Meu filho não come nada


Patrícia Junqueira
por: Patrícia Junqueira

criança comida

Obrigar a criança a comer não adianta ou até piora a situação (Foto: CrayonStock)

Por décadas a medicina classificou as doenças em físicas e psicológicas. Hoje, sabemos que na prática as coisas não funcionam assim. Existe uma total conexão entre o corpo e mente – e toda doença tem componentes físicos e emocionais. Afinal, nossos pensamentos e emoções podem influenciar fortemente o andamento do tratamento médico, bem como interferir no seu resultado, refletindo no corpo físico. Por outro lado, um problema físico pode abalar fortemente nossas emoções. Não poderia ser diferente em relação às doenças alimentares.

Por trás do que chamamos de recusa alimentar, é possível que exista uma criança ou um bebê que está fazendo tais escolhas para se proteger (isso mesmo!). Entre os motivos, há chances de que ele sofra com: desconforto ou problemas gastrointestinais; dificuldades no processamento ou modulação sensorial (veja o exemplo abaixo); personalidade excessivamente cautelosa; percepção inadequada de fome e saciedade; dificuldades na coordenação física e motora, que faz com que a duração da refeição se prolongue; problemas metabólicos e necessidades de nutrientes específicos; e até mesmo abuso físico ou emocional.

Em resposta, os pais perdem a paciência e pressionam os pequenos a comer aquilo que eles (os adultos) querem e na quantia que determinam. Essas tentativas de controle fazem com que a criança – que chora e reluta! – crie uma relação desagradável com a comida. O que, em última instância, pode gerar uma fobia alimentar.

O que fazer, então?

Calma, que tem saída! O primeiro passo é identificar o que está causando a recusa alimentar, com uma abordagem ampliada e, de preferência, precoce. Uma avaliação de um fonoaudiólogo especialista em motricidade orofacial, por exemplo, pode ser útil para detectar se há algum problema oral ou sensório-oral que justifique. Isso porque dificuldades para sugar, deglutir ou mastigar interferem na capacidade da criança se alimentar corretamente e no desejo de comer. Além disso, quando o organismo da criança (mais especificamente, o sistema límbico) não interpreta direito as informações sensoriais – como cheiro, sabor, textura – de determinado alimento, ela se recusa a comê-lo. Em resumo, tais estímulos sensoriais são percebidos pelo cérebro como perigosos, fazendo com que ela fuja deles! Nesse caso em especial, pode ser que a textura pastosa da papa seja desagradável para o bebê que não consegue acomodá-lo, digamos assim, em sua cavidade oral. O jeito, então, é ajustá-la ao paladar dele.

Além de desenvolver tais habilidades físicas e sensoriais na criança, o especialista vai focar em outros aspectos, como compreender o que ela está querendo “dizer” com isso e ajudar a família a evitar qualquer tipo de coerção nesse momento. Acredito que, paralelamente, as mães das crianças com recusa alimentar devem buscar apoio para compreender suas emoções na hora de alimentar os filhos, para aliviar a culpa e a frustração que normalmente sentem por conta disso. Forçar a criança a comer ou o contrário, deixá-la sem se alimentar definitivamente não resolve – ou até piora a situação. Pois quando a mesa se transforma em um campo de batalha, perde-se o real sentido da refeição, que vai muito além de nutrir.

  • Patrícia Junqueira

    Fonoaudióloga há 25 anos e Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela Unifesp. Mãe do Felipe e do Tiago, ela idealizou e criou o Instituto de Desenvolvimento Infantil para atuar e divulgar seu olhar integrado para o desenvolvimento e necessidades fonoaudiológicas de bebês e crianças

Data da postagem: 11 de fevereiro de 2016

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