Novas escolas prometem formar cidadãos globais: o que isso significa?


Débora Lublinski
por: Débora Lublinski

O foco agora está no aprendizado, o que é diferente de ensino, pois o aluno encontra suas próprias respostas (Foto: Freeimages)

Educar nossas crianças para um futuro que ainda não podemos desenhar não é uma tarefa simples. Como prepará-las para carreiras que ainda sequer existem? Qual o conhecimento será fundamental para trabalhar, se relacionar, ter independência e êxito daqui a 20 anos? Quais serão os valores de uma sociedade pautada pela tecnologia? Com base nessas hipóteses, chegam a São Paulo duas novas escolas que prometem formar cidadãos globais. Em um primeiro momento, a Avenues: The World School, que funcionará na Avenida Cidade Jardim, e a Escola Internacional de São Paulo, com sede em um prédio tombado em Higienópolis, têm em comum a proposta da imersão na língua inglesa. Ambas acreditam que percorrer toda a trajetória escolar em um segundo idioma é uma ferramenta essencial para ter sucesso no mundo globalizado. Em uma rápida leitura, isso significa resultado efetivo na aquisição do inglês, o que abriria portas para o contato e troca constante com estudantes do exterior, para a entrada em universidades internacionais assim como o ingresso no competitivo mercado de trabalho. Mas não é só isso.

Formar alunos que estejam preparados para lidar com esse futuro pouco tem a ver com a escola tradicional que conhecemos hoje. Esqueça as decorebas, os ditados, a chamada oral e os exercícios de caligrafia. “Uma metodologia ativa, na qual a criança é protagonista do seu próprio aprendizado, capaz de autodesenvolver-se, traduz melhor o que se espera de uma escola do século XXI”, acredita Neide Noffs, diretora da Faculdade de Educação da PUC de São Paulo. Na prática, a criança é desafiada o tempo todo a elaborar questionamentos e encontrar, de forma criativa e percorrendo diferentes caminhos, suas soluções. “A proposta central é valorizar mais o aprendizado do que o ensino, que são os conteúdos simplesmente transmitidos pelo professor. O conhecimento deve ser incorporado ao aluno e não apenas colado a ele, o que, inevitavelmente, desgrudará dele no decorrer do tempo”, explica a educadora.

Na escola Avenues, por exemplo, a implementação do World Course, da educação infantil ao ensino médio, tem como o objetivo unir diferentes áreas do saber para confrontar e solucionar desafios do mundo atual. Em vez de matérias, como História, Geografia e Ciências, serem ensinadas de forma isolada, os conceitos interdisciplinares se somam para que os alunos pensem de forma abrangente, levando sempre em consideração questões éticas e diferenças culturais e aprimorando suas habilidades socioemocionais, como tolerância, paciência e respeito à diversidade.

Com uma infraestrutura que favorece toda essa interação (incluindo gadgets eletrônicos, como ipad e notebook, para cada um dos alunos), é fato que são poucas as famílias que podem bancar a mensalidade dessas novas instituições. Ainda assim, dá para encontrar outras escolas, mais acessíveis, que acreditam e oferecem em uma proposta pedagógica fundamentada na metodologia ativa e que compartilham dos mesmos valores e ideais para a formação do aluno global.

Já que não temos bola de cristal, podemos apenas projetar o futuro dos nossos filhos a partir do presente, do que já conhecemos, dando a eles ferramentas para construir um mundo com uma possibilidade de interação jamais vista. Mas também com a responsabilidade de assegurar um lugar mais igualitário, ético e justo para se viver. Em casa, também é papel dos pais introduzir alguns desses princípios e estimular comportamentos, como estes seis que enumeramos logo abaixo, que habilitam as crianças a chegar, com competência, à vida adulta.

1) Respeito a individualidade

Cada criança tem um ritmo e uma habilidade particular para compreender o mesmo conteúdo. Por isso, não dá para padronizar o jeito de ensinar tal matéria, acreditando que todos os alunos irão acompanhar o professor da mesma maneira (e aqueles que não acompanham são considerados menos inteligentes ou até relapsos!). Muitos estudos também provam que, quando há curiosidade e paixão por um determinado assunto, o aprendizado é mais eficiente. Por que não lançar mão dos temas do interesse das próprias crianças para transmitir conhecimento?

2) Foco no aprendizado

Como já falamos acima, o aprendizado é diferente do ensino, uma vez que é o aluno que elabora questionamentos e encontra suas soluções. A figura do professor deixa de ser apenas o “transmissor do conhecimento” para agir mais como um mediador, ajudando as crianças a conceberem diferentes visões e, portanto, encontrar mais de uma resposta possível para o mesmo assunto. Para isso acontecer, as matérias não devem ser ensinadas de forma isolada, há um trabalho interdisciplinar que, em muitas escolas, acontece como um projeto criado a partir das perguntas das próprias crianças.

3) Conhecimento do mundo

Com a internet e as redes sociais, deixar a criança à margem do que está acontecendo fora do seu contexto já não é mais possível. Elas já vivem essa interação e inserção no mundo no seu dia a dia, seja assistindo seu youtuber preferido ou aderindo à modinha da vez. A escola deve trazer para a sala de aula essa realidade e explorar conteúdos que não estão previstos no currículo clássico. O oposto também é salutar: ampliar os limites da escola e levar os alunos para a “vida real” onde a criança possa incorporar aprendizados de forma prática e ser inserida em determinados contextos antes mesmo da vida adulta (e, portanto, estar melhor preparada para enfrentá-los).

4) Instrumentalização da tecnologia

Impossível negar a importância da tecnologia na formação de nossos filhos. Em vez de proibir, cabe a escola (e aos pais também) instrumentalizar o uso do celular, do ipad e do computador como ferramenta de pesquisa e de coleta e avaliação de dados. As novas escolas vão além: apostam em disciplinas como ciência da computação e programação. O objetivo é se aproximar dessa linguagem do futuro e saber operar a tecnologia de forma produtiva.

5) Licença para errar

Como protagonista do seu aprendizado, espera-se que o aluno crie hipóteses para as mais variadas problemáticas e, assim, aprenda com os possíveis erros durante essa investigação. O erro não é objeto de crítica ou condenação. Pelo contrário: deve criar a oportunidade para o aluno lidar com o fracasso e saber superá-lo a ponto de se sentir competente para enfrentar qualquer desafio.

6) Incentivo à pluralidade de ideias

Interagir com alunos de outros países não beneficia apenas o aprendizado de um segundo idioma. O contato com outras culturas e formas de pensar e de agir amplia a visão de mundo e revela que determinado tema pode ser abordado e compreendido a partir de perspectivas distintas. Essa conduta pode e deve ser praticada também dentro da classe, sem o contato com crianças estrangeiras. O professor (e, mais uma vez, os pais) devem valorizar diferentes correntes e trazer a diversidade para o centro da discussão. Aceitar e compreender que existem caminhos alternativos não ensina apenas respeito e humildade mas também desenvolve confiança, autonomia, pensamento crítico e criatividade, competências essenciais para vivenciar desafios na vida real.

  • Débora Lublinski

    Jornalista e mãe da Marina, Débora Lublinski trabalhou por 15 anos em revista feminina cobrindo beleza, saúde e bem-estar. Mas não vive apenas de glamour e sabe bem o malabarismo que é se cuidar sem descuidar dos filhos, da casa, do casamento e da carreira

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