a começar pelo nome. Atualmente, o termo usado pelos especialistas é Transtorno do Espectro Autista (TEA), justamente porque há uma grande variação nas formas de o problema se manifestar. “Imagine que é difícil encontrar duas crianças nesse espectro com os mesmos sintomas, o mesmo grau”, explica Marco Antônio Arruda, neurologista da infância e adolescência, mestre e doutor em Neurologia pela Universidade de São Paulo e diretor do Instituto Glia de Ribeirão Preto.

A causa, os diferentes sintomas e a melhor forma de tratamento é um desafio para os médicos e um motivo de apreensão para as mães: como identificar se meu filho tem TEA? “Ao contrário de outros quadros, no TEA não existem exames laboratoriais ou de imagem que possam ser realizados. Portanto, o diagnóstico é clínico e deve ser feito por profissionais com experiência no assunto”, alerta o pediatra André Dutra, da Pro Matre Paulista (SP). “Avaliamos o desenvolvimento da criança, o desempenho cerebral, os sintomas, a época de aparecimento, além de afastar déficits sensoriais, como a surdez, e outros transtornos neuropsiquiátricos que podem confundir o diagnóstico ou até mesmo vir associado ao TEA”, completa o neurologista Arruda. De acordo com o especialista, nem sempre é fácil levantar essa suspeita em casa. Isso porque, embora os quadros graves geralmente sejam diagnosticados a partir dos 18 meses, o diagnóstico de casos leves, muitas vezes, só ocorre na vida adulta.

Sendo assim, o desenvolvimento do bebê pode ser normal nos primeiros meses de vida e depois evoluir com regressão. “Os pais, por conhecerem melhor do que ninguém os próprios filhos, estão em posição de destaque para identificar precocemente alguma coisa que perturbe o desenvolvimento. Eles precisam estar atentos e acreditar em seus instintos. Se houver dúvida, devem conversar com o pediatra, que encaminhará para uma assistência especializada”, sugere André Dutra. Informação, como sempre, é o primeiro passo para entender melhor os sintomas e a forma de conduzir o tratamento.

De olho nos sintomas
“As principais manifestações do TEA são decorrentes de um comprometimento do desenvolvimento do cérebro social, circuitos cerebrais que já começam a se organizar no período intra-uterino e são responsáveis pela nossa percepção e interação com o ambiente e as pessoas”, explica Marco Antônio Arruda. Assim, um dos primeiros sinais é falta de um bom contato visual, olho no olho, nos primeiros meses de vida. A partir dessa época, os pais passam a observar que a criança nem sempre atende quando é chamada pelo nome, ou ainda, se estão com a criança em um cômodo e saem, ela não se importa, não chora e nem se movimenta para estar com os pais. A partir do primeiro ano de vida, observa-se o atraso na aquisição de palavras e muitas vezes elas são atípicas, não o conhecido papai e mamãe, mas palavras incomuns. As frases, que deveriam surgir perto dos dois anos, também atrasam. Muitas crianças com TEA acabam não adquirindo a fala.

“Presente em quase todos os casos, mas nem sempre durante toda a vida, observam-se as estereotipias, movimentos repetitivos e sempre com mesmo padrão, que ocorrem quando a criança fica ansiosa ou excitada, muito contente. Podem ser movimentos de mãos em abanar, chamado de flapping, de abaixar e levantar o tronco, como uma prece maometana, girar, pular, falar repetitivamente e muitos outros, mas sempre no mesmo padrão”, aponta o neurologista.
Após os três anos de idade, fica muito evidente o desinteresse da criança pelo outro, especialmente por outras crianças ou, quando existe o interesse e ela consegue se aproximar, não é capaz de interagir e logo se afasta, se isola para brincar sozinha. Essa dificuldade de sociabilização desproporcional para o nível de desenvolvimento da criança é central no diagnóstico.
Ainda existem outros sintomas que podem aparecer, mas nem sempre estão presentes: aversão a barulhos, tanto súbitos (como trovoadas, fogos, bexigas estourando, motos) como do cotidiano (barulho de liquidificador, secador, aspirador e furadeira); dificuldades de integração sensorial (levar exageradamente tudo à boca, lamber, cheirar, andar na ponta dos pés, não aceitar ser tocado, não deixar que cortem seus cabelos); apetite extremamente seletivo e manias com alimentos (de comer apenas alimentos de determinadas cores ou texturas e não experimentar alimentos novos); maior resistência à dor, ao frio e ao calor.

Outras manifestações
Vale destacar que existem algumas características próprias da Síndrome de Asperger, um tipo mais leve do TEA. “Essas crianças representam um desafio ao diagnóstico, pois, em geral, não apresentam atraso na fala. Pelo contrário, o jeito de falar delas, desde pequenas, é gramaticalmente perfeito, com vocabulário rebuscado e o uso palavras absolutamente incomuns para sua idade, como entretanto, embora, apesar, etc. Por outro lado, são muito literais, entendem tudo ao pé da letra, não compreendem bem palavras de duplo sentido, muito menos piadas”, esclarece Arruda. Frequentemente, apresentam memória excepcional, aprendem a ler e escrever muito cedo e detêm conhecimentos profundos sobre temas sempre muito específicos e não comuns para sua idade. Alguns exemplos: reconhecer todas bandeiras e capitais do mundo ou todas as marcas de tratores e escavadeiras. Isso acaba dificultando a interação social dessa criança e, muitas vezes, esse comportamento provoca bullying. “Outras habilidades fenomenais em música, cálculo, pintura também são observadas, um fenômeno que chamamos de ‘savantismo’, algo extremamente interessante e inalcançável mesmo para os superdotados”, diz o neurologista.

Por fim, as crianças com Síndrome de Asperger não conseguem entender as regras do jogo social, o que pode fazer com que recebam o rótulo de mal-educadas infelizmente.

Como é o tratamento e o que nós, mães, podemos fazer
Não existe uma única maneira de abordar o transtorno e cada criança pode demandar um tratamento distinto e individualizado. O acompanhamento é feito por equipe multiprofissional como psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, que têm como objetivos desenvolver as habilidades de expressão verbal e corporal, a coordenação, a integração social e adquirir e a autonomia para realizar as atividades do dia a dia (usar o banheiro, escovar os dentes, se alimentar, etc). “Algumas crianças com TEA também apresentam Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, portanto, vão precisar de medicação específica para isso. Outras podem manifestar extrema irritabilidade, fobias, obsessões, condições que precisarão também de tratamento medicamentoso adequado. Mas é bom que se diga que, infelizmente, o TEA não tem cura, nem um remédio específico para o seu tratamento”, fala Arruda. No entanto, a boa notícia é que evidências científicas mostram que quanto mais cedo o diagnóstico e o início do tratamento, melhor o prognóstico a curto e longo prazo.

“A participação dos pais é fundamental, pois é no contexto familiar que as crianças ganham cada vez mais habilidades sociais”, avisa o pediatra André Dutra. Todos os profissionais envolvidos devem amparar e incluir os pais nas consultas de forma que a intervenção continue em casa, não se restrinja apenas às sessões de terapia. Também é importante procurar escolas que tenham professores capacitados para integrar a criança na teia social – e não afastá-la! Tudo isso será determinante para que ela consiga compreender e se relacionar cada vez melhor com o ambiente e as pessoas que a cercam.

  • Débora Lublinski

    Jornalista e mãe da Marina, Débora Lublinski trabalhou por 15 anos em revista feminina cobrindo beleza, saúde e bem-estar. Mas não vive apenas de glamour e sabe bem o malabarismo que é se cuidar sem descuidar dos filhos, da casa, do casamento e da carreira

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