5 mitos sobre o cantinho do pensamento – e uma alternativa que vai ajudar você nas momentos de birra
Em vez de colocar a criança para pensar - que, não, não funciona e você vai saber por quê - a ideia é criar um momento para a pausa positiva. Saiba o que é isso e o que esperar dessa mudança de atitude
(foto: 123 TRF)
A criança fez birra, se comportou mal, mentiu, bateu, não obedeceu. E, para ensiná-la que tais comportamentos não são adequados, muitos pais e professores usam o “Cantinho do Pensamento”. A expectativa desses adultos é que a criança fique sentada em um banquinho, sozinha, pensando na atitude errada que teve! Antigamente era bem pior e usavam recursos como ajoelhar no milho ou ficar de costas no canto da sala com um chapéu de burro na cabeça. Atualmente alguns pais acham que estão sendo mais “bonzinhos” por deixarem a criança trancada no quarto até que ela se acalme.
Mas será que isso funciona mesmo? No texto de hoje, quero falar com você sobre alguns mitos e verdades sobre o cantinho do pensamento e por que não sou a favor dele!
O Dr. Daniel Siegel, autor de diversos livros, entre eles “O cérebro da criança”, explica o que acontece quando sentimos raiva, medo, estresse, frustração e outras emoções desagradáveis. Ele diz que ocorre um bloqueio entre as partes emocional e racional do cérebro. Quando somos invadidos por tais sentimentos e não conseguimos processar as informações direito, pois o acesso à parte pensante fica bloqueado.
Atire a primeira pedra quem nunca disse ou fez alguma coisa quando estava na fúria e depois se arrependeu horrores!!
Acontece que as crianças ainda não têm a parte racional do cérebro totalmente madura, o que faz com que sejam mais emocionais e tenham mais dificuldade de manter o autocontrole e se acalmar. Sendo assim, o nosso papel enquanto educadores é ajudá-las a desenvolver suas habilidades socioemocionais – autocontrole, pensar antes de agir, resolução de problemas, empatia, dentre outras. Sob a perspectiva da Disciplina Positiva, não queremos apenas que as crianças parem o mau comportamento. Queremos que elas tenham um desenvolvimento saudável e se tornem adultos confiantes, capazes, com habilidades de vida e um bom caráter.
Vamos aos mitos e verdades:
MITO 1- A criança vai ficar ali pensando no que fez de errado para que aprenda a se comportar melhor. Vai pensar coisas do tipo “Poxa vida, meu pai tem razão. Eu não deveria ter batido do meu irmão”; “É, realmente minha mãe está certa. Preciso mesmo obedecê-la mais”.
A verdade é que a criança está lá pensando em qualquer outra coisa, menos no que ela fez! Ela pode estar pensando “Ele vai ver só, vou me vingar por ter me deixado aqui”; “Como é que eu faço para não ser pego da próxima vez?!”; “Eu sou mesmo uma criança má e só faço coisa errada”. Além do mais, estamos ensinando que pensar é algo ruim e punitivo!
MITO 2- Adultos deixam a criança no cantinho do pensamento para que ela sofra e sinta falta de estar com o grupo e brincar. Será que é isso que acontece?
Alguns acreditam que isolar a criança é uma excelente maneira de ensiná-la a se comportar melhor, mas a verdade é que, ao menos que a criança esteja viciada em aprovação, ela não se sentirá motivada a melhorar seu comportamento. Ninguém age melhor ao se sentir pior!
MITO 3- Usar o cantinho do pensamento é melhor do que dar umas palmadas. Será mesmo?
Muitos pensam assim, porque só levam em consideração a violência e dor física, porém a dor e o sofrimento emocional causado pela humilhação e vergonha que a criança sente podem ser muito mais prejudiciais para o seu desenvolvimento saudável e senso de autovalor.
MITO 4- A criança tem que ficar no cantinho por 1 minuto para cada ano de vida.
A verdade é que não existe nenhum estudo sobre esse tempo e, muito provavelmente, foi criado apenas para que essa punição causasse somente o sofrimento necessário para a criança aprender a lição.
MITO 5- Mandar a criança para o cantinho é uma forma de fazer com que ela se acalme.
Esse é um grande mito porque o que acontece geralmente é que mandamos a criança pra lá quando nós, adultos, estamos irritados e sem saber o que fazer e, ao invés de assumirmos que não sabemos como lidar com o mau comportamento, culpamos a criança por agir assim. A criança frequentemente resiste a esse comando e o que acaba acontecendo é uma grande disputa de poder.
Se o cantinho do pensamento não resolve, o que fazer?
Trocar pelo Cantinho da Pausa Positiva.
Na Disciplina Positiva – e a partir dos recentes estudos sobre como o cérebro funciona – nós acreditamos, sim, que precisamos de um tempo para se acalmar e resgatar a parte pensante do cérebro, por isso usamos a Pausa Positiva.
Minhas sugestão é criar em casa um espaço para ser “cantinho da pausa positiva”. Pode ser um lugar acolhedor e aconchegante, com objetos e materiais que ajudem a criança a expressar seus sentimentos e se sentir melhor. Um quarto, cantinho embaixo da escada (como uma mãe que atendo fez)… não importa. A ideia é ter nesse lugar ferramentas que ajudem a acalmar. Pode ter massinha de modelar, plástico bolha, lápis e papel, livros, música, almofadas, ursinhos… Vale dizer que o cantinho funciona para pequenos a partir de 3 anos, que já têm um entendimento melhor.
Monte esse espaço junto com a criança, num momento de tranquilidade. E diga que essa vai ser o lugar onde toda a família poderá ir para se sentir melhor, se acalmar. Recomendo que os pais também usem o cantinho quando estiverem estressados. Afinal, o exemplo é a melhor maneira de incentivar a criança a ter um determinado comportamento. Quando os adultos modelam comportamento de autocontrole, pedem um tempo para se acalmar antes de continuar com a situação estressante e conseguem lidar com suas próprias emoções, as crianças aprendem a fazer o mesmo. Jane Nelsen, precursora da Disciplina Positiva disse: “Queremos que as crianças controlem seus sentimentos quando na verdade nem os adultos conseguem fazer isso”. Então, que tal começar?
O cantinho da pausa positiva na prática: a criança fez birra, manha, armou um escândalo? Sugira a ela que vá para o cantinho da pausa para se acalmar e diga que depois, quando ela estiver calma, que vocês podem conversar e encontrar uma solução. A ideia é esperar que a criança se acalme para dizer que o que ela fez que não foi legal ou resolver a situação de outra maneira. Para conduzir essa conversa, há muitas dicas no post que fiz sobre a adolescência da primeira infância.
E quando a birra é fora de casa? Um jeito de ajudar a crianças a se acalmar é usando o pote da calma, conhece? Aqui tem dicas de como fazer um – e depoimentos de mães que testaram e aprovaram.
Sejamos a mudança que queremos ver em nossas famílias!
Com carinho,
Aline Cestaroli
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