Como falar de política com as crianças


Natália Folloni
por: Natália Folloni
Nossa repórter adora crianças e acredita que uma mulher tem o direito de ser imperfeita sem deixar de ser uma boa mãe.

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Você precisa levar em conta por que seu filho trouxe o assunto à tona (Foto: 123RF)

Falar de política com as crianças é algo extremamente delicado, já que requer muito cuidado com as palavras durante a explicação do tema – ainda mais se considerarmos o atual momento político do Brasil. Então, como fazer com que o seu filho entenda as diferentes esferas de poder e, ao mesmo tempo, respeite aqueles que pensam diferente da sua família?

A advogada Marina Torres Habe (38), mãe da Luísa (7) e da Paola (1), conta usa exemplos do dia a dia para facilitar a conversa. “Sempre falamos sobre isso com a Luísa de maneira ampla, abordando questões sobre direitos e deveres nossos e dos que nos representam. Tratamos do assunto quando ela nos pergunta sobre questões simples do cotidiano, do tipo ‘de quem é a culpa por nossa rua ter tantos buracos?’, bem como assuntos mais complexos e específicos, como quando ela nos questiona para que serve uma eleição ou o que significa impeachment”, diz Marina. “Acho muito importante discutir política em casa, de maneira leve e instrutiva. Hoje em dia, as crianças têm acesso muito rápido às informações e, o quanto antes entenderem conceitos básicos de civilidade, política e moral, maiores as chances de elaborarem as informações que recebem, utilizando-as de maneira mais sábia no futuro”, completa. Na medida do possível, ela procura ensinar a filha de que toda história tem dois lados e de que, sim, toda opinião deve ser respeitada. “Em tempos de liberdade de expressão, a intolerância e os discursos de ódio estão cada vez mais presentes. Tentamos mostrar para a Luísa que esse não é o melhor caminho, explicando que é importante se posicionar e defender o que acredita, mas sempre dentro dos limites do respeito e do bom senso”, conclui.

A postura política depende muito dos valores dos pais, que acabam passando suas ideologias obviamente. Mas é claro que ela também recebe influências de outras pessoas. “O papel da escola, nesse contexto, é ensinar a criança a pensar e a compreender o conceito de ideologias políticas”, diz Quezia Bombonatto, diretora da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). Se a criança for muito pequena, ela destaca que os pais devem evitar termos mais complicados – como o significado de ideologia. Segundo Quezia, em casa, o melhor é se ater à função da política e de cada cargo, por exemplo. Além de apresentar essas funções e, depois, os regimes, seguindo sempre o vocabulário da criança. Para a educadora, ainda que algumas famílias não se interessem pelo tema, é essencial conversar sobre o que está acontecendo no momento, principalmente em ano eleitoral, ou quando algum fato histórico acontece. É preciso também ter a consciência de que, se a criança não discutir essas questões em casa, ela provavelmente ouvirá de coleguinhas ou acabará vendo na televisão. “Os pais têm ver qual a dúvida do filho e por que ele está perguntando sobre isso. Mesmo que a família não tenha interesse, ela deve estimular que a criança busque por vontade própria esse conhecimento”, comenta.

Uma ótima fonte de conhecimento, não só nesse, mas em quaisquer outros casos, é claro, é a literatura. A coleção Livros para o Amanhã inaugurou, em setembro de 2015, o selo infantil da Boitempo Editorial, e inclui quatro volumes de livros que abordam temas como democracia, ditadura, classes sociais e gênero. Thaisa Burani, editora da Boitatá, conta que a coleção serve de guia para pais e professores, graças ao conteúdo informativo dos livros. “Vimos que muitos pais queriam conversar sobre esses temas políticos (até pela situação de crise no país), mas não sabiam muito bem por onde começar, ou até onde os filhos iriam entender. E agora estamos recebendo um feedback muito positivo”, comenta ela. Recentemente, Thaisa traduziu dois livros infantis da escritora espanhola Olga de Dios, que englobam temas como cidadania e tolerância – o primeiro, Monstro Rosa, e o segundo, Pássaro Amarelo.

Imagem Monstro Rosa

Monstro Rosa, Boitatá (foto: divulgação)

Monstro Rosa conta a história de um monstrinho gordo, de cor diferente e estabanado, que, por sentir-se desajustado e rejeitado, decide procurar outro lugar para viver. O livro fala sobre o valor das diferenças e sobre o respeito à diversidade. Já, Pássaro Amarelo, narra a trama de um pássaro com muitos amigos e asas tão curtas que o impedem de voar e desbravar o mundo, assim como faz o restante de seus amigos. O personagem decide, então, construir uma máquina que o ajude a realizar esse seu sonho. Esta história aborda temas como deficiência física e a importância da coletividade. Thaisa afirma que ambos os livros de Olga de Dios também tratam de questões políticas, se a entendermos como nossa prática cotidiana e cidadã. “Um detalhe que eu particularmente acho muito bonito é que ambos os livros terminam no mesmo lugar. Isto é, numa terra cheia de cor, de harmonia e de diversidade, onde todos são amigos e se ajudam mutuamente. É uma espécie de utopia política que todos nós temos, não?”, complementa.

Imagem Pássaro Amarelo

Pássaro Amarelo, Boitatá (foto: divulgação)

  • Natália Folloni

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