O perigo invisível dos parquinhos
De 2008 para cá, 4 mil crianças foram internadas no SUS devido a quedas em playgrounds (Foto: 123RF)
Parquinho é lugar de criança brincar. É feito para as crianças, então supõe-se que tenha sido planejado e seguro para elas. Certo? Infelizmente, a realidade da maior parte dos parquinhos no Brasil não é bem essa, e é aí que mora o perigo: na falsa sensação de segurança, que faz com que pais relaxem, deixem a molecada livre e… assim acontecem os acidentes. Confesso que nunca tinha pensado muito no assunto até o dia que meu filho, que tem um ano e meio, subiu num brinquedo de concreto no parquinho que frequentamos e caiu, bateu a cabeça num outro cilíndro de concreto, e desmaiou. Foi um tombo e tanto. Desmaio é sinal de alerta importante em caso de quedas de criança, especialmente em bebês. Corremos para o hospital, onde ele fez tomografia e passou a noite em observação. Ele está ótimo, obrigada, mas o susto foi grande. Por coincidência, pouca semanas depois a ONG Criança Segura Brasil lançou a campanha #QueroMeuParquinhoSeguro e eu me senti abraçada. Ainda me sentia culpada de ter deixado ele subir no tal brinquedo, mas passei a me perguntar: por que cargas d’água há um brinquedo tão perigoso num parquinho? Ao lado dos cilindros de concreto em várias alturas havia ainda uma mureta na qual as crianças se penduravam e poderiam cair de uma altura de 1,60m. Podia ter sido bem pior. E às vezes é, como me explicou a coordenadora da ONG, Gabriela Freitas: “quando falamos de segurança no parquinho, as pessoas acham que queremos prevenir os ralados nos joelhos. Não, estamos falando em riscos de traumatismo craniano, por exemplo, e até morte”.
A campanha #QueroMeuParquinhoSeguro se baseou nos seguintes dados: desde 2008, quase 4 mil crianças de até 14 anos foram internadas no SUS devido a quedas ocorridas em parquinhos. A informação é do Ministério da Saúde. No período de 2008 a 2013, foram registrados 18 casos fatais. O que a Criança Segura alega é que muitos desses acidentes poderiam ter sido evitados se os fabricantes dos equipamentos, os projetistas de playgrounds e os responsáveis pela manutenção desses espaços seguissem a Norma 16071 da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), que foi revisada em 2012, mas ainda é muito pouca conhecida e não é obrigatória. A norma estipula regras como: os cantos dos brinquedos devem de ser arredondados; roscas de parafusos salientes devem ter acabamentos de proteção; a área do trajeto dos balanços deve ser protegida por barreira de segurança. Em brinquedos com altura superior a 60 cm, é obrigatória superfície que absorva impacto (piso emborrachado, grama ou areia) e, quando houver possibilidade de queda maior do que até 1m, é essencial guarda corpo. Com o intuito de conscientizar os responsáveis pelos parquinhos, legisladores, mas também pais e cuidados, a ONG lançou a hashtag Quero Meu Parquinho Seguro e pede que as pessoas postem fotos dos locais que não são apropriados. A imagem do local do acidente do meu filho já está lá!
Como prevenir
“É importante os pais e cuidadores terem consciência de que a supervisão é essencial, inclusive antes da brincadeira”, explica a pediatra Isabela Forni, que dá aula de primeiros socorros. Ela alerta que é importante “checar” a segurança do parquinho antes de deixar os pequenos brincarem. Entre as coisas importantes de serem vistas estão:
- O parquinho é todo cercado? Há como a criança correr para a rua sozinha?
- Como é o piso? Chão de concreto ou de terra batida são perigosos.
- Há degraus ou muretas de onde ele possa cair?
- Escorregador está na sombra? Se estiver no sol, há o risco de queimaduras de 2o
- Atenção com trepa-trepa: eles não são recomendados pelo alto risco de queda.
- Há proteção em torno dos balanços?
Isabela coloca também que é importante ensinar as crianças a brincarem naquele espaço, apontando a elas os perigos, mas principalmente usando de uma orientação positiva. Ou seja, ensine que é importante “segurar firme” em vez de alertar para não soltar, ou “cuidado, você vai cair”. Isso é importante para que as crianças desenvolvam a sua autonomia e brinquem seguros.
Em caso de queda
Os acidentes no parquinho costumam resultar mais frequentemente em fraturas dos membros. No entanto, o que mais preocupa são as batidas de cabeça, que podem levar a um traumatismo craniano. E se acontecer com o seu filho? Fique atento às recomendações da pediatra para decidir se deve ou não levar a criança para o hospital:
- Qualquer alteração neurológica, ou seja, desmaio, confusão, sonolência excessiva, fala ou movimentos estranhos.
- Vômitos: às vezes a criança vomita de susto ou por causa da dor, mas se os vômitos se repetirem, é sinal de alerta.
- Se a criança tiver menos de 3 meses.
- Se a queda for mais alta do que 1 metro (para crianças até 2 anos) ou 1,5 m.
- Galos que crescem muito rapidamente.
- Sangramento considerável pelo nariz ou ouvido.