É preciso evitar alimentos que podem causar alergia?


Isabel Malzoni
por: Isabel Malzoni

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Entre os alimentos de maior potencial alergênico estão o leite de vaca, ovo e trigo (Foto: 123RF) 

Nos primeiros anos de vida, alimentos de maior potencial alergênico, como leite de vaca, peixes e frutos do mar, trigo e ovo, costumam ser “proibidos” no cardápio dos pequenos. Há quem passe longe desses alimentos desde a gravidez e/ou durante a amamentação com o mesmo objetivo, ou seja, evitar que a criança apresente alguma reação alérgica ao entrar em contato com eles. O cuidado pode parecer exagerado, mas não é à toa: essas restrições foram por muito tempo recomendadas oficialmente em diversos países, incluindo o Brasil. Foi só na última década que se passou a questionar o quão eficaz seria a prática – e estudos têm mostrado sucessivamente que não, não adianta restringir a alimentação para prevenir a alergia. Em 2008, a Academia Americana de Pediatria mudou sua recomendação oficial nesse sentido. Ou seja, gestantes e lactantes estão liberadas para comer tudo que é saudável, assim como crianças a partir de 6 meses, incluindo leite, ovos, trigo e peixes. Ainda bem, porque novas pesquisas têm mostrado que evitá-los até mesmo piorar a situação.

Um estudo publicado no ano passado pelo The New England Journal of Medicine, por exemplo, apontou esse surpreendente resultado: crianças expostas desde cedo (entre 4 e 11 meses) ao amendoim desenvolvem muito menos alergia a esse tipo de oleaginosa do que aqueles que não tiveram contato com o alimento. A pesquisa acompanhou 640 crianças por 5 anos. Ao final desse período, apenas 3% das crianças que comeram amendoim desde cedo desenvolveram alergia a ele, número que chegou a 17% no grupo que se absteve do alimento nos cinco primeiros anos de vida. O que é mais intrigante ainda é que, antes mesmo do início do estudo começar, já se sabia que 15% do total das crianças tinham pré-disposição à alergia do amendoim.

No entanto, o efeito benéfico de não retardar a introdução de alguns alimentos na dieta do bebê está comprovado cientificamente apenas no caso do amendoim e do trigo, explica a pediatra e alergista Ana Paula Moschione Castro, diretora da ASBAI (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia). “É de se esperar que essa hipótese funcione para outros alimentos, mas são necessários mais estudos para confirmar. A lógica é que quanto mais nova a criança, mais imaturo o sistema imunológico e, portanto, menos preparado para desenvolver a alergia”, explica Ana Paula. Isso porque a alergia é uma doença imunológica na qual o corpo entende e ataca como inimigo algo que não é, como alguns alimentos. A médica ressalta, no entanto, que existem controvérsias sobre o momento certo de introduzir ou não tais ingredientes com potencial alergênico. “Há pediatras que continuam aconselhando retardar a apresentação de alguns alimentos, especialmente no caso de crianças com alto risco de ter alergia (como aquelas com histórico familiar)”, afirma.

Como prevenir as alergias alimentares

Para piorar, a incidência das alergias alimentares só aumenta – nos EUA, por exemplo, um estudo da Universidade de Northwestern demonstrou que houve um crescimento de 30% no número de internações e consultas hospitalares infantis em decorrência de crises alérgicas causadas por alimentos. “O que atribuímos , além da genética, à epigenética, ou seja, nosso estilo de vida, a vida nas cidades, os ambientes mais limpos, e por aí vai”, afirma a pediatra Kelly Oliveira, autora do blog Pediatria Descomplicada. Como a alergia ao leite, que costuma ser bem precoce e sumir naturalmente quando a criança chega aos dois anos, mas que, de um tempo para cá tem se estendido em alguns casos.

O fato é que sabemos mais sobre o que não adianta fazer do que sobre o que é realmente eficaz, acredita Ana Paula, da ASBAI. Ela destaca que mais estudos sobre a introdução precoce de alguns alimentos na dieta da criança estão sendo feitos. “Mas ressalto que estamos falando de uma introdução controlada, com dosagens e frequências específicas, como se fosse um remédio. Não é para ninguém sair dando ovo e leite para bebês de 4 meses sem orientação”. Veja a seguir algumas constatações divulgadas pela ASBAI no que diz respeito à prevenção das alergias alimentares.

Não funciona, do ponto de vista da redução da probabilidade de o bebê desenvolver alergias alimentares:

  • Restringir a alimentação da gestante;
  • Evitar alimentos alergênicos durante a amamentação;
  • Adiar a introdução de determinados alimentos na dieta do bebê.

São fatores que influenciam o aparecimento de alergias em crianças:

  • Genética: filhos e irmãos de pessoas alérgicas têm mais chance de ter alergias;
  • Tipo de parto: crianças nascidas de parto normal têm menor incidência de alergia;
  • Amamentação: já é bastante conhecido que crianças amamentadas por pelo menos seis meses ou mais são menos suscetíveis;
  • Alimentação da gestante: grávidas com dieta pobre em ácidos graxos e vitamina D podem gerar bebês mais alérgicos.
  • Ausência de flora intestinal adequada da mãe.

 

 

  • Isabel Malzoni

    É jornalista e sócia da Editora Caixote, que publica livros infantis interativos, como Pequenos Grandes Contos de Verdade, finalista do Prêmio Jabuti. Mãe de Diego, divide-se entre os cuidados com o bebê, descobertas culinárias e muitos, muitos textos Isabel Malzoni é

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